Antoninho Marmo Trevisan *
Embora os juros baixos sejam uma conquista política da presidenta Dilma Rousseff, dificilmente o Banco Central terá como manter ao longo de 2013 a Selic em 7,25%, menor taxa do país em todos os tempos. É o que sinaliza a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada no último 14 de março, na qual o colegiado elevou suas projeções de inflação e admitiu a possibilidade de que a pressão nos preços não seja temporária.
Segundo a análise contida no documento, os preços mostram resistência e podem acomodar-se em patamar mais elevado. Há um trecho emblemático da ata: “O Copom avalia que a maior dispersão recentemente observada de aumentos de preços ao consumidor, pressões sazonais (em um determinado período) localizadas no segmento de transportes, dentre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência”. Por isso, a autoridade monetária elevou as projeções de inflação para 2013 e 2014, acima do centro da meta de 4,5% estipulada pelo governo.
Nessa questão, há vários fatores a serem considerados, a começar pela crise internacional e o aumento mundial do preço dos alimentos, quebra de safras nos Estados Unidos e outros fatores circunstanciais. Há, contudo, de se destacar o fato de estarmos pagando por algo muito positivo: uma situação de quase pleno emprego, aumento real da massa de salários e o vigoroso processo de inclusão social e ascensão econômica verificado no Brasil desde 2003. Mais gente ganhando mais significa crescimento do consumo, com pressões sobre a demanda, que precisa expandir-se na mesma proporção.
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Não é sem razão, portanto, que tenho observado, em vários artigos, a necessidade de o país remover obstáculos aos investimentos produtivos e ao estímulo do chamado espírito animal dos empresários, como os altos impostos, burocracia exagerada, insegurança jurídica e encargos sociais muito elevados, dentre outros problemas. Criar melhores condições para o resgate da competitividade da indústria é essencial para se estabelecer um círculo virtuoso a partir da bem-sucedida inclusão e/ou elevação de 53 milhões de brasileiros na sociedade do consumo (dado do estudo “O emergente dos emergentes”, CPS/BID).
Não há dúvida do quanto é necessário e premente que os poderes Executivo e Legislativo federais solucionem esses gargalos, fazendo as reformas tributária, previdenciária e trabalhista, revendo leis que dificultam a rotina empresarial e desburocratizando a nação. Continuamos todos nós fazendo essas pertinentes cobranças.
Por outro lado, entretanto, não é justo negar os esforços do governo no enfrentamento da maior crise mundial do capitalismo, estabelecendo no Brasil uma situação melhor do que na maioria dos países. Nas condições adversas da economia global, não é tarefa simples conciliar o crescimento do PIB com o controle da inflação, pois juros baixos, maior liquidez e crédito, aumento do valor do real na cesta cambial de moeda, desonerações da folha de pagamentos, redução de tributos e estímulo ao consumo conspiram a favor da majoração dos produtos na ponta do consumo.
Por isso, ao mesmo tempo em devemos cobrar ao governo algumas lições de casa, é preciso haver respostas ao barateamento da energia elétrica, desoneração tributária da cesta básica, linha branca, carros e construção civil. O Estado tem o dever de controlar a inflação, mas isso não diminui a responsabilidade de todos no processo!
* Antoninho Marmo Trevisan é o presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES).
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