Em sua edição que circula nacionalmente amanhã, a revista Veja envolve a senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA) em um esquema no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que facilitava a extração de madeira ilegal no Pará, em troca de doações de madeireiros para campanhas de candidatos do PT. Segundo a edição da revista, que circula desde ontem no Rio de Janeiro e em São Paulo, a CPI da Biopirataria apontou como chefe do esquema de desmatamento ilegal o gerente-executivo do Ibama no Estado, Marcílio Monteiro. Ele teria sido indicado para o cargo pela senadora, com quem foi casado.
A senadora nega que tenha beneficiado madeireiros em troca de contribuições de campanha. A CPI constatou, no entanto, que uma assessora de Ana Júlia, Maria Joana da Rocha Pessoa, movimentou mais de R$ 2 milhões apenas em 2004. O valor é dezesseis vezes maior que a renda anual da assessora declarada à Receita Federal.
A quebra do sigilo bancário de Maria Joana mostrou também que suas contas receberam cada vez mais dinheiro à medida que se aproximavam as eleições daquele ano, quando a senadora concorreu à Prefeitura de Belém (PA). Como a maioria dos depósitos foi feita em dinheiro, a CPI não conseguiu identificar a sua origem.
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A comissão, porém, evitou pedir o indiciamento de Carepa e Monteiro, pois os membros governistas da comissão ameaçavam derrubar o relatório final. No entanto, não se furtou de pedir o indiciamento de cinco pessoas ligadas ao PT. Uma delas é Leivino Ribeiro de Souza, idealizador do selo Safra Legal emitido pelo Ibama e que servia de salvo-conduto para a madeira ilegal. Ele também foi o caixa de campanha do candidato a prefeito em Anapu (PA) Chiquinho do PT, que também teve seu indiciamento solicitado pela comissão. Outros dois foram Elielson Soares de Farias, ex-gerente do Ibama em Altamira (PA), filiado ao PT e indicado ao cargo pelo partido, e Bruno Kempner, executor do Incra em Altamira e também filiado ao partido. Por fim, foi pedido o indiciamento de Sílvio César Costa de Lima, caixa de campanha de candidatos do PY na região da Transamazônica.
As outras duas pessoas que tiveram o indiciamento pedido no relatório são a engenheira florestal Sidiane Costa de Lima, acusada de assinar laudos falsos que permitiam o desmatamento ilegal, e Gracilene Lima, uma das sócias da empresa que coordenou a execução do plano Safra Legal no Pará.
Maquinação tucana
A senadora Ana Júlia Carepa acusou a reportagem da revista Veja de ser “uma vergonha” e uma “maquinação tucana” para atingir a ela e ao seu partido, por conta do presidente Lula ter apresentado um crescimento surpreendente nas pesquisas. “Eu não sou citada no relatório da CPI”, afirma Ana Júlia. “Isso é uma guerra cuja munição é a mentira, o achaque, a baixaria e a calúnia”, afirmou ela ao site Último Segundo.
A assessora da senadora, Maria Joana da Rocha Pessoa, também contestou a reportagem da revista. Ela disse que a movimentação de quase R$ 2 milhões em sua conta, constatada pela comissão, deve-se a negócios particulares que não têm ligação com a assessoria que presta à senadora petista. “Não sou somente assessora. Tenho outros negócios”, afirmou ela.