Em depoimento à CPI dos Correios, a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cico alegou desconhecer gestões do governo sobre os fundos de pensão para destituir o grupo Opportunity do controle da empresa. A declaração de Carla contraria o que disse há dois meses o banqueiro Daniel Dantas às CPIs do Mensalão e dos Correios.
Em setembro, Dantas afirmou aos parlamentares que era constante a interferência política nos negócios do grupo. Considerada o braço-direito do banqueiro na Brasil Telecom, Carla disse desconhecer esse tipo de pressão. "Não tenho essa percepção", afirmou.
Os integrantes da comissão querem explicações sobre os contratos milionários das telefônicas controladas pelo grupo de Dantas com as agências do empresário Marcos Valério Fernandes. A Brasil Telecom firmou dois contratos de publicidade de R$ 25 milhões cada com as agências SMP&B e DNA Propaganda, de Valério.
Os contratos, que garantiam o repasse mensal de R$ 187,5 mil a título de honorários, foram cancelados em junho, logo após as denúncias sobre a existência do mensalão. Mesmo com a suspensão do negócio, a Brasil Telecom chegou a emitir notas fiscais para as duas agências referentes ao primeiro mês de pagamento.
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Carla foi destituída do comando da empresa há menos de dois meses, com o afastamento do Opportunity do controle da operadora, após uma longa batalha judicial com o Citigroup, a Itália Telecom e os fundos de pensão.
Assim como Dantas, Carla levantou suspeita sobre a participação dos fundos de pensão no processo de aquisição da Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Segundo eles, o preço negociado ficou acima do valor de mercado. Em seu depoimento, o banqueiro atribuiu o suposto superfaturamento a interferências do Banco do Brasil.
Segundo a executiva, os fundos tentaram impedir o desenvolvimento tecnológico da empresa de telecomunicações. "Os fundos de pensão e a Telecom Itália tentaram dificultar o desenvolvimento tecnológico da Brasil Telecom", disse.
Carla classificou como natural a contratação da Kroll, empresa que espionou integrantes do governo e negócios de empresas concorrentes. Segundo ela, o objetivo da contratação era munir a empresa de informações que poderiam ser úteis em processo contra a Telecom Itália. "A gente pensou em entrar com uma ação no exterior, ou na Itália, ou nos Estados Unidos”, afirmou. “Nos Estados Unidos é prática contratar empresas para fazer levantamento de informações", completou.
A executiva se negou a declarar ao relator o valor de seu salário na presidência da Brasil Telecom bem como o salário que recebia anteriormente na Telecom Italia. O relator suspeita que houve cooptação da executiva pelo Opportunity para ter acesso a informações privilegiadas da concorrente.