Em nota divulgada ontem (1º), na abertura de sua 45ª assembléia geral, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) voltou a criticar a política econômica do governo Lula.
O documento, divulgado uma semana antes da visita do papa Bento 16 ao Brasil, contesta a prioridade dada pelo governo ao pagamento dos juros da dívida pública em detrimento do atendimento das "necessidades básicas dos trabalhadores e o desenvolvimento do país".
O texto, assinado pelo presidente da CNBB, d. Geraldo Majella Agnelo, pelo vice, d. Antonio Celso de Queirós, e pelo secretário-geral, d. Odilo Scherer, diz que "algumas políticas públicas" têm melhorado a vida do trabalhador brasileiro. Mas ressalta a "preocupação" da entidade com a "persistência do desemprego, o subemprego, a informalidade, o trabalho infantil, as migrações internas e para outros países".
No encontro, que se estenderá até a próxima semana, os bispos vão definir o novo comando da CNBB. (Edson Sardinha)
Veja a íntegra do documento divulgado ontem:
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“Mensagem aos Trabalhadores e Trabalhadoras
Reunidos em Itaici, por ocasião da 45a Assembléia Geral da CNBB, nós Bispos Católicos do Brasil, saudamos, neste 1º de Maio, os trabalhadores e as trabalhadoras de nosso país com uma mensagem de fé e esperança, celebrando com todos a dignidade do trabalho.
O Ensino Social da Igreja à luz do Evangelho de Jesus Cristo proclama o trabalho como essencial para a realização da pessoa humana, para a promoção da justiça social, para a defesa e a garantia da dignidade e do direito de todos.
Reconhecemos que algumas políticas públicas têm proporcionado transferência de renda, oferta de novos postos de trabalho, recomposição do poder de compra do salário mínimo. Preocupam-nos, no entanto, a persistência do desemprego, o subemprego, a informalidade, o trabalho infantil, as migrações internas e para outros países.
Igualmente lamentamos e denunciamos a situação de trabalhadores em regime de escravidão, o tráfico de pessoas e o número de acidentes de trabalho.
Entendemos que uma política econômica, que privilegia o pagamento dos juros da dívida pública, compromete um orçamento capaz de atender às necessidades básicas dos trabalhadores e o desenvolvimento do país.
Diversos segmentos da sociedade se empenham por reformas que repercutirão na vida dos trabalhadores. Esperamos que estas venham significar mais segurança no trabalho, salário justo, digna aposentadoria e eqüitativa distribuição de riqueza e renda.
Reverenciamos a coragem e a generosidade dos trabalhadores e trabalhadoras, cuja vida expressa solidariedade e compromisso com a justiça, tanto no campo quanto na cidade.
Reconhecemos o empenho dos cristãos e de outras pessoas de boa vontade, em particular dos que atuam no mundo do trabalho, na construção da sociedade que todos desejamos. Manifestamos total apoio às inúmeras romarias dos trabalhadores que hoje se realizam em muitas comunidades que, sob a inspiração e o patrocínio de São José Operário, testemunham o valor e a dignidade do trabalho.
A Jesus Cristo Ressuscitado, da família de Nazaré, “o filho do carpinteiro”, confiamos as famílias dos trabalhadores a fim de que Nele todos tenham vida.
Itaici, Indaiatuba – SP, 01 de maio de 2007.
Cardeal Geraldo Majella Agnelo
Arcebispo de S. Salvador da Bahia, BA
Presidente da CNBB
Dom Antonio Celso de Queirós
Bispo de Catanduva, SP
Vice-presidente da CNBB
Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo, SP
Secretário-geral da CNBB”