Quem primeiro tocou em público no assunto foi o novo ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro. Em entrevista a Miriam Leitão, na Globo News, ele disse semana passada que o PSDB provavelmente terminaria substituindo o ex-governador paulista Geraldo Alckmin por José Serra como candidato a presidente da República. A idéia naquele momento soou extravagante. O Ibope acabara de divulgar que, pelo menos em São Paulo, Alckmin conseguiu ampliar a vantagem em relação a Lula (PT).
A semana começa, porém, botando lenha na fogueira acesa por Tarso Genro. Os últimos dias, afinal, foram fartos em más notícias para a candidatura Alckmin, que é alvo de várias denúncias cujos detalhes tornam-se aos poucos de conhecimento público. Primeiro, veio a revelação de possíveis irregularidades na distribuição de verbas publicitárias pela Nossa Caixa e do milionário guarda-roupa que sua mulher, Lu, recebeu de presente de um estilista.
Depois, o ex-governador foi atingido pelas suspeitas lançadas sobre questões como o relacionamento mantido com seu médico particular (beneficiário de recursos do governo paulista) e pela renovada disposição de deputados estaduais de São Paulo de abrir investigação para apurar atos praticados durante sua administração.
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Para piorar, a pesquisa Datafolha divulgada ainda no sábado despejou um banho de água fria nos apoiadores de Alckmin. De acordo com o levantamento, no plano nacional, as intenções de voto no pré-candidato tucano caíram, ao mesmo tempo em que Lula conseguiu reduzir seu índice de rejeição e consolidar – ao menos até o momento – a condição de amplo favorito na disputa presidencial. Mesmo com o festival de barbaridades cometidas em seu governo, o atual presidente exibe impressionante musculatura eleitoral. Conforme os números do Datafolha, ela seria suficiente hoje para levá-lo a liquidar a fatura no primeiro turno.
Nesse cenário, e aí está a especulação que agora ganha curso, Serra volta a ser lembrado como um competidor mais qualificado para enfrentar Lula. De fato, ele sempre teve desempenho superior ao de Alckmin nas sondagens de intenções de voto para a sucessão presidencial. E, segundo o mesmo Datafolha, lidera, disparado, a corrida para o governo de São Paulo. Acrescente-se em seu favor o fato de ser um nome já conhecido nacionalmente, além de ter demonstrado, sobretudo como ministro da Saúde, uma capacidade administrativa que nem seus adversários questionam.
Pela lei eleitoral, os partidos têm até 30 de junho para realizar as convenções nas quais serão oficialmente escolhidos seus candidatos e definidas as coligações em âmbito nacional e estadual. Até lá, persistindo a tímida performance de Alckmin nas pesquisas e mantida sua candidatura, anunciada há apenas 26 dias, não faltará combustível para alimentar as análises dos especuladores de plantão.
Enquanto isso, a oposição continuará fazendo o que estiver ao seu alcance para enfraquecer um governo – o de Lula, claro – que, pródigo em praticar atos irregulares e se meter em trapalhadas, já perdeu na esteira da crise política dezenas de quadros e seus dois colaboradores mais importantes: os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci. (Sylvio Costa)