Cerveró também contou ter presenciado irregularidade na estatal na gestão de Fernando Henrique: a contratação de uma empresa ligada a Paulo Henrique Cardoso, filho do tucano, por “orientação do então presidente da Petrobras Philipe Reichstul, por volta de 2000”.
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O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribuna Federal, retirou o sigilo dos depoimentos do ex-diretor. Com o acordo, Cerveró vai deixar a prisão nos próximos dias e devolver mais de R$ 18 milhões obtidos como propina.
Dilma e Pasadena
Segundo ele, Dilma tinha todas as informações sobre a refinaria de Pasadena e acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobras e que conhecia com detalhes todos os negócios da empresa. Cerveró ressaltou, no entanto, que nunca ouviu falar que a petista tenha pedido propina.
“Que o declarante supõe que Dilma Rousseff sabia que políticos do Partido dos Trabalhadores recebiam propina oriunda da Petrobras; que, no entanto, o declarante nunca tratou diretamente com Dilma Rousseff sobre o repasse de propina, seja para ela, seja para políticos, seja para o Partido dos Trabalhadores. Que o declarante não tem conhecimento de que Dilma Rousseff tenha solicitado, na Petrobras, recursos para ela, para políticos ou para o Partido dos Trabalhadores”, diz a delação.
O ex-diretor da Petrobras afirmou ao Ministério Público Federal “que não corresponde à realidade a afirmativa de Dilma Rousseff de que somente aprovou a aquisição porque não sabia dessas cláusulas” de compra da refinaria. Ele disse não saber de qualquer irregularidade no processo de aquisição de Pasadena. O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou um prejuízo de US$ 792,3 milhões para a Petrobras no negócio.
Dilma, que era presidente do Conselho de Administração da Petrobras e ministra da Casa Civil à época da transação, disse que aprovou a compra, assim como os demais conselheiros, por se basear em um relatório “tecnicamente falho”, feito por Cerveró.
Ele admitiu ter recebido propina no valor de US$ 1,5 milhão e ter repassado parte do dinheiro ao então senador Delcídio Amaral (sem partido-MS). Cerveró disse, ainda, que Delcídio pressionou ele e Renato Duque, outro ex-diretor da estatal preso, a repassarem recursos para sua campanha ao governo de Mato Grosso do Sul em troca de sua participação na compra de Pasadena. De acordo com o delator, coube à UTC Engenharia repassar R$ 4 milhões ao ex-senador cassado.
“Que Delcídio do Amaral conversava diariamente com Dilma Rousseff, porque estava em campanha para o governo do estado do Mato Grosso do Sul, que isso faz o declarante crer que Dilma Rousseff sabia do adiantamento de propina a Delcídio do Amaral pela UTC”, diz Cerveró.
Em depoimento prestado em 19 de novembro do ano passado, o ex-diretor relatou que soube, por meio do seu então advogado Edson Ribeiro, que Dilma havia dito a Delcídio que ela mesma cuidaria dos meninos, em referência ao próprio Cerveró e a Duque. O então líder do governo foi preso seis dias depois, após ser flagrado em gravação feita por Bernardo, filho de Cerveró oferecendo dinheiro e rota de fuga ao executivo para que ele não fizesse delação premiada. Edson Ribeiro também foi preso, apontado como intermediador da negociação.
Bernardo contou ao pai que Delcídio e Edson Ribeiro “estavam oferecendo todo o apoio ao declarante (Cerveró), com a condição de que Delcídio do Amaral e o Banco BTG Pactual não fossem envolvidos pelo decIarante nos casos”.
Filho de FHC
Cerveró afirma ter testemunhado irregularidades também na gestão de FHC. Em um de seus depoimentos, o ex-diretor da Petrobras contou que a PRS Energia, de Paulo Henrique, filho do então presidente, associou-se à estatal para gerir a Termorio, construída pela francesa Alstom ao custo de US$ 715 milhões. Na época, o tucano exercia o segundo mandato presidencial. O negócio, segundo ele, foi orientado pelo então presidente da Petrobras, Philipe Reichstul.
A Termorio é a maior termoelétrica a gás do Brasil. A assessoria de Paulo Henrique Cardoso disse ao jornal O Estado de S.Paulo que ele não conhece e nunca teve relação com a empresa. Cerveró afirmou que o lobista Fernando Baiano fazia lobby para a estatal se associar à espanhola Union Fenosa para gerir o empreendimento. Baiano e os representantes da empresa estiveram, de acordo com o delator, no Brasil no período para tratar o assunto com ele.
Naquela época, Cerveró era subordinado de Delcídio, diretor de Gás e Energia da Petrobras. “Que Fernando Antônio Falcão Soares (Fernando Baiano) e os dirigentes da Union Fenosa acreditavam que o negócio estava acertado, faltando apenas a assinatura para a finalização; Que no entanto, o negócio já estava fechado com uma empresa vinculada ao filho do Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, de nome Paulo Henrique Cardoso”, relatou Cerveró. “Que o negócio havia sido fechado pelo próprio declarante, por orientação do então presidente da Petrobrás Philippe Reichstul”, prosseguiu Cerveró.
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