A CPI dos Correios pode ter achado, na semana passada, um forte indício de que o Banco do Brasil esteve diretamente envolvido com operações fraudulentas durante o governo atual. Relatório publicado hoje pela revista Época mostra que o banco perdeu, em transações feitas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), R$ 30,9 milhões para o doleiro paulista Lúcio Bolonha Funaro. Ele já vinha sendo investigado pela comissão por suspeita de fraudes com fundos de pensão de estatais.
O relatório da CPI afirma que o Banco do Brasil e Funaro fizeram 11 operações com um produto financeiro chamado swap, entre janeiro e novembro de 2003. O saldo das transações, segundo o documento, foi um fracasso para o banco, que perdeu R$ 30,9 milhões. O swap é uma complexa aplicação feita no mercado financeiro, por meio da qual um investidor busca proteger seu patrimônio de algum risco. O Banco do Brasil faz operações assim todo dia, porque movimenta R$ 5 bilhões por mês em sua mesa de câmbio e não pode ficar exposto a oscilações bruscas no preço do dólar. No caso da operação suspeita de Funaro, seria como se o BB tivesse vendido para ele, aceitando receber juros abaixo do preço de mercado.
Leia também
Os técnicos da CPI ainda não sabem aonde foram parar os R$ 30,9 milhões supostamente drenados do Banco do Brasil por Funaro. Com o doleiro ficaram R$ 650 mil, provavelmente a comissão paga por quem estivesse por trás dele. Em Brasília, suspeita-se que Funaro seja um intermediário especializado em desviar dinheiro público pelo mercado financeiro.
Por meio de sua assessoria, o BB afirmou só enxergar a corretora São Paulo nas transações e não saber que Funaro estava do outro lado. Disse ainda que operava muito com a São Paulo e, no geral, tinha lucro.
Histórico comprometedor
O doleiro é apontado pela CPI dos Correios como o verdadeiro dono da Guaranhuns, uma empresa de fachada que seria ligada ao PL. A empresa foi, de acordo com depoimentos, a intermediária na transferência de R$ 6,5 milhões pagos pelo PT ao ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente do PL. Costa Neto renunciou ao mandato depois que essa conexão foi revelada.
É a segunda vez que o Banco do Brasil surge em situação embaraçosa nas investigações da CPI. Na primeira, a comissão mostrou que a Diretoria de Marketing da estatal havia antecipado um pagamento de R$ 10 milhões a uma das agências do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza por supostos serviços prestados à Visanet – empresa de cartão de crédito da qual o BB é sócio. A suspeita dos parlamentares é de que o adiantamento tenha alimentado o valerioduto, usado para sustentar o esquema do mensalão.