A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) retomou o embate com o governo federal ontem (21) no lançamento da Campanha da Fraternidade 2007. O tema deste ano é “Fraternidade e Amazônia: vida e missão neste chão”.
Durante o lançamento da campanha, em Belém (PA), o secretário-geral da CNBB, d. Odilo Pedro Scherer, afirmou que as ações do governo são ineficientes ou ausentes na Amazônia.
"O tema foi escolhido porque a questão da Amazônia está em evidência e a campanha visa promover a fraternidade, que significa justiça social, solidariedade, respeito aos direitos humanos", disse Scherer. "Na Amazônia há muitas situações em que a fraternidade é ferida", emendou.
O secretário-geral da CNBB citou ameaças de morte a sindicalistas e o assassinato da freira Dorothy Stang há dois anos, no Pará, como exemplos dessas feridas.
"A questão da violência na Amazônia surge por causa da ausência ou ineficiência do Estado. O Estado chega depois que os problemas já estão instalados. Isso não é de hoje", observou o bispo (leia a íntegra do pronunciamento).
Leia também
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que participou do lançamento da campanha, disse que "o trabalho [do governo] é inicial" na preservação da Amazônia, mas que o desmatamento caiu 52% nos últimos dois anos. De acordo com a ministra, os projetos do primeiro mandato vão continuar até o fim do segundo governo do presidente Lula.
O texto-base da campanha afirma que “o Estado foi omisso no cumprimento de suas funções”, pois “deixou de fazer a regularização fundiária, foi incapaz de fiscalizar cartórios e grileiros e de controlar a corrupção”.
Além disso, o documento diz que “os latifúndios, na Amazônia, têm origem esdrúxula, quando não ilegal”, e que “a concessão de uma liminar de despejo, num conflito com o latifúndio, parece, pelo menos, temerária”.
Para a ministra, a Campanha da Fraternidade não oferece críticas ao governo. "Alguém perguntou: "Vocês entendem o tema [da campanha] como uma crítica ao governo?". E eu disse: "De jeito nenhum". O objetivo da Campanha da Fraternidade é ajudar o governo, e não só o federal, a assumir mais responsabilidade."
De acordo com a Folha de S. Paulo, Marina apresentou números do governo sobre a preservação na Amazônia. Segundo ela, 1.500 empresas criminosas foram fechadas, ocorreram as prisões de 400 pessoas por crimes ambientais, 66 mil propriedades griladas foram regularizadas na Amazônia e houve a apreensão de 800 mil metros cúbicos de madeira.
Além de focar na preservação ambiental, a CNBB também mira na expansão da Igreja Católica na região. Segundo o secretário-geral da entidade, a campanha deve "reforçar a presença missionária na Amazônia".
"Desejo fazer um pleito de gratidão a todos aqueles corajosos missionários que se consagraram e se consagram à custa inclusive da própria vida em levar a fé católica na cidade e aldeias da região", escreveu o papa Bento 16, em mensagem lida em vídeo gravado pelo presidente da CNBB, d. Geraldo Majella, que não compareceu ao evento.
O lançamento da campanha foi na ilha de Combu. Cerca de 150 pessoas foram levadas em dois barcos até o local. A Companhia Vale do Rio Doce patrocinou o evento, mas não informou o valor repassado à CNBB. Segundo a Folha, a ajuda da empresa foi criticada por entidades católicas como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que disse haver incoerência na colaboração. A entidade aponta a Vale como uma empresa que ajuda a devastar a região.