O líder oposicionista não descarta a possibilidade de as apurações resultarem em um pedido de impeachment da presidente Dilma. Mas adota tom cauteloso. “Não sou de suprimir etapas. Nós, que temos a experiência política de cinco mandatos na Câmara, vamos começar de degrau a degrau. Vamos primeiro identificar os fatos relevantes que deverão fazer parte de uma CPI e, daí em diante, o transcurso dessa CPI é que vai levar à constatação desses fatos ou não”, disse o novo líder do DEM no Senado.
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Dono de um dos discursos mais duros da oposição na Câmara contra os governos Lula e Dilma, Caiado mantém o estilo em sua estréia no Senado. “Não é a oposição que está complicando a situação do governo. É o governo que se complicou sozinho. Disse uma coisa na campanha e agora está desdizendo tudo. É um governo embasado na fraude e na mentira”, afirmou. Ontem, ele atacou a presidente reeleita pelo conteúdo da mensagem presidencial enviada ao Congresso. “Ela mentiu com se ainda estivesse em campanha”, criticou.
Para Caiado, Dilma perdeu a credibilidade por causa da série de denúncias contra o seu governo e pelas contradições de seus atos em relação ao seu discurso de campanha. “Os brasileiros estão indignados hoje por terem votado na presidente. Ela ganharia uma eleição hoje? É a pergunta que se faz. Não estamos discutindo o processo, mas a metodologia para ela chegar ao poder”, declarou.
Ex-relator da reforma política na Câmara, o senador defende a aprovação, em caráter emergencial, de mudanças profundas no sistema político e eleitoral do país. “Precisamos ter mudanças substantivas para quebrar a tese de que o poder financeiro e a estrutura de governo definem as campanhas eleitorais no país”, afirmou.
Cadeira de réu
O senador também não poupou o presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Com cinco senadores, o DEM apoiou a candidatura de Luiz Henrique (PMDB-SC), derrotado por Renan no último domingo (1º) por 49 votos a 31. “É importante separar a pessoa física da pessoa jurídica. A pessoa física jamais pode trazer complicações ou problemas para a pessoa jurídica, ou seja, a instituição Senado Federal. A cadeira da presidência nunca pode ser cadeira de réu. Não estou fazendo juízo de valor. Estou dizendo o que está sendo publicado, o que é um sentimento”, declarou.
Caiado faz alusão às reportagens publicadas pela revista Veja e pelo jornal O Estado de S.Paulo que apontam a citação do nome de Renan entre os políticos com participação no esquema de corrupção da Petrobras desbaratado pela Operação Lava Jato. “Infelizmente o PT decidiu por manter o status quo, por manter um braço da presidente Dilma na presidência do Senado. É triste. O resultado que pode até ter alegrado alguns, como a maioria do Senado, mas entristeceu enormemente a maioria da população”, afirmou.
O senador diz que nunca um presidente da República começou um mandato com tão pouco apoio no Legislativo quanto Dilma agora. Para ele, a derrota do candidato petista Arlindo Chinaglia (SP) à presidência da Câmara para o peemedebista Eduardo Cunha (RJ), desafeto do Planalto, mostra que o país está à beira da ingovernabilidade. “O PT e seus parlamentares estão totalmente isolados, o partido não tem mais respaldo em suas ações. A presidente Dilma começa seu segundo mandato com 120 deputados, apenas um quarto da Câmara.”
Médico ortopedista e produtor rural, Caiado ganhou projeção nacional no final da década de 1980 como líder da União Democrática Ruralista (UDR). Em 1989, chegou a disputar a eleição para presidente da República pelo extinto PSD. Obteve 0,68% dos votos. Eleito deputado federal pela primeira vez no ano seguinte e se filiou ao PFL. Em outubro, elegeu-se senador com 1,28 milhão de votos. Se no plano federal é aliado do PSDB, no estadual faz oposição ao governador tucano Marconi Perillo (PSDB), com quem está rompido politicamente. Caiado fez parte da coligação encabeçada pelo peemedebista Iris Rezende, ex-governador que perdeu a disputa para Marconi no ano passado.