A candidatura de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado – frustrando os planos do atual presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN) – tem tudo para esquentar a reta final do recesso parlamentar. “Dissidente” peemedebista e um dos fundadores do PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos (PE) declarou ao Congresso em Foco que a entrada do ex-presidente da República no pleito vai conturbar o ambiente da Casa.
“A candidatura de Sarney forma um quadro conturbado. Não vai ser um ar de calmaria”, acredita Jarbas, um dos principais críticos à postura de alinhamento de Sarney aos interesses governistas. Para o senador pernambucano, é improvável que Sarney deixe de ser um “delegado” de Lula no Parlamento.
“Isso é muito difícil. Não existe um senador mais lulista do que o Sarney”, declarou Jarbas, que já anunciou voto em Tião Viana e garantiu que não vai “abrir mão” de seu papel de oposicionista ou “dissidente”, segundo sua auto-definição. “Comprometi-me lá atrás com o Tião. Primeiro, porque ele mostrou comportamento correto quando dirigiu a Casa, com postura digna”, explicou o senador.
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Renan, "o vitorioso"
Jarbas já aponta um ganhador na corrida sucessória: Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado e principal articulador da candidatura de Sarney. “O vitorioso nisso tudo é o Renan, que insistiu para que Sarney voltasse à liderança da Mesa Diretora.
Segundo o senador de Pernambuco, ainda é incalculável o “estrago” que a indicação extra-oficial de Sarney pode provocar na Câmara, onde o PT já reafirmou o apoio ao deputado Michel Temer (PMDB-SP). "A extensão disso na Câmara é desconhecida, ninguém sabe ainda o estrago que isso pode provocar”, considera.
Outro “dissidente” do PMDB, o senador Pedro Simon (RS) disse à reportagem que, diferentemente do que acha a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), a candidatura de José Sarney causa constrangimento dentro do partido – e não propriamente na base aliada, como considera a petista. Para Simon, Ideli e seus liderados não têm razão para se sentir constrangidos – ou traídos, em uma análise mais detida.
“Não sei por que o constrangimento. A grande verdade é que a candidatura pertence ao PMDB”, observou Simon, referindo-se ao fato de que, regimentalmente, cabe à maior bancada, tanto na Câmara quanto no Senado, indicar os nomes para as respectivas presidências – no caso, o PMDB, que conta com 90 deputados e 20 senadores.
"Profundamente lamentável"
“Dentro do PMDB cria constrangimento, porque já havia a candidatura do Garibaldi”, disse Simon, lembrando que a bancada se reuniu em dezembro e, por meio de votação nominal, escolheu o atual presidente para tentar a reeleição, mesmo diante dos questionamentos jurídicos que a candidatura suscitaria. “Não estou entendendo isso, acho profundamente lamentável”, afirma Simon.
Comedido por enquanto, Simon evita antecipar seu voto, e disse querer saber quais são as propostas que Sarney pretende apresentar para justificar a intenção de retornar à presidência da Casa. Simon acha que Sarney deve “colocar no papel” as razões que o fazem ser merecedor de seu voto.
O senador gaúcho diz que só depois de saber o que Sarney “pensa” para o Senado, de preferência em registro público, decidirá se vota com o colega de legenda ou declara apoio ao candidato petista. “Prefiro não falar isso agora”, abreviou Simon.
A bancada do PMDB se reunirá na próxima quarta-feira (28), na residência de Sarney em Brasília, para definir a situação – e assim ungir o nome do cacique na corrida sucessória. Embora ainda não tenha oficialmente deixado a disputa, o que deve ser feito na reunião, Garibaldi já adiantou que votará no colega que o tirou do páreo.
As eleições para a sucessão na Câmara e no Senado ocorrem na manhã do dia 2 de fevereiro, com posse imediata, mas os deputados só iniciam a votação depois dos senadores. (Fábio Góis)