Lucas Ferraz
O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), convocou uma sessão conjunta, com deputados e senadores, para que seja votada hoje a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2008. Marcou até horário: 19h30.
No entanto, quem deverá presidir a sessão é o vice-presidente do Congresso, Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), também primeiro vice-presidente da Câmara. Renan, envolvido em uma crise que dura mais de mês, quer evitar constrangimentos, como aconteceu semana passada.
Na ocasião, mais de uma dúzia de senadores pediram que ele se afastasse do cargo de presidente do Senado (e do Congresso) até que terminem as investigações contra ele no Conselho de Ética. Renan é acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior – em especial, a pensão da filha que tem com a jornalista Mônica Veloso, fruto de uma relação extraconjugal.
Presença dispensável
“Se for necessário, eu vou presidir. Mas, só se for necessário. Não se trata de ter coragem ou não ter coragem”, afirmou o presidente do Senado. Para muitos, a declaração de Renan é a senha de que ele não vai dirigir os trabalhos.
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Aliados do senador acham que o fato de ele não presidir a sessão é secundário, e sua presença é absolutamente dispensável. Lembram que nos últimos cinco anos todas as votações da LDO foram conduzidas pelo vice-presidente do Congresso.
“Ele ainda não decidiu”, garante Valdir Raupp (RO), líder do PMDB no Senado e um dos parlamentares mais próximos de Renan. “Mas se ele não presidir, não tem problema”. Raupp discorda da afirmação, feitas por alguns parlamentares, de que a eventual ausência dele demonstraria fraqueza política.
Para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), Renan não deveria mesmo presidir. “Se eu estivesse no lugar dele, não iria. Essa sessão é sem expressão. E quem preside geralmente é o vice”, disse, lembrando ainda que nas votações da LDO há sempre acordo, o que facilita a votação. Simon, contudo, lembrou que Renan garantiu que não “arreda o pé” do cargo de presidente e que vai presidir todas as reuniões.
Ato político
Com ou sem Renan, certo é que a sessão para votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias vai se tornar um palco de protestos contra o presidente do Congresso e sua teimosia em permanecer no cargo.
Chico Alencar (RJ), que lidera na Câmara o Psol, legenda autora da representação que originou no processo por quebra de decoro parlamentar contra Renan no Conselho de Ética, já avisou que haverá manifestações pedindo seu afastamento. O mesmo vai fazer partidos como PSDB, DEM e PPS.
“Ele pode presidir ainda o Senado. Mas, do Congresso ele não é mais presidente, pelo menos até que tudo seja esclarecido”, afirmou Chico Alencar.
A avaliação da Câmara é que seria “loucura” Renan Calheiros presidir a sessão, já que, diferentemente dos senadores, os deputados não são tão benevolentes com ele. Portanto, as críticas seriam ainda mais ácidas. E o constrangimento, ainda maior.