Erros de comunicação têm alto custo para governantes
Na primeira entrevista como efetivo no cargo, o presidente Michel Temer desdenhou as manifestações de protesto contra seu governo. Ele reduziu os participantes a “40 pessoas que quebram carro”, em contraste com a realidade estampada nas imagens e vídeos divulgados na mídia e nas redes sociais mostrando uma multidão de 100 mil brasileiros nas ruas.
A tentativa de minimizar o tamanho das manifestações serviu para aumentar o volume das vaias a Temer na abertura dos jogos paralímpicos no Maracanã e inflar os protestos em 7 de setembro em todo o país. Alguns ministros também tentaram diminuir o tamanho das hostilizações ao novo governo.
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A confissão de culpa e de erro estratégico do governo na condução do processo do impeachment veio de Moreira Franco, um dos auxiliares mais próximos ao presidente. Ele admitiu a “soberba” do governo na condução do processo do impeachment e ao não rebater o discurso de que houve golpe.
PublicidadeColunistas e analistas políticos avaliam que esses equívocos podem comprometer a agenda de reformas estruturais que o governo precisa realizar e que exigirão muita habilidade na comunicação política. Segundo um dos maiores estudiosos da comunicação contemporânea, o francês Dominique Wolton, se antes comunicar era transmitir, hoje é quase sempre negociar. O pesquisador reforça que o conceito de negociação pertence à cultura democrática.
A comunicação de governos com a sociedade insere-se nos preceitos de comunicação pública, que remetem a princípios norteadores de transparência e interação com a sociedade, os meios de comunicação e o sistema produtivo. O que é a democracia senão a negociação e convivência pacífica de pontos de vista antagônicos, pergunta Wolton.
Controle emocional faz bem à saúde de gestores públicos
Ao ouvir o coro de estudantes que o chamavam de “golpista” durante sua participação num festival de cinema em Petrópolis, o ministro da Cultura, Marcelo Calero, reagiu e se exaltou com gritos e gestos ofensivos. Segundo versões, gritou “golpista sim, com muito orgulho”. Segundo sua assessoria, o que o ministro disse foi “golpista são vocês”. Filmada nos celulares, a cena viralizou nas redes sociais.
A questão em foco é que autoridades precisam saber conviver e manter o controle diante de manifestações hostis. Nenhum porta-voz pode se permitir perder a calma ou demonstrar falta de comedimento em público. Protagonismos em episódios como esses são prejudiciais à imagem das instituições.
Uso das redes sociais deve ser estratégico
Um dos seguidores do ministro Geddel Vieira Lima no Twitter perguntou qual a sensação ao assumir um cargo do Executivo sem o respaldo do voto popular. Irreverente, o ministro respondeu de bate-pronto: “GOSTOSA”.
Como Geddel, muitos ministros do governo Temer são ativos nas redes sociais e marcam presença divulgando atos e medidas da administração. Exatamente por isso devem prestar atenção às normas de conduta e de boa gestão nas redes sociais, para evitar abrir espaço a reações contrárias que só irão ampliar desgaste de imagem e de reputação. Devem fugir de ironias e do uso de linguagem contundente nos posts.
Viralizou nas redes, virou notícia da campanha eleitoral
Atento aos fatos e desdobramentos na campanha eleitoral, o Globo criou a seção “Viralizou”, para registrar nas páginas impressas casos de condutas de candidatos que tenham repercutido e com muitos compartilhamentos nas redes sociais.
A campanha às eleições municipais de 2016 tem forte presença nas redes sociais digitais. A iniciativa do jornal mostra a necessidade de renovação dos canais convencionais para acompanhar a instantaneidade das plataformas digitais.
É um exemplo de crossmedia (do inglês ‘cruzar’ ou ‘atravessar’ a mídia) – ou seja, levar o conteúdo além de um meio apenas.