Lúcio Lambranho
O deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que disse que estar se lixando para a opinião pública, fez escola na Câmara. Jair Bolsonaro (PP-RJ) usa a mesma frase de efeito para desqualificar as representações que tentaram, sem sucesso, tirar seu mandato. Para o deputado fluminense, o Congresso não tem “moral” para cassá-lo.
“Estou me lixando para essas representações. Não vou ficar quieto. Falou mentira aqui, o bicho vai pegar. Eles não dizem que lutaram para ter liberdade de expressão? Por que agora querem cassar a minha”, dispara Bolsonaro em entrevista ao Congresso em Foco. “Com que moral vão me cassar aqui neste Congresso?”, questiona o parlamentar, que vai tentar chegar ao sexto mandato consecutivo nas eleições de outubro de 2010.
Na defesa que encaminhou à Corregedoria no dia 1º de julho, o deputado alegou que tem imunidade parlamentar para falar o que bem entender e que não ofendeu os gays ao chamar o presidente Lula de “homossexual”. Seu alvo, segundo ele, era o governo federal. Bolsonaro argumenta ainda que parlamentares da oposição fizeram críticas mais duras contra o governo e que, nem por isso, sofreram representação.
Em novembro de 2003, Bolsonaro bateu boca com a deputada Maria do Rosário (PT-RS) diante das câmeras de uma rede de TV. Relatora da CPI da Exploração Sexual Infantil, Maria do Rosário daria uma entrevista sobre os desdobramentos das investigações quando foi interrompida pelo colega. O deputado defendia, em outra entrevista, a redução da maioridade penal.
Os dois travaram um briga com direito a empurrão no Salão Verde da Câmara (veja o vídeo).
Abaixo, parte do diálogo áspero entre os dois deputados:
“Rosário – O senhor é responsável por essas mortes todas, esses estupros, essa violência.
Bolsonaro – Grava aí. Eu sou estuprador agora.
Rosário – É, o senhor é estuprador.
Bolsonaro – Jamais iria estuprar você, porque você não merece.
Rosário – Eu espero que não, se não te dou uma bofetada.
Bolsonaro – Dá, que eu te dou outra. Você me chamou de estuprador, com que moral? Vagabunda
Rosário – O que é isso aqui? Desequilibrado!”
A deputada saiu aos prantos. “Mas o que é isso? Mas o que é isso?”, repetia Rosário, com incredulidade. O PT entrou com uma representação contra Bolsonaro, mas o processo também foi arquivado.
Água e flecha
Em maio do ano passado, o deputado se envolveu num bate-boca com um cacique que acompanhava uma audiência pública sobre a demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol. Bolsonaro chamou o ministro da Justiça, Tarso Genro, convidado da audiência, de “terrorista”. Em defesa do ministro, o índio jogou um copo de água no deputado. “Eu peguei um copo de água porque não tinha uma flecha. Se eu tivesse, metia uma flechada nele”, declarou o cacique.
Bolsonaro acusou o índio de não ter legitimidade para defender a demarcação da reserva. “É um índio que está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de porco, tomar um chope, provavelmente um uísque, e quem sabe telefonar para alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens”, contra-atacou.
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