Fábio Góis
Ex-governador do Distrito Federal, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) vê uma mudança nos rumos das discussões políticas no Congresso. Segundo ele, a oposição, que tanto pregava a apuração de toda e qualquer denúncia contra o governo Lula, agora não quer levar para o Congresso as investigações que envolvem o governador José Roberto Arruda (DEM).
Cristovam está atrás de assinaturas para a instalação da CPI do Mensalão do Arruda, que pretende investigar um esquema de pagamento de mesada a parlamentares distritais e aliados do governador do Distrito Federal. Conseguiu apoio de apenas sete senadores até agora, muito pouco em relação às 27 assinaturas mínimas necessárias.
O pedetista afirma que o DEM, o PSDB e o PMDB, partidos envolvidos nas denúncias, dificultam a criação de uma comissão parlamentar de inquérito para aprofundar as investigações da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. As acusações ameaçam o cargo do governador do DF e de seu vice, Paulo Otávio (DEM).
O líder do DEM, José Agripino (RN), diz que não há motivo para a abertura de uma nova CPI no Congresso. “Os pedidos de impeachment, o processo de expulsão do partido, já estão implícitos nisso tudo. Tudo isso já é objeto de investigação. Não precisamos fazer o que já está sendo feito”, disse Agripino ao Congresso em Foco.
O senador potiguar nega que seu partido esteja em mobilização para impedir a instalação da CPI. “Pra quê? Para impedir uma coisa que já está em curso?”, questionou o senador potiguar, para quem o Senado só deve “fazer investigação daquilo que nos compete”. Ao ser perguntado se apoiava ou rejeitava a criação da CPI, Agripino foi enfático. “Sou a favor da expulsão do Arruda.”
Os vídeos divulgados até agora também respingam na cúpula peemedebista. O presidente da Câmara, Michel Temer (SP), o líder do partido na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), e os deputados Eduardo Cunha (RJ) e Tadeu Filippelli (DF) são citados no inquérito como beneficiários do esquema de mesada a aliados.
De acordo com o dialogo, R$ 800 mil mensais eram pagos a esses deputados em troca do apoio ao governador do DF. Os parlamentares negam veementemente qualquer relação com o caso.
Pivô das denúncias, o ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa acusa o PSDB de também participar do esquema de caixa dois. Segundo ele, quem atual pelos tucanos na coleta de propina e distribuição do dinheiro a aliados políticos foi o próprio presidente da legenda no DF, Márcio Machado. O PSDB deixou a base de apoio a Arruda logo após as primeiras denúncias.
Leia tudo sobre o escândalo
Para Cristovam Buarque, a Câmara Legislativa do DF, onde também tramita pedido de instalação de CPI, não tem isenção suficiente para conduzir os trabalhos investigativos, uma vez que Arruda conta com ampla maioria governista em seu favor. Além disso, pelo um terço dos deputados distritais aparece no inquérito entre os beneficiários da partilha de dinheiro público.
“Há dificuldade para conduzir uma CPI sobre os fatos noticiados pela imprensa se dez dos vinte e quatro integrantes da Casa, exatamente um terço do total, o presidente e o corregedor-geral inclusive, foram citados entre os envolvidos na operação policial”, diz justificativa do requerimento assinado por Cristovam e Mão Santa, com menção a Leonardo Prudente (DEM) e Júnior Brunelli (PSC), respectivamente, que não estão mais nos cargos.
Além de Cristovam, apenas sete senadores já assinaram o requerimento de criação do colegiado – o primeiro deles foi Mão Santa (PSC-PI), que, a exemplo do ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, adversário político de Arruda, deixou o PMDB para se filiar ao PSC. Segundo Cristovam, o esvaziamento do Senado na quinta e na sexta-feira impediu a coleta de assinaturas.
Autonomia
O senador do PDT aponta outro fator complicador entre seus pares. “Alguns estão dizendo que [investigar o mensalão no GDF] não é tarefa do Senado. Eles alegam que a Câmara Legislativa já pediu a instalação de uma CPI, e é uma unidade que tem autonomia”, disse Cristovam, acrescentando ser possível que legendas como DEM, PSDB e PMDB – este, o maior partido do Parlamento – se mobilizem para impedir a criação da CPI.
“Eles têm argumento. Eu não posso negar isso”, finalizou.
O senador pedetista reconhece as dificuldades de criar uma CPI no Senado para investigar uma instituição autônoma, mas diz que não vai desistir da idéia. Na movimentação da próxima semana, acredita, com mais senadores a executar seus compromissos legislativos, o trabalho de coleta de adesões continua.
O esquema de pagamento de deputados distritais pelo governo do DF foi revelado em vídeos e áudios da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. A ação da PF trouxe a público um esquema ilegal de repasse de dinheiro público, tendo como pivô o ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal Durval Barbosa (réu em mais de 30 processos e que aceitou fazer delação premiada). Assessores diretos de Arruda, que nega as acusações, foram afastados. O presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente (DEM), bem como o corregedor da instituição, Júnior Brunelli (PSC), pediram afastamento dos cargos.
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