O deputado Clodovil Hernandez (PTC-SP) fez hoje (6) seu primeiro discurso na Câmara pedindo bondade na política. “Ao aplicar a política com bondade, Brasília nunca mais será a mesma, nem o Brasil”, disse. Um pouco nervoso em sua estréia, o parlamentar admitiu que, embora seja “comunicador”, preferiu que sua assessoria preparasse seu discurso inaugural. “Estou um pouco atrapalhado”, comentou.. Logo depois ele comparou a Câmara a um mercado devido às conversas paralelas dos deputados, e conseguiu silenciar o plenário para seu discurso.
Segundo ele, o maior “medo” em sua nova atividade é a quebra do decoro parlamentar. “Me botaram muito medo, não sei o que é decoro”, desabafou. Antes mesmo de ser diplomado, Clodovil causou polêmica ao insinuar, em entrevista ao jornal argentino Perfil, que poderia vender seu voto, dependendo do tamanho da oferta.
Pelo que se viu há pouco em sua estréia na Câmara, porém, ele não parece correr risco de sofrer um processo por quebra de decoro parlamentar. Clodovil foi acalmado por vários deputados, que aproveitaram para pegar carona no seu pronunciamento. “Tenha certeza que o senhor não fez nada que feriu a honra dos deputados nem desta Casa”, atestou o deputado Carlos Willian (MG), líder do PTC.
Leia também
Quem também pediu a palavra para elogiar a trajetória de Clodovil foi o deputado Paulo Maluf (PP-SP), ressaltando a “sinceridade” com que o ex-estilista se expressa: “O senhor não diz o que o público quer ouvir, mas sim o que com sinceridade sente”.
Já a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) disse que Clodovil é sensível às questões sociais e aproveitou para falar que se sente “identificada com as causas” que o deputado defende.
“Arregacem as mangas”
Clodovil afirmou que, após anos como “estilista, comunicador e ator de sucesso”, vê uma guinada em sua vida e que o “povo brasileiro precisa de uma nova chance e de um novo olhar”. Ele também comentou que seu sucesso se deve ao trabalho e “não por coisas desonestas”. E prometeu continuar agindo com “honestidade, lealdade, sinceridade e bondade”. No entender dele, “somente a bondade” pode garantir a melhoria do padrão de vida do povo brasileiro.
No discurso, Clodovil rejeitou críticas morais ao seu comportamento, afirmando que quem as faz é por que tem um “lado moral sujo”. E pediu trabalho a todos os parlamentares: “Arregacem as mangas, de preferência, com elegância”.
Falta de educação
Após o discurso no plenário, Clodovil tachou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), de "mal -ducado", por ter iniciado a ordem do dia exatamente depois da fala do ex-estilista. "O senhor Chinaglia me botou para fora sem dizer nada, é muito mal-educado. Eu ouvi ele uma hora falando no meu ouvido quando queria o meu voto [para a presidência da Câmara]. Eu não preciso dele para nada. Estou aqui por desejo das pessoas e não dele", disse.
Ele fez o mesmo comentário sobre os demais deputados, por não terem aplaudido seu pronunciamento. "Acho o Plenário mal-educado. Se a gente trabalha para uma nação, a gente tem que prestar atenção no que as pessoas estão dizendo", concluiu.
Para mais informações sobre Clodovil, leia a entrevista exclusiva que ele deu ao Congresso em Foco. (Severino Motta)
Leia a íntegra do primeiro discurso de Clodovil
"Se dissesse que estar aqui é a realização de um sonho, estaria faltando com a verdade. Em nenhum momento desejei ser deputado federal, um representante do povo brasileiro em uma das mais importantes instituições do País. Imagino que Vossas Excelências também nunca imaginaram ter-me como colega, aqui, neste plenário.
Este é um momento especial da minha vida. Após ter construído uma carreira sólida e de sucesso como estilista e comunicador, chego aos 70 anos dando uma dessas guinadas inesperadas, onde a experiência e o conhecimento me trazem a sabedoria que preciso para seguir em frente com a serenidade e a tranqüilidade que os anos trazem.
Durante a campanha, vi e ouvi expressões e palavras de surpresa, dúvida e até reprovação; mas a maioria das mensagens foi de esperança. Esperança em quem sempre colocou a verdade à frente da própria estabilidade profissional, pessoal e financeira; e de quaisquer outros interesses. Ao defender a verdade, defendi a minha alma. Até hoje, meus atos só prejudicaram a mim mesmo.
É com muita honra e felicidade que estou aqui, representando quase 500 mil paulistas que me elegeram com seu voto. Pessoas que acreditam em mim, testemunhas do meu compromisso com a verdade, com a lealdade, com a beleza, e claro, com a felicidade. É pra esta gente que vou trabalhar e a elas dedico meus novos objetivos: ser o melhor representante do povo que me elegeu e fazer desta casa, um lugar onde a bondade esteja presente na prática, convivendo e pautando o exercício do poder, servindo de peso e medida nas disputas e conveniências políticas e pessoais.
No Brasil que vivemos hoje, esta disposição pode parecer utopia, ingenuidade ou até mesmo uma atitude dispensável, mas tenho certeza que não é. No mundo de hoje, precisamos pelo menos tentar resgatar a bondade que, acredito, existe em toda alma humana.
Bondade que pode vir ao pensarmos primeiro na maioria e no bem comum ao aprovarmos uma lei, ao defendermos uma causa.
Bondade ao reconhecermos que seremos mais felizes se os bens materiais que tanto buscamos estiverem ao alcance do conjunto da população. Bens que possam ser usados por todos, sem medo, sem reprovação, sem inveja, sem assaltos, sem seqüestros.
Bondade ao entender que se todos tiverem direito à Educação, à Saúde e a um Emprego, a luta pela realização dos sonhos materiais, vai depender de cada um, de cada destino.
Se fizermos política assim, todos sairemos ganhando, mas ganhará principalmente o Brasil.
Fala-se muito em crescimento, em desenvolvimento.
Mas como crescer se não investimos nas pessoas?
Defendo a bondade em cada ato desta casa, por que sei, por experiência própria, pelo que vejo no mundo, que a bondade cura mais que qualquer remédio, abre portas, nos ajuda a crescer e nos transforma em seres humanos melhores.
Acredito até, que mesmo que cometamos os sete pecados capitais, ao sermos bondosos, nos damos uma nova chance. E é disso que o Congresso brasileiro precisa, de uma nova chance, de um novo olhar.
Vamos nos esforçar e tentar trocar a soberba pela humildade: não somos fonte de nossos bens materiais e espirituais, temos que reconhecer o nosso nada diante do Universo.
Vamos evitar a avareza e se