O Conselho de Ética adiou, por duas sessões plenárias, a votação do relatório que pede a cassação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). O parecer, do deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS), seria votado hoje, mas a deputada Angela Guadagnin (PT-SP), costumeira defensora de seus correligionários, pediu mais tempo para analisar o texto.
João Paulo responde a processo no Conselho junto com 11 parlamentares acusados de receber dinheiro do valerioduto. A esposa dele sacou R$ 50 mil das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O dinheiro teria sido usado, segundo alegou o petista, para pagar pesquisas eleitorais em 2004.
No começo da tarde, pouco antes da reunião, a deputada disse que não encaminharia pedido de vistas no caso de João Paulo. Após a leitura do parecer, Angela foi a primeira a tomar a palavra reafirmou sua intenção de não adiar a votação, para atender um pedido do próprio colega petista. “O João Paulo pediu que não solicitasse vistas. Então, contrariando a minha vontade, não vou pedir vistas”, afirmou.
No restante de sua fala, a parlamentar frisou por várias vezes que não pediria mais tempo para analisar o processo e chegou a revelar seu voto em relação ao parecer. “Peço que seja desconsiderada o relatório, por não achar que o João Paulo seja culpado”, afirmou. Porém no final, ao encerrar seu aparte, a deputada mudou de idéia e solicitou o adiamento da votação.
Leia também
O pedido gerou protestos dentro do Conselho. O deputado Edmar Moreira (PL-MG) criticou a parlamentar por ter mudado de idéia. “É extemporâneo (o pedido de vistas)”, declarou. Angela afirmou, no entanto, que havia pedido vistas no começo de sua fala, mas nenhum parlamentar percebeu.
Culpa do partido
A petista disse ainda que João Paulo não pode ser considerado culpado porque obteve por meio do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o dinheiro para as pesquisas. Por isso, não tinha como saber da origem do recurso.
A deputada falou ainda de uma caneta da marca Mont Blanc que João Paulo ganhou de Valério quando ainda era presidente da Câmara. “Pergunto a qual dos deputados aqui nunca recebeu presente”, afirmou Angela. “Lógico que se for de valor alto, pode questionar. Mas dizer que o presidente da Casa teria sido comprado com uma caneta”, continuou.