Em depoimento à CPI do Apagão Aéreo no Senado o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Juniti Saito, afirmou hoje (4) que o sistema aéreo brasileiro "é seguro e perfeitamente confiável". Ele também garantiu não existir "pontos cegos" no espaço aéreo e disse que esse argumento foi usado pelos controladores como "uma defesa" para evitar responsabilizações quanto ao acidente entre o jato Legacy e o Boeing da Gol, em setembro do ano passado. Na ocasião, 154 pessoas morreram.
"No dia o sistema estava funcionando perfeitamente", argumentou Saito. "O que posso garantir é que dizer que há pontos cegos é uma afirmação maldosa. Até pouco tempo, na região amazônica não havia radar. O que pode ter é falha na comunicação", disse o comandante.
Em sua exposição, Juniti Saito apresentou fotos dos radares que operam no país e explicou como funciona o treinamento dos técnicos e a manutenção do equipamento, além de dar detalhes sobre os valores investidos pela aeronáutica para garantir a segurança no espaço aéreo.
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O comandante refutou totalmente a idéia de desmilitarizar o setor de controle de tráfego aéreo e disse que o sistema brasileiro "tem mais de 30 anos de reconhecimento e é citado como modelo até para a força aérea norte-americana".
"No Brasil, há um sistema que funciona e funciona bem, não tem porque ficar fazendo essa propaganda negativa. Uma coisa é acidente, crise e falta de controladores, outra é essa campanha de desmilitarização. Nós estamos na Força Aérea porque amamos o que fazemos. E aí vem um controlador com um ano e meio de carreira e diz que tem que desmilitarizar. É melhor ele pedir demissão do que ficar influenciando outros para dizer que o sistema não funciona", disse.
Após o depoimento, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), relator da CPI, disse não acreditar que a desmilitarização seja de fato a melhor solução. "Tem que melhorar os salários, agora se vai desmilitarizar é outra história. Na Itália, por exemplo, teve uma greve de controladores civis que deixou tudo parado. Tem que avaliar isso depois", disse.
Relatório parcial
Na próxima quarta-feira (6), Demóstenes apresentará seu relatório parcial à comissão. O documento falará sobre as causas do acidente com o avião da Gol.
“No caso do acidente eu não tenho dúvidas de que os culpados foram os dois pilotos e os quatro controladores. Eu concluo da mesma forma que o Ministério Público. Agora se o sistema é perfeito ou não, nós temos que verificar. Já sabemos que há falta de controladores; esses controladores não recebem o ideal; pode haver problemas na carga horária e no próprio sistema”, disse o senador.
Até o momento, Demóstenes enumerou seis pontos que, em sua opinião, contribuíram para que ocorresse o acidente entre o Gol e o Legacy e a crise aérea que ocorreu em seguida. Entre eles está a "desordenação do sistema aéreo brasileiro" e "a retenção indevida da arrecadação de divisas da Infraero".
Até a próxima semana, a intenção do relator é de convocar um técnico independente, que não seja ligado nem à Aeronáutica e nem aos controladores para dar um parecer sobre o funcionamento do sistema aéreo brasileiro.
“Queremos que um técnico independente venha nos dizer o que foi certo o que é errado e se o sistema funciona bem ou não. Aí apresentaremos o segundo relatório parcial, que deve sair na semana que vem”, disse Demóstenes Torres.
O primeiro relatório parcial da CPI do Apagão Aéreo no Senado incluirá os depoimentos prestados hoje. Além do comandante da aeronáutica, Juniti Saito, e do ex-diretor-geral do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), tenente-brigadeiro-do-ar Paulo Roberto Vilarinho, também está sendo ouvido o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi. (Soraia Costa)
Matéria atualizada às 19h09
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