Ricardo Ramos
Depois do acordão que livrou os deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP) da perda de mandato, o Plenário da Câmara se reúne mais uma vez hoje para decidir o destino de dois parlamentares acusados de terem se beneficiado de recursos do valerioduto: o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), e o ex-líder do partido na Câmara Pedro Henry (MT).
Apesar da semelhança das acusações que pesam contra Corrêa e Henry, o desfecho dos dois casos foi oposto no Conselho de Ética. Melhor para Heny, que tem praticamente como certa a sua absolvição, já recomendada pelo colegiado. Pior para Corrêa, cujo pedido de cassação será submetido a um Plenário ainda sob a desconfiança da opinião pública após as votações da semana passada.
O presidente do PP teve seu pedido de cassação aprovado pelo colegiado por ter sido, segundo o ex-assessor do PP João Cláudio Genu e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), beneficiário do dinheiro vindo do empresário Marcos Valério. Envolvido na mesma denúncia, o ex-líder da bancada na Câmara foi inocentado na análise preliminar dos colegas.
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Tanto Corrêa como Henry disseram em suas defesas que os recursos recebidos pelo partido foram destinados a pagar os honorários advocatícios do ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC), que responde a 36 processos e inquéritos na Justiça. Curiosamente, a sustentação da defesa do ex-líder do PP e a da acusação do presidente do partido será feita pelo mesmo deputado, o tucano Carlos Sampaio (SP).
O ex-líder do PP nega as acusações e alega que não há nenhuma prova documental ou testemunhal contra ele, seus assessores ou familiares. Em sua defesa, sustenta que nunca participou de reuniões com integrantes do governo ou do PT para tratar de assuntos financeiros que se refletiriam em votações no Congresso. Ele também não aparece na lista de sacadores apresentada pelo empresário mineiro às CPIs do Mensalão e dos Correios. Henry argumenta ainda que, enquanto liderava o PP, Genu não era funcionário da liderança do partido.
Aposta pela absolvição
“A expectativa é pela absolvição dos dois deputados”, aposta o atual líder do PP na Câmara, Mário Negromonte (BA). “O Pedro Henry já foi absolvido pelo conselho, e em relação ao processo do Corrêa, ele está muito tranqüilo de que não recebeu nenhum centavo desses recursos”, completou.
Segundo o líder progressista, Corrêa, além de ter aberto seus sigilos bancário, telefônico e fiscal desde o início das investigações, enviou aos 512 deputados um parecer do jurista Célio Borja, ex-ministro da Justiça, sustentando que o presidente do PP não quebrou o decoro.
Perguntado se, assim como na semana passada, haveria um acordo entre os partidos para livrar os dois parlamentares da perda dos direitos políticos por oito anos, Negromonte foi taxativo. “Não existe isso de lobby, não”, rebateu. “Os deputados votam de acordo com suas consciências”, disse ao Congresso em Foco.
Para Negromonte, há uma distorção de representatividade entre o Plenário e o Conselho de Ética – o que estaria, segundo ele, se refletindo contrariamente aos acusados de envolvimento no valerioduto. “O PT tem 90 deputados e um integrante do conselho. Já o Psol tem sete deputados e dois integrantes”, criticou.
Integrante do conselho, Julio Delgado (PSB-MG) rebate o líder do PP. “Se os membros do conselho não fossem fixos, a pressão sobre os processos seria muito maior”, ressaltou. “Vamos esperar que depois da pressão da opinião pública a Câmara reaja”, disse, ao ressaltar que prefere não arriscar mais projeções para a votação das cassações.
Trabalho em vão
Embora o líder do PP negue um acordo para salvar os colegas, os progressistas – que apoiaram as absolvições do petista Luizinho e do pefelista Brant na semana passada – aguardam por uma retribuição nesta quarta-feira. Nascido do mesmo pai, a Arena, o PP tem como irmão o PFL. E, desde o início do governo, os progressistas têm demonstrado fidelidade ao governo Lula. “No voto secreto não há pressão sobre os deputados”, declarou Corrêa, logo após as absolvições de Brant e Luizinho.
“Estamos trabalhando em vão. Nosso trabalho cai no vazio”, afirma Orlando Fantazzini (Psol-SP), cujo relatório pedindo a cassação de Henry foi derrubado pelo próprio conselho há duas semanas. “O Plenário não tem moral mais pra cassar ninguém”, lamenta.
Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), ex-petista e integrante do Conselho de Ética, se a Câmara mantiver a coerência, vai absolver todos os cassáveis, porque os demais casos são semelhantes aos de Brant e Luizinho.