Assessor especial do Ministério do Turismo, Norton Domingues Masera, de 42 anos, recebe R$ 5,4 mil líquidos, mensalmente. Norton foi nomeado na pasta, em 2014, pelo ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) – um dos acusados, a exemplo do presidente Michel Temer, de compor o “quadrilhão do PMDB” –, preso em Curitiba por suspeita de superfaturamento nas obras do estádio Arena das Dunas, em Natal (RN), em desdobramento da Operação Lava Jato. Mas, mesmo diante da limitação do salário, “o funcionário público bancou festas, comprou veículos valiosos e construiu uma moradia invejável” em Brasília, segundo reportagem da revista IstoÉ deste fim de semana, intitulada “A boa vida do operador”.
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Norton é apontado como um dos responsáveis pela tarefa de receber propina em nome de Henrique Alves, dinheiro ilegal do qual retirava percentuais em uma espécie de taxa de serviço. A acusação foi feita pelo doleiro Lúcio Bolonha Funaro, delator da Lava Jato e acusado de ser o operador do PMDB em esquemas de corrupção. Em relatos feitos ao Ministério Público, Funaro afirmou que parte dos repasses ilícitos envolvendo Henrique Alves era missão de assessores do ex-ministro do Turismo, entre eles Masera.
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“A afirmação de Funaro é comprovada nas planilhas do operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha apreendidas pela PF. Nelas, há uma indicação de que Masera recebeu R$ 600 mil em setembro de 2014, quando Henrique Alves era presidente da Câmara. Depois que passou a exercer a atividade, o secretário parlamentar da Câmara, na ocasião, aumentou seu patrimônio consideravelmente. Entre um transporte e outro de malotes de dinheiro desviado de órgãos públicos – quando Henrique Alves estava solto –, o homem da mala se dedicava aos prazeres da vida”, diz o texto assinado pelo repórter Ary Filgueira.
A reportagem lembra que, com a prisão de Henrique Alves em junho, “as propinas minguaram”. “A vida de Norton não foi mais a mesma. A situação pode piorar caso a Justiça decida penhorar seus bens para cobrir o desvio dos cofres públicos”, aponta a revista, que registra imagens de Norton ostentando bens e hábitos incompatíveis com a renda declarada como funcionário público – entre eles uma casa com piscina de cerca de R$ 2 milhões em condomínio valorizado, um Ford Camaro com valor estimado em R$ 200 mil e uma moto de velocidade na faixa dos R$ 50 mil.
“Mesmo com uma renda modesta, ele levava uma vida de luxo. […] Na época de vacas gordas, dividia o tempo com seu maior hobby, que é o motociclismo, e frequentava festas badaladas na capital federal. Em algumas delas, costumava chegar pelas águas do Lago Paranoá”, acrescenta a reportagem.
O enriquecimento de Henrique
Como este site mostrou em 6 de junho, Henrique Eduardo Alves exerceu o mandato de deputado federal por 44 anos ininterruptos. Filho do ex-ministro e ex-governador Aluizio Alves, já falecido, ele chegou ao Congresso em 1971 e de lá só saiu no início de 2015, após perder a disputa ao governo estadual. Com 11 mandatos, ele empata com o ex-presidente da Câmara Ulysses Guimarães (PMDB) na segunda colocação entre os deputados com mais legislaturas. Os dois perdem apenas para o ex-deputado baiano Manoel Novaes, que exerceu 12 mandatos, entre 1933 e 1982, detentor do recorde nacional.
Presidente da Câmara entre fevereiro de 2013 e fevereiro de 2015, Henrique Eduardo Alves foi ministro do Turismo nas gestões de Dilma e Michel Temer. Amigo pessoal de Temer, o peemedebista deixou o cargo em junho de 2016 após ser citado na delação do ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado como beneficiário de R$ 1,55 milhão em propina, entre 2008 e 2014. Mas as encrencas contra o ex-deputado de 68 anos não se limitam à suspeita de recebimento de “vantagens indevidas” para a construção de um dos mais belos estádios da Copa de 2014.
Ele é réu em pelo menos outras duas ações no Distrito Federal. No primeiro caso é acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas em razão de depósito milionário em conta mantida por ele na Suíça. A denúncia é baseada em dados enviados da Europa para autoridades brasileiras. Na conta, que está bloqueada, foram encontrados 800 mil francos suíços, cerca de R$ 2,8 milhões. Em outro processo, também em tramitação na Justiça Federal em Brasília, Henrique Eduardo Alves é acusado de improbidade administrativa. De acordo com a procuradoria, a ação foi proposta em 2004 e apura indícios de enriquecimento ilícito entre os anos de 1998 e 2002.