A atuação do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), foi fundamental para que a comissão aprovasse, com 17 votos favoráveis e quatro contrários, o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PT).
O relatório foi votado sem que os integrantes da CPI tivessem acesso às alterações feitas no texto final do relator, o que deixou furiosos os parlamentares governistas. O deputado Jorge Bittar (PT-RJ) era o mais irritado. Delcídio também não permitiu que houvesse discussão. Abriu a sessão anunciando que apenas colocaria o relatório em votação. Encerrada a sessão, o deputado fluminense xingou o senador, seu colega de partido, de "canalha", "filho da puta" e "Judas".
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que pediu uma questão de ordem não acatada por Delcídio e foi impedida de falar durante a sessão, anunciou que o PT entrará com recurso contra a decisão, por entender que não foram respeitadas as normas legais e regimentais. Delcídio também informou que acionará Bittar por quebra do decoro parlamentar.
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O texto aprovado incorpora 35 modificações negociadas entre oposição e governo. Serraglio não mexeu, porém, naquele que era considerado o ponto central do relatório: o mensalão, ou seja, a vinculação feita pelo relator entre os repasses irregulares de recursos movimentados por Marcos Valério e o aliciamento de deputados para a base governista. "Não mudou nada no que diz respeito ao mensalão", afirmou Serraglio logo após o encerramento da votação. "Foi uma vitória da investigação correta".
Mudanças
Entre as mudanças, está a inclusão do empresário Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity, na relação das pessoas que tiveram o indiciamento proposto. Empresas então sob o controle de Dantas repassaram mais de R$ 150 milhões para as agências de Marcos Valério, o que levou os governistas a estranhar sua ausência no texto original de Serraglio. Atribui-se a Dantas grande influência nas hostes oposicionistas.
Por outro lado, foram excluídos do rol de indiciados o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb; o ex-diretor do BB Edson Machado Monteiro; o secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Márcio Lacerda; o atual presidente dos Correios, Janio Cezar Luiz Pohren; e de José Adelar Nunes, ex-tesoureiro do PT catarinense, que morreu em 2004, mas cujo nome constava do relatório original de Serraglio.
O vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade (PTB-MG), também foi poupado na versão final do relatório. Serraglio pedia o indiciamento de Clésio por crime eleitoral já prescrito.
O relator também alterou a redação sobre a Visanet para deixar claro que as irregularidades foram cometidas pela Diretoria de Marketing do Banco do Brasil, e não pela Visanet, que é uma empresa administradora de cartão de crédito, formada pelo Visa e mais 21 bancos brasileiros.
O que Serraglio e a oposição não aceitaram, em nenhuma hipótese, foi a tese encontrada pelo PT para as irregularidades identificadas: o argumento de que todos os repasses a políticos ou a assessores parlamentares tinham como destino o financiamento, via caixa dois, de campanhas eleitorais.
Na tentativa de questionar o encaminhamento dos trabalhos, muitos parlamentares da base governista terminaram não dando o seu voto. Isso explica por que foram contabilizados apenas 21 votos em uma comissão com 32 membros.
O governo pretendia votar também 37 votos em separado. Serraglio explicou, após a aprovação do seu relatório, que incorporou parte deles ao texto final, descartando os restantes. Diante dessa explicação, Delcídio deu por encerrada a votação e concluídos os trabalhos da CPI.
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