A intensa comoção causada pela execução da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes, na última quarta-feira (14), tem gerado, além de manifestações e homenagens emocionadas, uma onda de acusações e notícias falsas, as chamadas fake news, sobre a trajetória política e pessoal da vereadora. Circulam pelo Whatsapp e pelas redes sociais, sem nenhum tipo de comprovação, boatos que vão desde a sua conexão com o crime organizado até o uso de drogas.
Entre os que já compartilharam fake news sobre a vereadora, estão até mesmo figuras públicas. Em sua conta no Twitter, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), um dos líderes da chamada bancada da bala, escreveu que Marielle era “ex-esposa do Marcinho VP”, traficante que comandava o tráfico na zona sul do Rio, “usuária de maconha” e “defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho”. O parlamentar disse ao Congresso em Foco que fez a postagem após ler “várias publicações”, já identificadas como falsas. Após a repercussão negativa, a postagem foi apagada.
>> Depois de postar fake news com acusações a Marielle, Fraga diz que “esquerda” quer torná-la “mártir”
Publicidade
Já no Facebook, a desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) Marilia Castro Neves classificou Marielle como “cadáver comum” e a acusou de aliança com o crime. “A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’; ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores”, escreveu ela.
Na tentativa de conter a circulação de notícias falsas, o departamento jurídico do Psol e familiares de Marielle Franco se mobilizaram em uma força-tarefa para identificar e denunciar as pessoas que têm utilizado as redes sociais para difamar a vereadora. As denúncias que configurem atentado à honra e à dignidade deverão ser encaminhadas para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Voluntários também se uniram para criar uma página (www.mariellefranco.com.br/averdade) onde são enumeradas cinco notícias falsas contra a vereadora que têm circulado pela internet.
PublicidadeVeja quais são os boatos contra Marielle desmentidos pelo site:
“Marielle era ex-mulher do traficante Marcinho VP”: MENTIRA
A vereadora Marielle Franco nunca foi casada ou teve qualquer tipo de relacionamento com os traficantes identificados como Marcinho VP, seja Márcio dos Santos Nepomuceno, traficante do Complexo do Alemão preso desde 1997, ou Márcio Amaro de Oliveira, criminoso do Morro Santa Marta morto em 2003.
“Marielle foi eleita pelo Comando Vermelho”: MENTIRA
A vereadora nunca fez parte de qualquer facção criminosa. Eleita para seu primeiro mandato em 2016, com 46,5 mil votos, Marielle obteve a maior parte dos seus votos da Zona Norte do Rio de Janeiro, cerca de 47% do total; seguidos pela Zona Sul (34% dos votos), reduto tradicionalmente de classe média; Zona Oeste (18%) e Centro (1%). Na região do Bonsucesso, que abarca os eleitores do Complexo da Maré, – onde a vereadora nasceu e foi criada – ela recebeu apenas 7% dos seus votos. As informações são Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ).
“Marielle era usuária de maconha”: MENTIRA
A vereadora tinha entre suas bandeiras a luta por uma nova política de drogas, defendendo que a guerra ao tráfico se tornou, ao longo de décadas, uma fonte de violência, desigualdade e corrupção. Ainda assim, ela não era usuária de maconha ou de qualquer outro tipo de droga.
“Marielle engravidou aos 16 anos”: MENTIRA
Assasinada aos 38 anos, a vereadora deixou uma filha de 19 anos, Luyara Santos. A gestação, portanto, ocorreu entre os 18 e 19 anos de idade, e não aos 16.
“Marielle defendia bandidos”: MENTIRA
A vereadora do Psol questionava ações truculentas conduzidas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. “O 41º BPM está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados no valão”, denunciou ela na última semana, em uma de suas últimas postagens nas redes sociais. Ela, no entanto, nunca defendeu qualquer ato criminoso. Chegou a auxiliar, inclusive, familiares de policiais assassinados na época em que foi assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, de acordo com relatos de parentes das vítimas.
“Lutamos para que nenhum assaltante ou infrator seja torturado, amarrado à postes e executado. Defender isso é defender a garantia da nossa Constituição”, diz a página em defesa de Marielle. “Não é ‘defender bandido’, é defender que a lei seja cumprida. Justiça é diferente de vingança”, completa o texto.
Sobre Marielle
Socióloga com mestrado em Administração Pública, Marielle Franco nasceu em 27 de julho de 1979 e foi criada na Maré, complexo de favelas da periferia do Rio. A parlamentar cursou Sociologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC), com auxílio de uma bolsa integral, e concluiu o curso de mestrado na Universidade Federal Fluminense (UFF). Mulher, negra, favelada e companheira há 12 anos da arquiteta Monica Tereza Benício, a vereadora se destacava pelo ativismo em prol das minorias e da militância pelos direitos humanos.