Fábio Góis
Diante da disposição do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), em se manter no comando do Senado, os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Renan Calheiros (AL), líder do PMDB na Casa, protagonizaram um bate-boca que aumentou a temperatura da sessão não deliberativa pós recesso desta tarde. Citado na conversa, o ex-presidente da República e agora senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello (PTB), pediu um aparte para reagir de forma veemente contra Simon.
“São palavras em relação a mim e às minhas relações políticas. São palavras que eu não aceito, e que quero o senhor as engula e as digira como julgar conveniente. As minhas relações são conhecidas e das quais em algum momento me arrependi”, disse Collor, olhando fixamente para Simon, que ocupava a tribuna. No calor da discussão, Collor radicalizou: “Eu lhe peço, encarecidamente, que, antes de citar o meu nome desta tribuna, engula, digira, e faça dela [a palavra] o uso que julgar conveniente. Da próxima vez que o senhor pronunciar meu nome nesta Casa, vou ser obrigado a relembrar alguns fatos, alguns momentos talvez extremamente incômodos para vossa excelência.”
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A certa altura de sua fala, Simon se dirigiu a Renan e lembrou os momentos que antecederam o governo Collor, na ocasião em que uma suposta reunião trataria de sua candidatura. “Vossa excelência foi lá na China e fez o acordo com o Collor. Foi dos homens que estiveram com o Collor. (…) Depois, na véspera do Collor ser cassado, vossa excelência largou o Collor. Tchau, tchau!”, bradou Simon, em menção ao impeachment sofrido por Collor em 1992. “E lá pela tantas apareceu de ministro da Justiça de Fernando Henrique. E lá pelas tentas largou o Fernando Henrique. E agora é homem de confiança do presidente Lula”, arrematou.
“Quando o senhor se refere a uma reunião na China, (…), o senhor fala sem saber do que aconteceu. Tudo aquilo é pura invencionice, não aconteceu. Minha candidatura nasceu fruto de uma conversa com o Marcos Coimbra, presidente do [Instituto] Vox Populi, que demonstrou que havia uma situação que viabilizaria minha candidatura à presidência da República”, emendou Collor, acrescentando que havia “um vazio” no cenário eleitoral naquela época, quando o então líder sindical Lula perdeu a corrida presidencial.
Homens de Sarney
Foi exatamente a suposta falta de mudanças no Senado um dos argumentos de Simon para pedir a saída de Sarney. “Isso que está aí há dezesseis anos foi ele [Sarney] quem começou, indicando as pessoas que estavam no comando e ficaram durante esse longo tempo. Dezesseis anos! Ele, o Antonio Carlos [Magalhães, DEM-BA], homem dele, o Jader [Barbalho, PMDB-AM], homem dele, […], e o Renan, homem dele.”
Antes da intervenção de Collor, Renan respondeu ao discurso de Simon. Iniciou seu aparte dizendo gostar “muito” do senador, mas que queria “reparar um equívoco”. “Só lamento que o esporte preferido de vossa excelência, nos últimos 35 anos, tenha sido falar mal de Sarney”, rebateu Renan, acrescentando que Simon pretendeu ser indicado para a vice-presidência de Tancredo Neves, mas não foi ungido pelo partido para o posto – e, por isso, teria uma postura revanchista contra Sarney e os caciques do partido. Renan acusou ainda os “dois pesos e duas medidas” supostamente usados por Simon para, à época da disputa pela presidência do Senado, em fevereiro, manifestar apoio à candidatura de Sarney, para agora atacá-lo. “É um triste papel.”
Aproveitando a defesa inflamada de Renan a Sarney, Collor se valeu de sua experiência na presidência da República para defender seu colega governista. “Eu não aceito, com a responsabilidade de ex-presidente da República, que se trate dessa forma um homem que governou o Brasil, que cumpriu a transição democrática com grandeza e com maestria e que hoje está sendo vitimado por acusações de toda natureza. Sei o que é isso porque eu por isso passei em muito maior escala, e sei como essas coisas funcionam. Sei como tudo isso é feito, como tudo isso é forjado”, disse Collor, para em seguida manifestar apoio irrestrito a Renan e Sarney. “Estou do lado dele e do presidente José Sarney. Essa casa não deverá de se agachar àquilo que certa parte da mídia deseja. Ela não conseguira retirar o presidente Sarney dessa cadeira. Nem o senhor!”
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