Abre-se, a partir de amanhã (quarta-feira, 7), uma janela para políticos trocarem de partido político sem correr o risco de perder o mandato. Com a chamada janela partidária, que vai se estender até 7 de abril, deputados terão de fazer um cálculo eleitoral: conciliar as conveniências em suas bases eleitorais com a promessa de ajuda financeira para suas campanhas políticas. A julgar pelas movimentações dos últimos anos, mudanças baseadas em conteúdo programático ou ideológico serão exceções.
Nesse período, a Câmara deverá se tornar uma espécie de “feira livre”. Há partidos, como o PTB e o PR, que oferecem até R$ 2,5 milhões – teto do gasto da campanha de um candidato a deputado federal – para bancar integralmente os custos da eleição. Ou seja, nesse caso, o parlamentar não precisará tirar dinheiro do bolso nem buscar doações de pessoas físicas, outras hipóteses de arrecadação. O MDB, do presidente Michel Temer, acena com a doação R$ 1,5 milhão, mesmo valor a ser destinado aos atuais emedebistas. Também tem sido oferecido espaço garantido em inserções no horário eleitoral.
Leia também
Em 2016, na última janela partidária, foram registradas mais de 70 mudanças partidárias. A tendência, porém, é que esse número seja superado este ano devido às novas regras eleitorais.
Pela primeira vez, desde 1994, o país não terá financiamento empresarial nas campanhas para deputado estadual e federal, senador, governador e presidente da República, o que fortalece o papel dos partidos na captação de recursos.
As legendas terão duas fontes de dinheiro público para abastecer as campanhas de seus filiados: o fundo eleitoral e o fundo partidário, que somam R$ 2,6 bilhões. A janela partidária é uma brecha que os parlamentares criaram, em 2015, para permitir que eles troquem de partido, durante um mês, a cada ano eleitoral, sem serem punidos com a eventual cassação do mandato por infidelidade partidária. Até hoje apenas dois deputados federais foram cassados por esse motivo: Walter Brito Neto (PB) e Robson Rodovalho (DF), em 2008 e 2010, respectivamente.
Além do acesso facilitado ao dinheiro e ao horário eleitoral, os parlamentares recém-filiados assumem o controle da máquina partidária em seus estados. É o comando local do partido que determina quem vai aparecer no horário eleitoral, quem vai receber repasses, as candidaturas que terão prioridade. Isso garante um poder muito grande ao parlamentar candidato e abre uma avenida para a sua reeleição.
E por que os partidos querem atrair mais deputados para os seus quadros?
Porque quanto mais deputados uma legenda tiver, mais recursos do fundo partidário e tempo de TV ela terá, já que a distribuição tanto do dinheiro quanto do horário eleitoral e partidário é proporcional ao número de deputados.
Além disso, quanto maior a bancada, maior o seu poder de barganha e pressão sobre o governo. Isso permite ao partido criar dificuldades para vender facilidades. Possibilita, por exemplo, a cobrança de cargos, de liberação de recursos para bases eleitorais e o controle de estatais, em troca de votos em votações importantes para o governo. Essas distorções são o pano de fundo do mensalão, do petrolão e outros escândalos políticos da história recente do país.
Os partidos médios são os que terão mais a oferecer para atrair deputados. Sem presidenciáveis, sobrará mais dinheiro para distribuição entre os atuais parlamentares e os recém-filiados. Situação oposta enfrentam as grandes legendas, que terão candidatura própria, a exemplo do PT e do PSDB. Parte dos recursos que receberão do fundo eleitoral e partidário terá de ser dividida também com os candidatos ao Planalto e a candidatos a governador.
A janela partidária será fundamental também para as pretensões de dois dos três primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto: Jair Bolsonaro (PSL), que aparece na segunda colocação, e Marina Silva (Rede), terceira colocada. Hoje os dois partidos têm apenas três representantes no Congresso. Caso não alcancem ao menos cinco representantes no Congresso, Bolsonaro e Marina correm o risco de ficar fora dos debates eleitorais. Nesse caso, as emissoras de rádio e TV ficam desobrigadas de chamá-los para participar do momento de maior projeção da campanha eleitoral.
>> Acordo para comando em 24 comissões na Câmara prevê salvaguarda contra infidelidade partidária