Confira a íntegra do discurso de hoje (29) do presidente Lula na cerimônia de posse dos ministros Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Alfredo Nascimento (Transportes), Franklin Martins (Comunicação Social), Carlos Lupi (Trabalho) e Luiz Marinho (Previdência).
"Toda vez que a gente participa de um ato de posse, a gente tem alegria de um lado, porque tem um companheiro novo entrando no campo de batalha, e a gente tem tristeza porque tem um companheiro que está nos deixando. E em alguns casos você tem dupla alegria porque tem um companheiro entrando para um lugar, e um saindo de um lugar e indo para outro lugar, ou seja, você consegue contemplar, e nem sempre pode ser possível essa harmonia.
Mas eu queria começar agradecendo ao nosso querido Paulo Sérgio Passos. O Paulo Sérgio, como todo mundo sabe, é funcionário há muito tempo da área dos Transportes, foi o secretário-executivo do ministro Alfredo Nascimento. Todo mundo sabe que o ministro Alfredo Nascimento saiu para disputar uma eleição e o Paulo Sérgio assumiu o ministério sabendo que o companheiro Alfredo tinha um compromisso comigo, de voltar para o ministério. Nesses 12 meses que o Paulo Sérgio foi ministro dos Transportes, eu posso dizer para vocês que foi uma das mais gratas surpresas que eu tive no governo. O Paulo Sérgio, com esse jeito simples dele, conseguiu imprimir no Ministério dos Transportes um ritmo que em alguns casos até assustou alguns companheiros quando, em janeiro do ano passado, ainda o Alfredo era ministro, nós começamos aquela operação de recuperação das estradas brasileiras.
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Mas mais importante do que isso, o Paulo Sérgio teve um papel importante no PAC. O Paulo Sérgio foi um dos companheiros, um dos grandes parceiros que entendeu a necessidade e a urgência do PAC. A sua equipe se colocou de corpo e alma junto com a equipe da Casa Civil, coordenada pela ministra Dilma, para que a gente colocasse toda a questão de infra-estrutura rodoviária, ferroviária e de portos no PAC. Hoje, eu estou convencido de que nós temos o melhor plano para a área de estradas, ferrovias, portos e aeroportos que já tivemos em qualquer momento neste país, e agora que ele ajudou a teorizar esse programa, certamente, com a continuidade dele junto ao Alfredo, ele vai nos ajudar a implementar esse programa.
Eu quero, Paulo Sérgio, agradecer esses meses de convivência, a tua dedicação, a seriedade que você imprimiu. Possivelmente eu vou fazer um (inaudível) porque estou vendo o pessoal da Abdib aqui. Eu não sei se em algum momento da história do Brasil, os empresários receberam o que o governo lhe deve tão em dia nos contratos que nós firmamos, porque habitualmente no Brasil se contratava uma obra, o governo fingia que pagava, as empresas fingiam que faziam, e o que a gente via era que o governo não pagava e as empresas não faziam, era habitual a gente andar pelo Brasil e ver máquinas paradas, meses e meses, anos e anos. E nós resolvemos que se quiséssemos exigir seriedade dos empresários nós teríamos que ser sérios e nada mais sério para mostrar para os empresários do que pagar os contratos que firmamos, e isso eu penso que o Ministério dos Transportes vem cumprindo à risca neste país, portanto, meus caros, preparem-se para mais obras. Obrigado meu querido Paulo Sérgio, pela sua passagem tão gratificante no ministério.
Bem, o Alfredo eu não posso falar bem dele porque ele não está saindo, ele está entrando, ele vai ter que fazer o discurso na transmissão de posse, mas eu convivi com o Alfredo durante dois anos e pouco, eu sei da competência do Alfredo e não tenho dúvida nenhuma de que o Ministério dos Transportes, nas tuas mãos, Alfredo, estará em boas mãos. Não se deixe abater nunca porque adversários é o que não falta, sobretudo agora que o Ministério dos transportes tem muito dinheiro. Quando não tinha dinheiro, ninguém nem percebia, mas já era interessante, agora que tem muito dinheiro, meu caro, nós vamos provar que um pouco de competência e um pouco de dinheiro, junta a fome e a vontade de comer, e nós vamos resolver um dos gargalos deste país no que diz respeito às nossas rodovias, às nossas ferrovias, aos portos, aeroportos e às hidrovias, já que vamos concluir as que faltam neste país, portanto, boa sorte. A partir de agora estará subordinado às nossas mesas de negociação e reze para a Dilma estar de bom humor todo dia.
Bem, aqui uma coisa engraçada. Eu vou contar um pequeno caso para vocês. Eu não conhecia o Furlan, ouvia falar, mas não o conhecia. Quando eu ganhei as eleições em 2002, um companheiro meu, senador da República, Aloizio Mercadante, falou para mim: ‘Presidente, tem um empresário que pode ser o biotipo de caixeiro viajante que o senhor precisa para o Ministério do Desenvolvimento e de Comércio Exterior’. Todo mundo sabia que eu falava que queria um mascate, todo mundo aqui, os mais novos não devem saber o que é mascate porque não viram um mascate, mas eu sou do tempo em que se via o mascate chegar em casa com um monte de pano embaixo do braço. Não adiantava a mãe da gente dizer que não tinha dinheiro, porque ele ia embora depois de meia hora, deixava um pacote de pano e vinha receber todo mês um pedacinho. E eu falei: é esse homem que eu preciso.
O Aloizio falou: ‘este homem é o Furlan’. Eu não o conhecia, chamei o Furlan para conversar e, no mesmo dia, eu chamei o presidente do BNDES, o Carlos Lessa, para conversar que eu já tinha escolhido o Carlos Lessa. Qual não foi minha surpresa, na hora em que eu apresentei o Furlan ao Carlos Lessa, eu comecei a perceber que eles tinham posições tão antagônicas que eu não sabia como é que eu ia estabelecer essa convivência entre os dois. Eu me lembro que eu chamei o Aloizio Mercadante, e falei: Aloizio olha, são dois companheiros, crias tua, por favor, me ajude a resolver esse problema.
O que aconteceu de lá para cá? O que aconteceu, primeiro o Furlan demonstrou uma capacidade política que muitas vezes a gente pensa que o empresário não tem, porque normalmente quando a gente conversa com o empresário ele fala: ‘eu não sou político’. Eu sou daqueles que não acredita que tenha um ser humano que não seja político. A gente começa a fazer política quando a gente chora pedindo leite, quando é recém-nascido. E o Furlan sabe do carinho que eu nutri por ele nesses quatro anos pela disposição, pela competência. Eu não quero fazer julgamento porque não conheço todo mundo, mas eu não sei se em algum momento a gente teve um ministro da Indústria e Comércio com a dedicação do Furlan, não sei.
Por ‘n’ razões, de ordem pessoal e particular, o companheiro Furlan, desde julho do ano passado, vem pedindo a mim para sair. Ele ia sair quando saiu o Roberto Rodrigues. Aí, a saída do Roberto Rodrigues teve uma repercussão e o Furlan falou: ‘Presidente, eu vou ficar um pouco mais.’ E foi ficando. E cada vez que ele falava que ia sair, eu dava uma tarefinha para ele e ele cumpria. Até que chegou o momento em que eu falei: bom, o Furlan tem o direito de sair. Mas o Furlan sai passando para o seu sucessor, o nosso amigo e companheiro Miguel Jorge, uma situação totalmente diferente da que o Furlan encontrou.
Quando nós chegamos aqui, no começo do ano, as exportações brasileiras eram de 60 bilhões de dólares. Hoje, o Furlan entrega para o Miguel Jorge as exportações, em dezembro, a 137 bilhões de dólares. Hoje, 140 bilhões de dólares. Tínhamos um saldo comercial, Miguel Jorge, de 13 bilhões de dólares. Hoje, quando você assume essa pasta, o nosso saldo comercial é de 46 bilhões de dólares. Tínhamos reservas de 16 bilhões de dólares. Todo mundo sabe o que é um país com poucas reservas, o que é um país sem capacidade de financiar suas exportações. E hoje, quando você assume o ministério, por obra e trabalho de competência do pessoal da área econômica, nós temos hoje 110 bilhões de reservas, já pagando o FMI, já pagando o Clube de Paris. Eu não sei se além da China e da Índia, tem algum país no mundo com reserva de mais de 100 bilhões de dólares.
Eu me lembro, na viagem que eu fiz para a Índia em 2004, quando o primeiro-ministro da Índia me disse que a Índia tinha 90 e poucos bilhões de dólares de reservas, eu saí da Índia discutindo com o Palocci, com o Meirelles. Eu ficava sonhando com o dia em que o Brasil iria ter 90 bilhões de dólares de reservas. Eu achava que quando a gente tivesse 90 bilhões de dólares a gente ia ter tanta credibilidade, o risco-Brasil ia cair e as coisas iam mudar. E não só ultrapassamos os 90, como chegamos a 110 bilhões de dólares. Não tem nada que dê mais garantia a um país do que um montante de reservas como esse que nós conseguimos acumular. E, se Deus quiser, vamos acumulando, ora um pouco mais, ora um pouco menos, porque dinheiro no bolso não faz mal a ninguém e muito menos a um país emergente como o Brasil, que precisa de muita credibilidade.
Todas as políticas de desoneração que nós fizemos neste governo tiveram o dedo do companheiro Furlan. Sujeitinho impertinente, ele entrava na minha sala com um papelzinho na mão: ‘Presidente, precisamos desonerar isso, desonerar aquilo, desonerar isso’. Às vezes, a equipe econômica é um pouco mais dura e tem que ser assim. Vocês sabem que eu defendo que tesoureiro tem que ser duro e tesoureiro tem que ter mão de vaca, não pode ficar liberando dinheiro à toa não. Até de um clube como o Náutico, José Múcio, até da Presidência da República, o tesoureiro tem que ser o cara mais sovina da equipe, ele tem que estar sempre pronto para dizer não, porque na hora em que tiver que dizer sim, ele comunica a mim, e eu digo sim porque quem tem que ganhar sou eu e ele me ajuda a ganhar.
Furlan, as minhas palavras são de agradecimento, gratidão. Eu acho que você vai sentir falta do governo, estou dizendo para você há seis meses. Você vai perceber que isso aqui, que parecia chato, é muito bom, você vai perceber que a gente se sente útil vendo as coisas crescerem. Eu me lembro da tua alegria quando a gente chegou a 100 bilhões de dólares de exportação, eu me lembro de um champanhe que você carregou embaixo do braço um monte de tempo, até que nós abrimos esse champanhe. E eu, Furlan, só posso agradecer a você, acho que o governo agradece a você, acho que o Brasil agradece a você, e eu espero que você tenha toda sorte do mundo nessa sua nova empreitada, que eu não sei qual vai ser, certamente será tão bem-sucedida quanto aquela antes do governo e a tua presença no governo. Se quiser ser candidato a alguma coisa já pode, já está cacifado para isso.
Bem, e o nosso companheiro Miguel Jorge. Por coincidência, o Miguel Jorge, como eu, não tem diploma universitário. Somos três, José Alencar, porque o Marinho já tirou o dele. Somos três, você, o ministro e eu. Mas o Miguel Jorge é um companheiro, acho que todos aqui conhecem, de muito tempo no Estadão, muito tempo na Autolatina e na Volkswagen e, mais recentemente, no Santander. Eu não tenho dúvida nenhuma, meu querido Miguel Jorge, que se você tiver no governo a desenvoltura que você teve na sua vida profissional como jornalista no ‘O Estado de São Paulo’, que você teve como empresário na Autolatina, onde certamente o Marinho te xingou algumas vezes nas greves que ele fazia lá, e se você tiver desenvoltura como você teve à frente da Direção do Santander, certamente a continuidade do trabalho do Furlan será extraordinária e eu poderei chegar ao final do meu mandato, ao invés de 110, 220, 137, 300 bilhões de exportação. Nós temos que pensar grande porque quem não pensa grande não vai a lugar nenhum. Meus parabéns querido e boa sorte para você.
Nosso querido Franklin Martins. O Franklin é daquelas pessoas –da mesma forma que foi o André no começo ou o Ricardo Kotscho– que a gente vai convidar pensando que não vão aceitar. Você vai sempre com uma certa dúvida, um jornalista bem remunerado, será que essas pessoas vão largar? O André era do Conselho Editorial da ‘Folha de São Paulo’, professor da USP, eu falei: será que esse cara vai largar tudo isso por 7 mil reais? Largou. Da mesma forma que o Ricardo Kotscho largou e eu falei: bom, agora eu vou convidar o nosso querido Franklin Martins para vir aqui. Eu falei: esse homem, deve ser homem grosso da imprensa, porque aparecia na Globo todo dia, depois na Bandeirantes, fala bem, mais político do que nós, eu falei: esse cidadão não vai aceitar.
Aí chamei o Franklin Martins para vir substituir um trabalho que o Dulci estava fazendo no lugar do Gushiken, para vir substituir porque ele vai ocupar uma coisa só e eu chamei o Franklin e falei: Franklin eu acho que nós estamos precisando de você, eu acho que nós precisamos renovar o setor de comunicação, o André, no final do ano, tinha me comunicado que estava com vontade de voltar para a USP, estava a fim de escrever um livro, acho que falando mal do governo, e o Dulci estava cumprindo tarefa, porque o Dulci parece o prefeito do papa, ou seja, ele cuida de tudo, desde o movimento social, à juventude, aos cuidados com a Presidência da República, à comunicação, e eu falei: olha, vamos pegar uma pessoa só para fazer tudo isso.
Franklin, eu estou depositando uma expectativa muito grande, porque nós vamos criar coisas diferentes, além da publicidade, além dos patrocínios, além de cuidar da imagem do governo, além da Radiobrás, que estará subordinada a todo o esquema. Nós estamos pensando em ter uma TV pública educativa, uma TV que possa fazer o que, muitas vezes, a televisão privada não faz. E quem sabe a gente possa fazer parceria com tudo o que já tem neste país: TV Câmara, TV Senado, TV Congresso, TV Educativa nos Estados. Nós não vamos inventar a roda, o que nós queremos é dar oportunidade para que um jovem que queira aprender português, possa ter aula de português às 9h da manhã, às 11h da manhã; que as pessoas possam assistir a uma peça de teatro pela televisão à 1h da tarde, ao meio-dia; que a gente possa ensinar espanhol, ensinar inglês, ensinar matemática; que a gente possa ter uma imensa atividade cultural. Se vai ter meio ponto de audiência ou zero não me interessa, o que interessa é que tem uma opção para quem quiser ter acesso a uma coisa de muita profundidade.
Veja, nós já temos muita programação, mas todas elas são em horário. O Vicentinho, quando tentou se formar advogado e foi fazer o vestibular, ele fez um curso e levantava às 5h e meia da manhã para poder estudar. Por que não pode ter um curso ao meio-dia, às 2h da tarde? Como nós não queremos competir, nós só queremos somar, nós só queremos criar oportunidade para que, do Oiapoque ao Chuí, as pessoas possam ver coisas. E também um programa jornalístico. Eu sonho grande, eu sonho com uma coisa quase 24 horas por dia, não sei se a gente vai conseguir construir. E que não seja uma coisa ‘chapa branca’, porque a ‘chapa branca’ parece bom, mas enche o saco. Gente puxando o saco não dá certo. Nós temos que fazer uma coisa séria, não é uma coisa para falar bem do governo ou para falar mal do governo, é uma coisa para informar. A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la. É isso que nós vamos querer. E nós já temos exemplos, tem a TV Cultura, em São Paulo, que tem boa programação, e você sabe que é uma tarefa gigantesca. Eu também sonho que a gente possa até ter uma rádio nacional. É mais difícil, mas vamos tentar, não custa nada, falar as coisas para o Brasil inteiro.
Então, meu caro, essa vai ser uma tarefa gigantesca. Prepare-se, passe bastante cera nas costas porque se apanha um pouco, mas eu acho que você já está calejado, já apanhou muito na vida e eu acho que você sabe que a coisa não é fácil.
Por último, eu queria falar do Ministério do Trabalho e do Ministério da Previdência. Primeiro, agradecer ao Nelson Machado. O Nelson Machado, ele está para o governo. Todo mundo aqui, os homens e, pelo menos, as mulheres que hoje entendem mais de futebol do que os homens, aliás tem um grande número de comentaristas esportivos, hoje, mulheres. Eu fico fascinado quando eu vejo um bandeirinha ser mulher, você vê que o jogador não a xinga como xinga os homens, eles vão com medo. Então, o Nelson funciona como aquela espécie de curinga. Tem jogador, nos times de futebol, que toda vez que o técnico precisa de um cara para a lateral direita, ele vai; precisa para a lateral esquerda, ele vai; precisa para médio volante, ele vai; só não vai para o ataque, mas até para meio armador, de vez em quando, ele vai. O Nelson é um quadro técnico da mais alta competência.
O Guido está há uns seis meses tentando levá-lo e eu não tenho deixado. O Nelson foi para a Previdência para cumprir um papel em função do déficit da Previdência Social. Déficit que eu não reconheço como déficit, porque o que nós chamamos de déficit. Na verdade, eu quero dizer aqui, com todas as letras, o que nós chamamos de déficit na Previdência é muito menor do que os números que aparecem, de 47 bilhões. Na verdade, parte dos 47 bilhões que a gente costuma colocar tudo num bolo e dizer que é déficit, na verdade, aquilo significa política social que nós, a partir da Constituição de 88, garantimos, primeiro, quando introduzimos a aposentadoria ao trabalhador rural brasileiro, que tinha direito. Se antes não tinha o pagamento por parte dos empregadores, era justo que a gente garantisse que aqueles que, desde os 13 anos de idade ou menos trabalham de sol a sol, tivessem um direito.
E, depois, as políticas sociais para o idoso, os portadores de deficiência, o que não é nenhum favor que o governo faz, é um compromisso da nação para com uma parcela do seu povo que está proibida de trabalhar, que está proibida de ter acesso a muitas coisas. Então, não vamos dizer que isso é déficit. É um déficit do Tesouro e não da Previdência. Mas, se é do Tesouro, também é nosso. Então, nós não poderemos também achar: bom, não é meu, é do Guido Mantega. Não, é nosso, é do Brasil. Portanto, nós temos que cuidar disso com um carinho especial.
E o Nelson foi para lá com essa missão, de tentar montar uma equipe para consertar a Previdência, sem que a gente fizesse perseguição a quem quer que seja. Isso já tinha sido começado pelo Ricardo Berzoini, depois pelo Amir Lando, e depois pelo Jucá. Eu falei: agora eu vou colocar um técnico lá para fazer uma coisa importante. Estava em época de eleição, mais ou menos março ou abril do ano passado, eu falei: não vou convocar ninguém agora, porque se eu convocar agora, a briga política vai ser maior do que o benefício que o Nelson vai causar lá. Então, levei o Nelson. Posso dizer a vocês que o trabalho que o Nelson está fazendo lá ainda não é um pomar, mas posso dizer para vocês que vai dar frutos, de forma extraordinária, para o bem do povo brasileiro que depende da Previdência Social. Para o bem do povo brasileiro.
O que me levou a tirar o Marinho do Ministério do Trabalho e levar para lá? Todo mundo sabe da minha ligação histórica, quase de pai para filho, com o Marinho. Ele é o exemplo de um filho mais inteligente que o pai. E hoje também não é novidade que a nossa molecada, com esse negócio da informática, dá um banho. Nós somos a primeira geração em que nossos netos sabem mais do que os avós. A primeira, a partir de oito anos de idade, um avô pega dois controles remotos e não sabe o que fazer, o neto pega quatro e faz uma ‘desgrameira’ na televisão.
Pois bem, eu levei o Marinho para a Previdência Social, porque poderia tê-lo deixado no Trabalho, tranqüilamente, ele estava lá, e ter levado o Lupi para a Previdência Social. É porque eu aprendi uma coisa com 22 anos de idade, quando eu fui convidado a primeira vez para ir para o sindicato: sempre que possível, você precisa escolher as pessoas para determinadas atividades em função do perfil da pessoa. Tem ser humano que tem perfil para muitas coisas, mas tem outras que têm perfil para enfrentar coisas que, muitas vezes, são adversas. E por isso eu sou agradecido ao que o Marinho fez no Ministério do Trabalho. Primeiro, a relação criada com todas as centrais sindicais neste país, os fóruns que foram construídos para que a gente pudesse tentar criar as coisas conjuntamente, a relação pluralista que o Marinho estabeleceu com todas as correntes sindicais. A capacidade de negociação do Marinho, aprendida desde a comissão de fábrica de uma Volkswagen até a presidência da CUT, até chegar no Ministério, foi preponderante, Lupi, para que a gente tivesse o salário mínimo que nós temos hoje, foi preponderante para a gente reavaliar a alíquota do Imposto de Renda, foi preponderante para a gente poder estabelecer um pouco mais de recursos para financiar obras de infra-estrutura, para financiar parte dos investimentos do BNDES. Eu falei: bom, esse cara já fez o que tinha que fazer no Ministério do Trabalho. Agora, o Ministério do Trabalho tem uma história, o movimento sindical é suficientemente forte, aprendeu a andar, conquistou liberdade, conquistou espaço, vai saber reivindicar a cada momento, mas é preciso a gente dar conta da Previdência Social.
Havia uma dúvida se eu tiraria o Nelson ou não porque tinha começado aquele trabalho ali, eu falei: se você tira alguém que está fazendo um trabalho desses e não dá certo, como é que fica? Aí olhei, poderia ser a Dilma, mas não era a Dilma, a Dilma briga demais. Aí, poderia ser o Silas Rondeau, mas o Silas é muito bom em energia, esse negócio de Previdência não é com ele. Aí, poderia ser o Patrus Ananias, mas o Patrus já cuida de muita gente pobre aqui no país. Bom, o perfil desse negócio é o do companheiro Marinho, então eu tirei o Marinho do Ministério do Trabalho e trouxe para a Previdência Social, com a certeza de que, se eu o conheço bem e se ele imprimir no Ministério da Previdência o mesmo ritmo de trabalho e de seriedade que ele imprimiu no sindicato de São Bernardo do Campo, que ele imprimiu na CUT, no esforço que ele fez para se formar em Direito, e no trabalho digno que ele fez no Ministério do Trabalho, se ele imprimir esse ritmo no Ministério da Previdência Social, eu quero avisar a todos aqueles que acham que a Previdência é insolúvel, que ela vai ser consertada sem que a gente jogue no colo dos pobres a responsabilidade pelo déficit da Previdência Social neste país. Meu caro Marinho, parabéns, boa sorte.
E eu trouxe o companheiro Carlos Lupi para o Ministério do Trabalho. A imprensa cansou de dar que o Lupi ia ser da Previdência, ele terminou sendo do Trabalho. E por que eu fiz isso? Primeiro, porque eu conheço o pensamento do PDT. Segundo, porque era muito complicado você colocar um companheiro para fazer uma determinada política na Previdência, que você sabe que para o seu partido é quase uma questão de fé. Certamente ele teria dificuldades em alguns temas que nós vamos ter que discutir na Previdência, para futuras gerações, e também não queremos que seja proposta do governo, nós queremos que seja uma proposta da sociedade brasileira, daqueles que pagam e daqueles que recebem a Previdência, para que a gente possa permitir que a sociedade brasileira, daqui a uma geração nova, duas gerações, tenha um sistema de seguridade social mais condizente com as necessidades dos nossos trabalhadores.
E o PDT, porque tem uma história no mundo do trabalho. Tem uma história que começa com tantos intelectuais, passa por Getúlio, passa por João Goulart e, mais recentemente, pelo nosso saudoso Brizola. Muita gente me dizia assim: ‘mas, Lula, você está montando o governo com muita gente que fazia crítica a você. Geddel fazia critica a você, Lupi fazia crítica a você’. Não sei se o Miguel Jorge fazia crítica a mim, se fazia, não era pela frente, mas não fazia. E eu dizia: companheiros, quando a gente vai construir uma coalizão, a gente não quer juntar os mesmos que já nos apóiam, uma coalizão pressupõe você estabelecer uma grandeza interior capaz de absorver do teu lado, pessoas que até ontem falavam mal de você, numa disputa política, que pensavam diferente, que defendiam teses diferentes. Eu poderia citar o exemplo do Blairo, governador de Mato Grosso, que teve muitas divergências comigo. Mas na hora do pega, desculpem a expressão, na hora do ‘pega para capar’ do segundo turno, ele enfrentou, com a maior competência do mundo, os mais reacionários, alguns reacionários que o vaiavam, que faziam faixas contra ele, mesmo sendo fazendeiros menores do que ele, mesmo entendendo menos de agricultura do que ele, ele enfrentou. Essa demonstração de grandeza é uma das coisas bonitas na política brasileira, ou seja, é um despojamento, até porque não é quem perde que tem que ter grandeza. Quem tem que ter grandeza é quem ganha, quem tem que ter grandeza e o gesto, é quem ganha as eleições.
Portanto, a vinda do PDT para participar do governo não tem nenhuma novidade. Os incidentes que houve numa ou noutra eleição, e que poderão continuar a haver num município ou em outro, fazem parte da trajetória política deste país, onde os partidos são muito fortemente regionalizados. Mas eu não posso deixar de lembrar, por conta de uma fala contra o presidente da República, da quantidade de vezes que nós estivemos juntos neste país, desde a campanha das Diretas pela democratização deste país. Brizola foi meu candidato a vice, Brizola me apoiou em 1989, no segundo turno.
Eu me lembro, em 2002, quando o Brizola decidiu que ia me apoiar. Teve a decisão de dizer: ‘vamos apoiar o Lula porque é hora de apoiar o Lula.’ Então, eu quero dizer para vocês o seguinte: olha, eu estou gratificado de o PDT estar voltando para onde nunca deveria ter saído, do nosso lado e do governo.
Lupi, a você toda sorte do mundo. Você conhece o movimento sindical, você sabe como é que tem que tratar essa gente, são companheiros extraordinários. Você pode ficar certo de que, quando as coisas estiverem ruins, quem estará do teu lado serão os trabalhadores brasileiros, porque eles reconhecem o trabalho que a gente faz. Então, meu caro, boa sorte, que Deus te abençoe, que o Miro não te atrapalhe, permita que você seja bem-sucedido na tua vida.
É isso, companheiros, eu quero agradecer a todos vocês, dar os parabéns e desejar boa sorte."