Renata Camargo
Um dia após a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o relatório final do documento com as 150 propostas aprovadas ainda não foi divulgado. As propostas foram aprovadas por sistema eletrônico, o que possibilitaria um resultado mais rápido. Mas a empresa contratada pelo Ministério das Comunicações para sistematizar as informações, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), cometeu uma série de erros sistemáticos.
Entre eles, a FGV perdeu propostas aprovadas pelos delegados (participantes com direito a voto) nas conferências regionais realizadas previamente ao encontro nacional, e divulgou propostas com redação que não correspondiam ao que os participantes teriam aprovado. A fundação também foi responsável por boa parte do clima caótico estabelecido durante os três dias de conferência. A sistematização das decisões aprovadas ocorreu de forma lenta, ocasionando incerteza sobre o que estava sendo aprovado.
“Eu estou sem voz muito em função dos problemas operacionais ocasionados pela entidade que foi contratada para fazer a sistematização das propostas e colaborar com o credenciamento dos delegados. Infelizmente, não houve o cuidado necessário”, considerou um dos organizadores do evento, o professor da Universidade de Brasília (UnB) Fernando Paulino.
Na avaliação de Paulino, faltou suporte por parte do Ministério das Comunicações, que “não ofereceu as condições necessárias para que houvesse o apoio suficiente para o acompanhamento da questão operacional da Confecom”. Segundo Paulino, a comissão organizadora do evento se debruçará nos próximos dias na verificação de todas as propostas que foram aprovadas, para que não haja erros de redação ou publicação de dados inválidos.
Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra), Walter Ceneviva, os erros sucessivos da FGV comprometeram “gravemente não apenas a legitimidade como a qualidade das discussões na conferência”. “A comissão de sistematização atendida pela FGV cometeu uma quantidade de erros descomunal, uma quantidade de erros que vem se repetindo desde as conferências estaduais. É preciso um acompanhamento no fechamento dos cadernos para a gente saber se o que foi debatido foi documentado”, ressaltou Ceneviva.
Desordem
A desorganização da 1ª Confecom, no entanto, não se limitou à sistematização das propostas aprovadas. Nos primeiros dias da conferência, falhas no processo de cadastramento dos participantes do evento também comprometeram a organização do encontro. Além da demora no credenciamento, problemas como entrega de credenciais erradas também geraram confusão.
Longos atrasos na programação do evento também refletiram em desorganização. No terceiro dia de conferência, a reunião plenária marcada para começar às 14h teve início com mais de quatro horas de atraso. As reuniões na plenária foram realizadas para debater as propostas que não tiveram consenso nos grupos de trabalhos. Na conferência, os cerca de 1,6 mil se dividiram em 14 grupos separados em subgrupos para debater assuntos relacionados às temáticas ‘produção de conteúdo’, ‘meios de distribuição’ e ‘cidadania: direitos e deveres’.
“Mas a sociedade civil e os empresários, especialmente, conseguiram assumir parte das questões operacionais e fazer com que a conferência acontecesse e fosse concluída. Poderia ter começado e não ter terminado. A gente percebeu logo de cara que aconteceriam problemas substanciais se a gente não tomasse a frente o processo”, explicou Paulino.
O acesso à internet também foi um grave problema enfrentado pelos participantes e pela imprensa que fazia a cobertura da 1ª Confecom. A empresa contratada para prestar serviço de acesso à internet sem fio e banda larga não conseguiu dar o suporte necessário. A consequência foi a dificuldade de acesso à internet e, em alguns momentos, impossibilidade total de acesso à internet wireless.
Procurada, a FGV ficou de enviar nota com a sua justificativa para o problema. O Congresso em Foco aguarda a nota e publicará as justificativas assim que as receber.
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