Condenado a mais de 15 anos de prisão, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB) diz em depoimento prestado nesta segunda-feira (6) que não se lembra de pagamento de propina para o presidente Michel Temer – que, a exemplo de Cunha, é investigado na Operação Lava Jato e foi apontado como membro do chamado “quadrilhão do PMDB”. Contrariando o que o próprio Cunha já havia sinalizado em relação a Temer, as declarações do ex-deputado (veja trecho no vídeo abaixo) são um contraponto ao depoimento de Lúcio Funaro, operador do PMDB em esquemas de corrupção. Em mais de uma ocasião, Funaro diz que o presidente recebeu e negociou propina e que Cunha – com quem é acusado de atuar em desvios na Caixa Econômica, por exemplo –era uma espécie de “banco de corrupção de políticos”.
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Na semana passada, Funaro disse ter presenciado repasse de R$ 2,5 milhões do Grupo Bertin, por orientação de Cunha, para a campanha de Temer à Vice-Presidência da República, em 2010. O dinheiro, segundo o delator, foi pago por meio de doação oficial ao PMDB, depois de acerto firmado em um hotel de São Paulo. Ainda segundo Funaro, o dinheiro também beneficiou um dos principais aliados de Temer no Palácio do Planalto, Wellington Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), também investigado no quadrilhão do PMDB.
Publicidade“O Funaro nunca teve acesso ao presidente Michel Temer”, diz o ex-deputado peemedebista, com ressalvas em relação ao ministro. “Se o Moreira Franco recebeu [propina] – e, em se tratando de Moreira Franco, eu até não duvido… Mas não foi das minhas mãos.”
Mas, a despeito do que transparece como uma defesa de Temer, que conseguiu barrar na Câmara duas denúncias da PGR, o ex-deputado admite ter participado de um encontro entre Joesley Batista, dono da JBS e delator da Lava Jato, e Temer em 2012. A afirmação de Cunha foi feita quando o juiz que conduz o depoimento, Vallisney de Souza (10ª Vara Federal do Distrito Federal), apresentou-lhe perguntas sobre indícios de irregularidade no aporte de recursos do FI-FGTS para a empresa Eldorado Celulose, do Grupo J&F (controlador da JBS).
Assista a trecho do depoimento:
O ex-deputado também fala sobre o que motivou a primeira denúncia contra Temer, quando foi divulgada a conversa clandestina gravada por Joesley Batista com o presidente. Cunha nega que o encontro realizado em 7 de março entre Temer e Joesley, que gravou o diálogo, serviu para tratar da compra de seu silêncio e diz que foi algo montado com o aval do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para incriminar o presidente.
“Não existe essa história de dizer que eu estou em silêncio, ou que eu vendi o meu silêncio para não delatar. Eu atribuo isso […] para justificar uma denúncia que pegasse o mandato do Michel Temer. Esta é que é a verdade”, declara Cunha, referindo-se ao fato de que Joesley e seu irmão, Wesley Batista, estão presos por violação dos termos da delação premiada que haviam firmado com o Ministério Público Federal (MPF).
“Deram uma forjada e Joesley foi cúmplice. E, agora, está pagando o preço por isso”, acrescenta o ex-presidente da Câmara. Preso há mais de um ano, ele ainda aproveitou para fazer piada sobre seu caso, com alusão a uma propaganda de TV. “A delação que ele [Lúcio Funaro] faz agora está me transformando num Posto Ipiranga. Tudo é Eduardo Cunha.”
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