Eduardo Militão
A comissão de sindicância da Câmara para apurar o comércio de bilhetes aéreos concluiu que três funcionários de dois gabinetes da Casa atuaram de forma que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, viajasse de avião com a esposa com dinheiro público. Apesar disso, ele pagou pela viagem, como mostrou o Congresso em Foco, com exclusividade em 16 de abril passado.
De acordo com o relatório da comissão, o dinheiro público só bancou uma passagem de Mendes graças à atuação dos agentes de viagens Vagdar Fortunato Ferreira e Suelma Dias dos Santos. Segundo o Congresso em Foco apurou, Vagdar foi indiciado pela Polícia Legislativa da Câmara ao menos uma vez. Este ano, uma mensagem eletrônica dele é investigada em um novo inquérito policial sobre comércio de bilhetes aéreos.
A comissão concluiu que a assessoria do ministro Gilmar Mendes procurou a agência Terra Viagens em julho do ano passado. A agente Suelma recebeu os dados do cartão de crédito do ministro, mas não fez a reserva da viagem de imediato. Ela procurou um colega chamado Paulo César Medeiros, que lhe daria uma comissão de 2% sobre vendas feitas por seu intermédio. Em seguida, Paulo contatou Vagdar para adquirir créditos de passagens.
Os créditos vendidos por Vagdar foram, segundo a investigação, comprados de três pessoas, ligadas aos deputados Fernando Coruja (PPS-SC) e Paulo Roberto (PDT-RS). Todos foram demitidos antes e depois da divulgação das reportagens do Congresso em Foco.
De acordo com a comissão, Arquísio Bites Leite tinha vendido a Vagdar R$ 2.500 em créditos de Coruja no ano passado. O deputado demitiu-o este ano por conta das reportagens do site. Da cota de Paulo Roberto, foram responsabilizados os ex-servidores Luiz Gustavo Nogueira e Luiz Flávio Nogueira, respectivamente pai e filho.
A comissão não apurou participação dos parlamentares no esquema. Coruja diz que não autorizou o repasse seus créditos. Paulo Roberto e seus atuais servidores dizem que a demissão de Luiz Gustavo, em novembro do ano passado, foi motivada por suspeita de desvio de sua cota.
Lucro
Gilmar Mendes pagou a agência de viagens com seu cartão de crédito. Mesmo assim, a passagens saiu da cota da Câmara. Segundo a comissão, os bilhetes foram adulterados de forma a serem apagadas as inscrições “MCO”, identificadoras de crédito parlamentar, do campo forma de pagamento.
Como os créditos de passagens eram comprados com deságio pelos operadores, a intermediação rendeu lucro aos agentes de viagens. Segundo o relatório da comissão, apenas no deslocamento São Paulo–Nova York–São Paulo, Gilmar Mendes pagou R$ 811 a mais do que seria necessário pela viagem.
A reportagem não localizou Vagdar e os servidores e agentes citados.
Como foi feita a fraude contra Gilmar Mendes e os cofres públicos Fora do Congresso No Congresso 1. Gabinete de Gilmar Mendes compra uma passagem na agência Terra 2. Com os dados do cartão de Gilmar, a agência acionou um operador de créditos de passagens no Congresso, Paulo César Medeiros 3. Paulo César aciona outro operador, Vagdar Fortunato Ferreira 4. Vagdar “compra” créditos de passagens dos servidores Arquísio Bites, do gabinete do deputado Fernando Coruja (PPS-SC), e Luiz Flávio e Luiz Gustvo Nogueira, do gabinete do deputado Paulo Roberto (PDT-RS).
Fonte: Relatório da comissão de sindicância administrativa instaurada pela portaria 52/