O segundo depoimento do dia na CPI do Apagão Aéreo da Câmara, do brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), frustrou mais uma vez os parlamentares da oposição. Pela manhã, a comissão ouviu o coronel Rufino Antônio da Silva, destacado pela Aeronáutica para investigar as causas do acidente entre o Boeing da Gol e o Legacy. E a reclamação foi a mesma (leia).
Nos dois depoimentos, a sessão não foi até o final. Ou seja, nem todos os inscritos, grande parte da oposição, puderam fazer perguntas. No primeiro depoimento, porque havia um acordo para encerrá-lo às 12h30. No segundo, porque havia começado a Ordem do Dia, no plenário da Câmara. O presidente da CPI, Marcelo Castro (PMDB-PI), argumentou que, de acordo o requerimento, a comissão não poderia funcionar.
A indignação da oposição foi grande. Principalmente porque, até aquele momento, só o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) tinha feito perguntas ao brigadeiro Kersul – e uma rápida e pequena intervenção de Vic Pires Franco (DEM-PA), que foi respondia. Quando Castro anunciou que precisaria encerrar os trabalhos, a gritaria foi enorme.
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“Estão assando a pizza nesta CPI”, bradou Luciana Genro (Psol-RS). O presidente da comissão nem sequer permitiu que os deputados falassem no microfone, o que fez aumentar ainda mais os gritos. O brigadeiro da Aeronáutica, visivelmente aliviado, manteve um contido sorriso.
“A presidência da CPI não está empenhada em esclarecer os fatos”, disse o deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG). “Isso é um cerceamento de nosso direito de inquirir. O relator ficou mais de uma hora fazendo perguntas inúteis”, emendou Luciana Genro.
O relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), respondeu: “A oposição tem que parar de chorar e trabalhar mais”. Segundo ele, as perguntas que fez são para orientá-lo na elaboração do relatório final, que ficará sob sua responsabilidade. “Muitas vezes, as perguntas da oposição têm mais intenções políticas do que de contribuir para o esclarecimento dos fatos”, afirmou.
O deputado Marcelo Castro ressaltou que é “um servo do regimento [da Câmara]” . “Ele [o regimento] diz que, em nenhum caso, poderá funcionar uma comissão com o início da ordem do dia no plenário. Não vou deixar de cumpri-lo para agradar alguém”, disse.
Bastante desanimados, os deputados da oposição deixaram a CPI afirmando que vão apresentam novos requerimentos, reconvocando os dois membros da Aeronáutica ouvidos parcialmente hoje (17). O problema, dizem, é que há mais de 100 requerimentos para serem votados, o que vai acontecer na próxima quarta-feira.
Referência
Em quase duas horas de depoimento, o brigadeiro Jorge Kersul Filho rasgou vários elogios ao sistema de tráfego aéreo brasileiro. Disse que o sistema é referência, e ainda brincou: “Mais seguro que o transporte aéreo, só o elevador”. Houve também ponderações, como quando afirmou que, apesar da segurança, “não significa que o espaço aéreo seja infalível”.
O brigadeiro negou que haja “pontos cegos” no espaço brasileiro, e disse que os equipamentos utilizados no país não “devem nada a nenhum equipamento do mundo”. Ele reclamou, contudo, dos investimentos, que poderiam ser maiores. Antes de responder às perguntas, apresentou slides para acompanhar sua explanação sobre o sistema aéreo brasileiro. “Os dados comprovam a nossa eficiência.” Ele, contudo, não convenceu muitos deputados. (Lucas Ferraz)
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