Carlos Campbell*
No Brasil, tudo o que é maravilhoso, só é por pouco tempo. Aqui, tudo se destrói como se fosse necessário ser inseguro, sujo e violento. Nenhuma beleza eterna pode estar eterna. Tem de ser conspurcada. Como vermes a comer a carne.
Passeava eu, da Praça Mauá até o largo da Carioca, de trem elétrico, conhecido como Bonde, a rigor uma passagem com sotaque inglês e, costumeiramente, lia o Jornal do Brasil. Pela manhã, estava vazio o Bonde quando verifiquei que outra pessoa fazia o mesmo, lia o JB. Era o radialista e ator Mário Lago. Era colega de Rádio Nacional e que depois de gravar suas radionovelas, fazia percurso de bonde, como eu, só para ler.
Após o noticiário das 9 da manhã, às vezes eu ia pra casa no posto 6 na N.S. de Copacabana, onde em frente havia o Cine Caruso e, muitas vezes, ia passear no centro. Na década de 60, o Rio era outro. Tudo era pujante e tudo estava por fazer, ou seja, tudo estávamos por fazer, pois eu era jovem e via o Rio com entusiasmo por estar na capital do sonho dos brasileiros.
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Bastava alguns toques das mãos para manter o Rio, e os toques vinham do piano de Mariozinho Rocha, a voz serena e melodiosa de Dick Farney, Pery Ribeiro, Claudete Soares e todo um repertório musical romântico que as belezas do Rio ajudavam a embalar.
Cantar o carnaval e suas histórias de encantamento era muito bom. Na Presidente Vargas, lá estava eu, no meio da passarela suspensa, acima dos blocos das sociedades carnavalescas, para narrar os enredos com apresentação geral de Hilton Gomes. A iluminação da passarela não tinha os watts de hoje, mas era uma incandescente alegria.
Fazer o Rio de Janeiro morrer, é fácil. Basta escalar todos os morros e construir casebres com o beneplácito do governante de plantão. E, de lá, fazer o Rio marginal. Já estão conseguindo. Usam as eternas belezas naturais para realizarem seus abjetos desejos. Sem saber como trazer turismo de verdade, o próximo governante deverá ser uma pessoa ligada ao tráfico de drogas com doutorado e uma vida dedicada ao roubo.
Mostrar a cidade àqueles nacionais que não tiveram a sorte de nascer e, ou viver no Rio de Janeiro, e ainda os estrangeiros que visitam a cidade, deveria ser o único motivo de ser da administração. A razão das trágicas mudanças na cidade está naquele que governa e, antes, naquele que elege. Será necessário muita força dos cariocas de coração, para entregar, de novo, a beleza à cidade maravilhosa.
* Carlos Campbell é jornalista