Gilson Euzébio, especial para a Revista Congresso em Foco
Maior empresa brasileira, orgulho nacional, a Petrobras ganhou proporções gigantescas para as dimensões do Brasil: domina um setor responsável por 13% do Produto Interno Bruto (PIB). Fatura sozinha R$ 305 bilhões por ano. Desde março do ano passado, quando a Polícia Federal desencadeou a Operação Lava Jato, o gigante está sob o fogo de artilharia pesada: a imagem de empresa bem administrada e de sucesso no desenvolvimento de tecnologia foi jogada na lama por dirigentes corruptos aliados a empreiteiras e partidos políticos inescrupulosos.
“É uma tragédia para a empresa que sempre foi um ícone”, lamenta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Escândalos e má gestão derrubaram o valor de mercado da Petrobras. Suas ações caíram aproximadamente 40% no ano passado. Tragédia não só para a Petrobras, mas para o Brasil, já que qualquer abalo numa empresa desse porte repercute em diversos setores da economia.
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“A falta de capacidade de reagir à crise e nenhum sinal de mudança na governança da petroleira ainda produzem efeitos devastadores sobre a confiança não só na Petrobras, mas sobre a economia brasileira”, diz o deputado Rubens Bueno, líder do PPS. A crise levou para o buraco as maiores empresas do setor de construção e se alastrou na cadeia de fornecedores do setor de petróleo e gás.
O resultado é demissão em massa de trabalhadores, empresas em dificuldade, estados e municípios preocupados com a queda das receitas em royalties de petróleo. Pelo menos três empresas citadas na Operação Lava Jato já declararam falência, e outra, a Alumini Engenharia, de São Paulo, entrou em recuperação judicial. Há risco de propagação da crise num efeito dominó: “O número de empresas envolvidas é muito grande”, ressalta José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Os prejuízos causados pelos escândalos na Petrobras são incalculáveis: além das perdas bilionárias em operações com valores superfaturados e com a falta de reajuste dos preços dos combustíveis, a Petrobras é investigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no Brasil, e pela Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos.
Aproveitando a onda, pessoas que investiram em ações da Petrobras iniciaram uma corrida à Justiça contra a estatal, com processos no Brasil e nos Estados Unidos, acusando-a de manipulação de preços. Para complicar ainda mais, a cotação do petróleo entrou numa trajetória de queda e chegou a US$ 46 em meados de janeiro. No curto prazo a queda de preços é positiva para a empresa: “Ajuda a fazer caixa, mas compromete o plano de investimentos”, diz Adriano Pires.
Hoje, a Petrobras importa petróleo barato e vende combustíveis caros. Em janeiro, o preço dos combustíveis no Brasil, segundo avaliação dos especialistas, estava 60% acima do valor compatível com a cotação do petróleo. Lucro para a Petrobras. Em compensação, a queda do preço do petróleo torna a exploração do pré-sal menos vantajosa. “O nível interessante para a Petrobras é US$ 70”, afirma Celson Plácido, estrategista da XP Investimentos. Segundo ele, o custo de extração no pré-sal é de aproximadamente US$ 15. Somadas as despesas de royalties e participação do governo, esse custo sobe para US$ 33 o barril.
No dia 6 de janeiro, a Petrobras divulgou nota informando que a exploração do petróleo do pré-sal é viável a partir de US$ 45, valor que pode ser reduzido com ganhos de escala de produção. São tantas incertezas que, na avaliação de Adriano Pires, não é possível dizer se a crise já chegou ao limite ou se ainda pode se agravar. “A Petrobras está muito machucada”, afirma.
Reserva gigante
Machucada, mas não abatida: a Petrobras dispõe de um quadro de profissionais qualificados e comprometidos com a empresa, possui a quarta maior reserva mundial de petróleo, e detém tecnologia de extração em águas profundas. São fatores que, na opinião de Adriano Pires, contribuirão para tirar a empresa do buraco.
“A empresa está com um problema de financiabilidade para exploração de suas reservas”, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que acredita na superação da crise e recuperação do valor de mercado da empresa. Segundo ele, os investidores conhecem bem o nível de reservas provadas da Petrobras, de 16,6 bilhões de barris de petróleo. Sabem, portanto, que a Petrobras vai sair da crise. Tecnicamente, a Petrobras é uma empresa só- lida e de “altíssima categoria técnica”, diz Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim. “O cenário é resultado da política”. “A Petrobras foi a empresa que mais aumentou suas reservas”, defende Fernando Leite Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).
“A empresa tem 70 bilhões de barris de reservas, no pré- -sal, para colocar em produção”, explica ele, referindo-se ao potencial das reservas. Falta à empresa, segundo Roriz, mostrar aos investidores que tem boa gestão e que superou a fase de desmandos e corrupção. A forma mais rápida de recuperar a credibilidade seria, segundo ele, substituir a desgastada diretoria da Petrobras, da qual faziam partes pessoas que hoje estão presas e são alvo de investigação.
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