Eduardo Militão
A CPI para investigar irregularidades no Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 já tem 114 assinaturas, segundo informou nesta quarta-feira (16) o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). Há, porém, uma movimentação para tentar evitar a instalação da comissão. De acordo com Garotinho, seis deputados o procuraram hoje para retirar as assinaturas, mas acabaram não concretizando a desistência.
Contrato social registrado na Junta Comercial do Rio de Janeiro, reproduzido pelo jornal Lance, mostra que o COL é uma empresa na qual o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, tem 0,01% das ações e a entidade, 99,99%, mas permite que os lucros apurados pela realização da Copa sejam divididos entre os sócios independentemente das proporções. Por isso, interpreta Garotinho, Teixeira poderia se apropriar sozinho de todos os lucros da Copa do Mundo. Em 2006, o comitê da Copa da Alemanha lucrou 263 milhões de dólares.
Hoje, o presidente da CBF visitou os principais líderes partidários da Câmara e o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS). Conseguiu deles a garantia de que vão trabalhar contra a criação e instalação da CPI. ?Não há clima para CPI?, disse Maia. Entre os líderes, há o convencimento de que a comissão não vai vingar. Mesmo se conseguir as assinaturas, avaliam, ela vai demorar muito para ser instalada e obter êxito na investigação.
O líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), que chegou a assinar o requerimento da comissão de inquérito, disse que não vai retirar seu autógrafo do documento. Mas sua assessoria disse que ele se convenceu de que o motivo para a CPI não existe. Ricardo Teixeira mostrou a Nogueira que, em uma das cláusulas do contrato social do COL, toda a renda obtido pelo presidente da CBF deverá ser revertida à entidade.
A reportagem do Congresso em Foco solicitou a íntegra do documento a Garotinho, à assessoria de Nogueira e ao diretor de Comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, mas não obteve o contrato social.
Dinheiro para campanhas
O requerimento de Garotinho lista outras frentes de investigação contra a CBF, como financiamento ilegal de campanhas eleitorais. Garotinho disse ao Congresso em Foco que balanços da entidade mostram doações a políticos nas últimas eleições, o que ficou proibido a instituições esportivas depois da minirreforma eleitoral.
O deputado ainda acusa a entidade de pagar salários a seus diretores, o que seria proibido, usar dinheiro da CBF para pagar honorários de advogados particulares de Ricardo Teixeira, tomar empréstimos no exterior pagando taxas de juros acima do valor de mercado, fazer lavagem de dinheiro e negociar jogadores de futebol irregularmente.
O requerimento da CPI pede a apuração dos acordos firmados entre a CBF e as emissoras de televisão, além da apuração dos valores envolvidos na concessão das transmissões.
Depois de falar com Marco Maia, Ricardo Teixeira se limitou a dizer que o único assunto tratado foi a organização da Copa de 2014. Ele e Rodrigo Paiva se negaram a comentar a CPI proposta por Garotinho e o teor do contrato social do COL.