Embora tenham comparecido ao café da manhã mais de 20 senadores, porém, as ausências foram mais sentidas que as presenças. Para começar, somente sete dos 17 senadores peemedebistas aceitaram o convite para trocar ideias com Lula sobre a conjuntura política e econômica. O fato é relevante por uma razão muito simples: o apoio do PMDB, partido de maior bancada na Câmara e no Senado, é fundamental para dar condições mínimas de governabilidade à presidente Dilma Rousseff. E foi exatamente o PMDB do Senado que evitou que o caldo entornasse de vez pro lado do governo nos últimos meses, diminuindo derrotas impostas na Casa ao lado sob o comando do seu presidente, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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Nem mesmo Jader Barbalho (PA) e Sandra Braga (AM), que têm respectivamente um filho e o marido ocupando cargo de ministro, passaram pela QL 12 do Lago Sul, onde fica a residência oficial do presidente do Senado. O líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), esteve por lá rapidamente – assim como Romero Jucá (RR). Outro peso pesado da legenda, Valdir Raupp (RO), primeiro vice presidente do partido, não apareceu e alegou compromissos particulares. Mas a ausência de um ex-senador talvez tenha sido a que mais doeu no principal líder petista. Convidado na véspera, o ex-presidente José Sarney, ainda uma figura de grande influência no PMDB e no Senado, era aguardado até o último instante. Mas só falou com Lula por telefone, no final da reunião. Segundo testemunhas, foi uma conversa curta e fria.
Para piorar, Lula enfrentou o constrangimento de não conseguir falar nem por telefone com o vice-presidente da República, Michel Temer, que neste sábado deverá ser reeleito presidente nacional do PMDB. “Ele está viajando, não está podendo atender”, tentava aliviar Renan, procurando diminuir o mal-estar.
No lugar de piadas, tensão
Participantes do café da manhã, que durou perto de três horas, encontraram um Lula bem diferente do político bem-humorado com o qual se acostumaram a conviver. Em vez das habituais piadas, ele exibia tensão e impaciência. Cinco dias após ter sido levado para depor na Operação Lava Jato com uso de força policial, o ex-presidente reiterou que não é proprietário do apartamento no Guarujá e do sítio em Atibaia, ambos brindados com obras de elevado valor feitas por empreiteiras envolvidas em corrupção na Petrobras.
Ao comentar a questão, cometeu uma frase que logo desencadearia uma ruidosa polêmica nas redes sociais, com as costumeiras trocas de ofensas entre lulistas fanáticos e antipetistas raivosos. “Se me prenderem, viro herói. Se me matarem, viro mártir. Se me deixarem vivo, viro presidente de novo”, disse ele.
Também não se sensibilizou com a proposta do senador Roberto Requião (PMDB-PR) de ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores. Descartou categoricamente a possibilidade de se tornar ministro de Dilma, como forma de sair do raio de ação da força-tarefa chefiada em Curitiba pelo juiz federal Sérgio Moro. E, por diversas vezes, mostrou-se impaciente com Dilma.
O ex-presidente afirma que ela não lhe ouve. Foi com essa explicação que tirou a esperança de quem apresentou ideias para uma possível reação do Palácio do Planalto acreditando que Lula poderia encampá-las.
Entre as sugestões, a defesa – endossada por vários senadores – da volta ao governo do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, visto por alguns como uma opção para o lugar do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
O PMDB e o impeachment
Lula chegou à residência oficial do Senado com dois objetivos principais em mente: garantir a permanência do PMDB na base governista e reduzir os riscos do impeachment presidencial.
Como os peemedebistas eram minoria na conversa, a discussão pouco caminhou em relação a essas duas questões. Ao contrário. Parlamentares deixaram a residencia oficial do Senado com a nítida sensação de que o desembarque do PMDB está em pleno andamento e que poderá ser consumado neste sábado (12), com uma curiosa declaração de independência.
O partido poderia se dizer independente do Palácio do Planalto, mas sem entregar os seus seis ministérios. Enquanto isso, nos bastidores, vai ajudando Temer – que assume a presidência, na hipótese de afastamento de Dilma – a montar um governo de coalizão.
Sintomaticamente, Renan e Temer, que andaram às turras até recentemente, se reconciliaram e decidiram compor chapa única para a renovação da Comissão Executiva Nacional do partido. Em vez de enfrentar Temer, como chegou a ameaçar, Renan Calheiros deverá ser eleito o primeiro-vice-presidente da agremiação. Ou seja: se Michel Temer ocupar o lugar de Dilma Rousseff, será ele o presidente nacional do PMDB.
Uso das reservas cambiais
Uma das críticas feitas a Dilma durante o café da manhã partiu de Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da poderosa Comissão Mista de Orçamento. Apoiada pelos demais, ela não se conformava com o erro cometido na escolha do ministro da Justiça, desconhecendo a impossibilidade de nomear membro do Ministério Público para cargo no Executivo, conforme o Supremo reafirmou nesta quarta-feira.
A economia, no entanto, foi o tema predominante durante o encontro. Lula ouviu atentamente vários parlamentares se manifestarem contra o desempenho de Nelson Barbosa, que estaria, segundo eles, repetindo a fracassada estratégia do seu antecessor, Joaquim Levy. O diagnóstico da maioria é que o arrocho fiscal e monetário imposto no segundo mandato de Dilma aprofunda a recessão e o desemprego, agravando as dificuldades políticas.
“O senhor enfrentou o mensalão e depois foi reeleito. A crise moral não abalou seu governo porque a economia estava bem”, afirmou Otto Alencar (PSD-BA), contrastando o cenário de 2005/2006 com o que se vê no país nos últimos dois anos. Inflação e desemprego em alta, junto com recessão e baixa credibilidade, tudo isso temperado pela sucessão de notícias desfavoráveis geradas pela Lava Jato, compõem um cenário insustentável, argumentaram diversos senadores.
Muitos deles defenderam a utilização das reservas cambiais (hoje ao redor de US$ 370 bilhões) e do compulsório dos bancos para financiar empresas a juros módicos e fazer a economia se movimentar. Os recursos poderiam, pela via do fundo soberano, ser destinados tanto à retomada de obras públicas – sobretudo no setor de infraestrutura – quanto à ampliação do crédito para investimentos privados.
Participantes
Participaram da reunião:
Pelo PT, Fátima Bezerra (RN), Gleisi Hoffmann (PR), Humberto Costa (PE), Jorge Viana (AC), José Pimentel (CE), Lindbergh Farias (RJ), Paulo Paim (RS), Paulo Rocha (PA), Regina Sousa (PI); Walter Pinheiro (BA) não compareceu.
Pelo PMDB, Edison Lobão (MA), Eunício Oliveira (CE), João Alberto (MA), Renan Calheiros (AL), Roberto Requião (PR), Romero Jucá (RR) e Rose de Freitas (ES).
E ainda Benedito de Lira (PP-AL), Hélio José (PMB-DF), Otto Alencar (PSD-BA), Telmário Mota (PDT-RR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
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