Antônio Augusto de Queiroz*
A crise de imagem do Congresso, particularmente da Câmara dos Deputados, tem desafiado os analistas políticos a antecipar os cenários de renovação e composição partidária da próxima legislatura, a ser eleita em 1º de outubro próximo. Nos prognósticos do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), da Arko Advice e do cientista político David Fleischer, que fazem um verdadeiro exercício de futurologia, há três consensos: a renovação será grande, o PT será o principal perdedor e o PMDB terá a maior bancada.
Sempre com a ressalva de que os prognósticos podem sofrer ajustes, dependendo da política de alianças e da prioridade que as legendas atribuam à eleição proporcional, que deverá considerar a verticalização e a cláusula de barreira, os analistas fizeram suas projeções partindo da premissa de que os partidos serão pragmáticos, inclusive no recrutamento dos candidatos nas convenções. Exceto as divergências sobre a grande redução da bancada do PT, não há nada de espetacular na performance dos grandes partidos, que devem crescer moderadamente em relação à composição atual.
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Veja o perde-e-ganha das principais bancadas na Câmara, segundo as projeções do Diap, da empresa de consultoria Arko Advice e do cientista político David Fleischer:
Partido |
Composição eleição – atual |
Previsão Diap |
Previsão Arko Advice |
Previsão David |
PMDB |
75 – 83 |
80 a 95 |
90 a 110 |
90 a 95 |
PT |
91 – 81 |
60 a 75 |
55 a 70 |
45 a 50 |
PFL |
84 – 65 |
75 a 90 |
65 a 80 |
80 a 85 |
PSDB |
70 – 58 |
70 a 85 |
65 a 80 |
70 a 75 |
Em relação aos partidos médios (PP, PTB, PL, PDT, PSB), há acordo entre os analistas sobre a tendência de redução das bancadas de direita e centro-direita (PL, PP e PTB) e de crescimento das de centro-esquerda (PDT e PSB) Os primeiros, que se beneficiaram da adesão dos dissidentes dos partidos de oposição, notadamente PFL e PSDB, cresceram artificialmente nesta legislatura e terão dificuldades, em outubro próximo, até para eleger o mesmo número de parlamentares que sufragaram em 2002. Estima-se que o PDT passe de 20 para algo entre 25 e 35 e o PSB de 28 para algo entre 30 e 40 deputados. Uma das razões para esse crescimento do PDT e do PSB seria a migração de votos do PT, que perde eleitores em razão de seu envolvimento com o escândalo do mensalão.
Quanto aos pequenos partidos de orientação ideológica, a avaliação quase unânime é de que PCdoB e PPS crescem, mas o PSol e o PV terão dificuldades para manter suas atuais bancadas, respectivamente de sete e oito deputados cada. Estima-se que o PCdoB passe de 12 para algo entre 14 e 16, e o PPS de 16 para entre 20 e 25. A superação da cláusula de barreira está fora do horizonte desses partidos.
Sobre o índice de renovação, igualmente, é consenso entre os analistas que será muito próximo do da eleição de 1990, que chegou a 62%. Historicamente, os índices de renovação oscilam entre 40% e 60%. Em 1994, foi de 54%; em 1998, de 43%, e em 2002, de 46%. A explicação para uma renovação superior a 50% está associada à decepção de parcela do eleitorado com o envolvimento de muitos parlamentares nos escândalos, tanto do mensalão quanto nas fraudes na aquisição de ambulâncias.
Em conclusão, pode-se afirmar, salvo mudança drástica do cenário, que: a) haverá uma grande renovação, b) o crescimento do PMDB, PFL e PSDB será decorrente da perda de vagas no Parlamento do PTB, PP e PL, e c) o aumento de bancada do PSB, PDT e PPS se dará por herança de parte dos votos do PT.
*Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e Diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
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