Segundo a coluna, Cunha disse a um parlamentar próximo que já chegou ao seu limite de resistência na prisão. Ameaçando fazer uma delação premiada, o ex-deputado avisou ter material para “explodir” o mundo empresarial – “a começar por gigantes do setor de carne, já abalados pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no último mês”, registra o texto.
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Na contramão do fato, advogados de Cunha continuam negando que o cliente esteja disposto a detalhar esquemas de corrupção que pode ter presenciado em mais de três décadas de vida pública. Experiente e figura antes influente na política nacional – ao menos há até meados do ano passado, quando foi apeado da Presidência da Câmara –, o político fluminense incomoda especialmente a cúpula do Palácio do Planalto, devido à proximidade que tinha com o presidente Michel Temer, presidente nacional licenciado do PMDB.
“Quem acompanha de perto os desdobramentos da Lava Jato acredita que Cunha seguirá o exemplo de Duda Mendonça e tentará fechar acordo de colaboração com a PF, e não com os procuradores. Dizem ainda que ele e o corretor Lúcio Funaro, também preso, jogam juntos”, diz o texto assinado pela repórter Daniela Lima, colunista da Folha.
“Michel é Cunha”
O deputado cassado prometeu escrever um livro na prisão sobre os anos em que gozou de poder político. Como este site mostrou em setembro do ano passado, no dia da cassação de seu mandato parlamentar, Cunha dizia estar procurando uma editora para publicar seu livro. Segundo o peemedebista, as páginas da publicação trarão os bastidores do processo de impeachment de Dilma. “O governo patrocinou a eleição de Rodrigo Maia [DEM-RJ, atual presidente da Câmara] com a pauta da minha cassação. Vou revelar todos os diálogos que tive à medida que for me lembrando. A sociedade merece conhecer toda a verdade”, ameaçou Cunha.
Para investigadores da Lava Jato, Cunha era uma das figuras centrais em diversos esquemas de corrupção e estava por trás das tentativas de barrar a Operação Lava Jato, justamente por ter sido um dos beneficiários do petrolão. Para a força-tarefa da operação, a atuação de Cunha nos bastidores ficou clara com a divulgação, em maio de 2016, do diálogo em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR), então ministro do Planejamento, defendia a troca do governo Dilma Rousseff pelo de Michel Temer e um pacto para “estancar a sangria” da Lava Jato.
Em um desses áudios, Jucá conversa com Sérgio Machado – ex-presidente da Transpetro que gravou diversos diálogos com peemedebistas, durante processo de acordo com a Justiça – e se queixa da postura do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) em relação ao impeachment e ao mencionado “acordão”. Nesse ponto da conversa, Jucá faz menção à natureza da relação entre Temer e Cunha. “Só o Renan que está contra a essa porra, porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha. Cunha está morto, morto, porra!”, reclamou Jucá.
Sergio Machado complementa Jucá, assentindo: “É um acordo, botar o Michel [na Presidência], num grande acordo nacional”. O senador arremata: “Com o Supremo [Tribunal Federal], com tudo”. Tal diálogo foi gravado, segundo as investigações da Lava Jato, em março de 2016, quando o ex-presidente da Transpetro reunia provas para justificar um acordo de delação premiada. Em 25 de maio de 2016, a colaboração judicial de Machado foi homologada pelo então ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF morto em 19 de janeiro, no litoral fluminense, em um desastre aéreo.
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