O ministro Jorge Hage, da Controladoria Geral da União (CGU) disse ontem (sexta, 15) que existem mais indícios do envolvimento do ex-ministro da saúde José Serra (PSDB-SP) com a máfia dos sanguessugas além do depoimento da família Vedoin. Ele afirmou que, ao contrário da oposição, vai dar o mesmo tratamento em relação às acusações contra o tucano e às denúncias contra ex-ministros do presidente Lula.
Em entrevista à revista Istoé deste fim de semana, os empresários Luiz Antonio Vedoin e Darci José Vedoin, donos da Planam, afirmam que a venda de ambulâncias superfaturadas no esquema dos sanguessugas cresceu durante a gestão de Serra e seu sucessor, Barjas Negri, no ministério (durante o governo FHC).
Hage informou que todos os esquemas de corrupção investigados pela CGU tiveram origem em governos anteriores. O ministro afirmou que há cópias de documentos encaminhados a Serra e ao ex-ministro Barjas Negri por parlamentares acusados de participação no esquema. Negri assumiu a pasta da Saúde durante a campanha presidencial de 2002.
"As acusações sobre o governo anterior não estão só apoiadas nos depoimentos dos Vedoin, existem documentos, e depoimentos de parlamentares que fazem acusações ao então secretário-executivo (Barjas Negri) e ao ministro (José Serra)", disse Hage.
Leia também
A reação de Serra
Ontem, a assessoria de Serra informou que o candidato minimizou a denúncia, afirmando que "é mais um item do kit baixaria do PT".
Neste sábado (16), José Serra, que é o favorito na disputa pelo governo de São Paulo, elevou o tom das críticas. "É lamentável que no Brasil ainda existam procedimentos de baixaria tão primitivos destinados a enganar os eleitores na última hora", disse o ex-ministro. Para ele, o episódio dá uma "medida de desespero" dos seus adversários em razão da sua vantagem nas pesquisas de intenção de votos em São Paulo.
O ex-ministro anunciou que estuda a instauração de processo criminal por causa da denúncia. E insistiu que o assunto deve ser investigado pela Polícia Federal e pela Justiça. No seu entender, o mais importante é descobrir a origem do dinheiro encontrado pela polícia num hotel paulistano no momento em que foram presos Valdebran Carlos Padilha da Silva e Gedimar Pereira Passos, que teriam negociado com a família Vedoin a compra de documentos incriminando Serra e outros tucanos na máfia dos sanguessugas.
Em comício na na zona leste de São Paulo, Serra falou em "baixarias eleitorais" e relembrou sua campanha à prefeitura da cidade: "Puseram uma pessoa de cadeira de rodas para falar mal de mim". Em seguida, afirmou que seus adversários estariam de novo "prontos para baixaria": "Já começaram. Não deu certo, mas vão tentar de novo, no desespero."
Denúncias podem ter fundamento
Fontes da Polícia Federal, no entanto, deixam escapar que há indícios de ocorrência de dois crimes. No primeiro caso, setores da PF não têm dúvidas de que diversas irregularidades foram praticadas durante a gestão de Serra e Negri no Ministério da Saúde. No segundo, vêem sinais de prática criminosa na negociação entre a família Vedoin e elementos ligados ao PT para que tais denúncias viessem à tona, agora, na reta final da campanha eleitoral.
"A credibilidade dada aos Vedoin sobre as acusações ao ex-ministro José Serra tem que ser a mesma a que se atribui a ele quando acusa o governo atual, claro com as reservas próprias de quem é réu e está sob delação premiada", pondera o ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage.
"Contra o Humberto Costa (ex-ministro da Saúde do governo Lula), os indícios já saltam para conclusão, enquanto com o Serra isso não ocorre", emendou Hage.
Acusações
Segundo a reportagem da revista Istoé, o empresário Darci José Vedoin afirmou que operavam ilegalmente com maior facilidade na época em que José Serra e Barjas Negri foram ministros. "Na época deles o nosso negócio era bem mais fácil. O dinheiro saía muito mais rápido. Foi quando mais crescemos", disse Darci de acordo com a revista.
Os empresários, presos em maio deste ano por pagarem propina em troca de emendas para a compra de ambulâncias e equipamentos médico-hospitalares, contaram que até 2002, ainda durante o governo Fernando Henrique, a liberação de recursos do Ministério da Saúde para a compra de unidades móveis era praticamente garantida.
"A confiança do pagamento era tão grande que chegamos a entregar cento e tantos carros apenas com o empenho do Ministério, antes de a verba ser liberada", relatou o empresário Darci Vedoin à revista.
Conforme os sócios da Planam, o ex-ministro Barjas Negri, que assumiu a pasta quando Serra partiu para a disputa presidencial, também contribuiu com a fraude. Nessa época, diz a reportagem, um empresário de Piracicaba era o responsável por fazer a ponte entre a empresa e o então ministro. Barjas Negri (PSDB) é o atual prefeito do município.
"Quando o Serra era ministro, as operações eram feitas pelos parlamentares. Quando o Barjas deixou de ser secretário-executivo e assumiu o comando do Ministério, ele (o empresário de Piracicaba) passou a ser o responsável pela liberação dos recursos, apesar de não possuir nenhum cargo naquela pasta", relatou Luiz Antonio Vedoin.
Papéis entregues pelos Vedoin à CPI dos Sanguessugas e à Polícia Federal apontam que, entre 2000 e 2004, a Planam comercializou 891 ambulâncias pagas com recursos de emendas parlamentares ao orçamento da União. Dessas, 681 (quase 70%), foram vendidas até 2002.
Os donos da Planam contaram ainda que iniciaram a compra de emendas ao orçamento em 1998, negociando diretamente com os parlamentares. Segundo eles, na época, a bancada do PSDB "conseguia aprovar tudo e, no ministério (o dinheiro) era rapidamente liberado".