Um dos criadores do Porta dos Fundos, o humorista Antonio Tabet publicou um desabafo em seu perfil no Facebook sobre o movimento de boicote contra um vídeo publicado pelo grupo no último sábado, quando o canal publicou o esquete “Delação”. “Esse revanchismo bobo só fomenta o ódio. Incentivar a censura ou a intolerância nada mais é que um recibo de que você pode ser tão fascista quanto os fascistas que critica. Sejam eles imperialistas americanos ou comunistas cubanos”, critica o ator.
No quadro, Fábio Porchat dá vida a um político que entrega seus comparsas em depoimento de delação premiada a um policial federal interpretado por Gregorio Duvivier. Sonolento, o policial ignora todas as citações de envolvimento de políticos do PSDB em casos de corrupção; mas desperta quando ouve menção a um prato de “arroz de lula”. Em seguida, pede para emitirem um mandado de prisão. Na sequência, o personagem da PF instiga o depoente até que ele diga que precisa “de uma panela” para cozinhar. “Dilma, Dilma? Olha, pode emitir outro mandado. Tá presa a comparsa dele também. Pode ir, volta para o Congresso”, determina o policial, sorridente.
Veja o vídeo:
Campanha nas redes sociais
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Desde sábado, o vídeo acumula mais de 3 milhões de visualizações. Até as 12h20, 213.234 usuários haviam aprovado o quadro humorístico. Outros 396.228 o haviam reprovado. Campanha nas redes sociais incentiva os internautas a rejeitarem o trabalho, sob o argumento de que os humoristas tomaram partido em favor de Dilma e desmoralizaram o trabalho da Polícia Federal.
“A Porta dos Fundos tem sido vítima, nas últimas horas, de uma campanha promovida por páginas ou sites de oposição ao governo (aqueles que os petistas gostam de chamar de ‘direita’ e que várias vezes já até compartilhei por aqui) para que as pessoas nos boicotem por conta do vídeo de ontem (anteontem, 2), Delação, que satiriza, com humor, o que as pessoas que defendem Dilma e companhia chamam de ‘justiçamento seletivo’. Pessoalmente, lamento tudo neste episódio. Absolutamente tudo”, diz Antonio Tabet.
PublicidadeO humorista ressalta que os integrantes do grupo têm posições políticas divergentes que devem ser respeitadas. “Quem me conhece sabe qual é a minha posição em relação ao atual governo e corruptos em geral. Minha posição, aliás, é compartilhada pela maioria dos meus colegas. Acho que a Polícia Federal faz um trabalho bastante competente, sou #TeamMoro e, nem por isso, acho que Cunha, Temer, Feliciano e outros políticos são menos piores que os que hoje gostaria de ver derrubados. Sou dos que acham que ‘justiçamento seletivo’ é querer poupar os bandidos de agora propondo uma fila para punir primeiro os bandidos desde a era Pedro Álvares Cabral”, escreveu.
Segundo ele, o desabafo foi motivado por seu apreço pela liberdade, pela democracia, pelo trabalho, pela justiça, pelo amor e pelo humor. “Agora deixa eu ir que já são 12h30 e preciso finalizar meu roteiro zoando a deputada petista Maria do Rosário. Aquele que o Gregorio aprovou”, conclui o texto, fazendo referência à deputada petista e ao integrante da trupe conhecido por suas posições políticas de esquerda e por seu discurso contrário ao impeachment.
Leia a íntegra da publicação de Antonio Tabet:
A Porta dos Fundos tem sido vítima, nas últimas horas, de uma campanha promovida por páginas ou sites de oposição ao governo (aqueles que os petistas gostam de chamar de “direita” e que várias vezes já até compartilhei por aqui) para que as pessoas nos boicotem por conta do vídeo de ontem, “Delação”, que satiriza, com humor, o que as pessoas que defendem Dilma e companhia chamam de “justiçamento seletivo”.
Pessoalmente, lamento tudo neste episódio. Absolutamente tudo.
Quem me conhece sabe qual é a minha posição em relação ao atual governo e corruptos em geral. Minha posição, aliás, é compartilhada pela maioria dos meus colegas. Acho que a Polícia Federal faz um trabalho bastante competente, sou #TeamMoro e, nem por isso, acho que Cunha, Temer, Feliciano e outros políticos são menos piores que os que hoje gostaria de ver derrubados. Sou dos que acham que “justiçamento seletivo” é querer poupar os bandidos de agora propondo uma fila para punir primeiro os bandidos desde a era Pedro Álvares Cabral.
Contudo, não abro mão da democracia e da liberdade. Acredito que todos têm o direito de se expressar. Inclusive aqueles de quem discordo e principalmente nos locais onde trabalho. Seja no Kibe Loco, seja no Flamengo, seja na Porta dos Fundos. Em todos esses lugares, como em todo o país, há opositores como eu, defensores como o Gregorio, isentões e loucos. Loucos que normalmente (ou não) acham que os loucos somos nós.
Cada um de nós no Porta tem uma posição política e cabe ao outro respeitá-la sem prejuízo da amizade que nos uniu. Isso é civilidade. E nós, como grupo, refletimos essa pluralidade no nosso trabalho quando existe mais de um lado da moeda, o que é saudável num país onde política é futebol, futebol é religião e religião é política. Evidente que jamais tacaríamos pedras em minorias oprimidas ou em injustiçados históricos. Sempre atiramos para cima. E em tempos quando cada um vê a parte de cima de um jeito, acabamos atirando em mais de uma direção.
O que mais me entristece nessa história é que vídeos como os dois “Reunião de Emergência” provam que não somos uma empresa com um pensamento singular. Diferente de quem acha coerente promover boicote cultural contra um grupo heterogêneo. Essa hipocrisia que busca nos desprestigiar, além de não ter sucesso no fim das contas, é tão idiota quanto o tal “Dia sem Globo”.
Quer evitar coxinhas? Não saia do seu quarto. Quer evitar petralhas? Idem. Há pessoas dos dois lados aqui na Porta, na Globo, na Band, na sua novela favorita, no supermercado em que você faz compras, no salão de beleza, na igreja que frequenta, na mesa do bar, no time pelo qual você torce e, se duvidar, até no quarto do lado.
Esse revanchismo bobo só fomenta o ódio. Incentivar a censura ou a intolerância nada mais é que um recibo de que você pode ser tão fascista quanto os fascistas que critica. Sejam eles imperialistas americanos ou comunistas cubanos. Sem falar na ignorância de quem coloca a Lei Rounet no bolo sem saber que não cobramos cachê que cobraríamos em outros filmes, mas pagamos com justiça uma equipe com centenas de profissionais trabalhando no país da crise.
Enfim, era isto que queria mostrar: meu apreço pela liberdade, pela democracia, pelo trabalho, pela justiça, pelo amor e pelo humor.
Agora deixa eu ir que já são 12h30 e preciso finalizar meu roteiro zoando a deputada petista Maria do Rosário. Aquele que o Gregorio aprovou.
Antonio Tabet”