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Depois de derrubar o ministro da Casa Civil, José Dirceu, e parte da diretoria de Furnas Centrais Elétricas, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) atingiu ontem o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, que pediu afastamento da direção do partido. Acusado de ser o gerente do suposto esquema de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo nas votações, Sílvio pediu à comissão de ética partidária que apure todas as denúncias apresentadas contra ele. Em nota, disse que se afasta das funções para se dedicar exclusivamente à sua defesa. A expectativa é de que o tesoureiro, Delúbio Soares, também deixe o cargo na reunião que a executiva nacional do PT promove hoje, em São Paulo, para discutir a pior crise da história do partido. Não está descartado o afastamento do presidente, José Genoino, cuja situação se complicou nos últimos dias com a divulgação de que ele e Delúbio teriam recorrido ao publicitário Marcos Valério Fernandes para avalizar um empréstimo de R$ 2,4 milhões para a legenda. Leia também Marcos Valério, que deve depor amanhã na CPI dos Correios, é apontado como o principal operador do mensalão. Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, revelam que, em menos de dois anos, foram sacados R$ 21 milhões de suas agências publicitárias. De acordo com levantamento entregue à própria CPI, há indícios de que o montante sacado em dinheiro vivo pelo publicitário, nesse período, supere a casa dos R$ 70 milhões. Valério entrou ontem com habeas-corpus preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF) para não sair preso do depoimento. Delúbio e Genoino também deverão ser ouvidos pela comissão, segundo o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Sociólogo, o ex-secretário-geral do PT controlava a distribuição dos cargos da administração federal entre os partidos da base aliada. Segundo Jefferson, o petista teria usado a infra-estrutura do Palácio do Planalto para comandar um suposto esquema de arrecadação de recursos em estatais para financiar partidos políticos. Ontem, os ministros da Educação, Tarso Genro, e do Trabalho, Ricardo Berzoini, defenderam o afastamento da direção do partido, engrossando o coro dos descontentes com a cúpula partidária. A eleição do novo comando da legenda está marcada para o dia 18 de setembro. Até lá, o PT pode ser dirigido por uma nova executiva, que teria, entre seus membros, além de Berzoini, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, o ministro das Cidades, Olívio Dutra, e o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia. Genoino assume parte de responsabilidade sobre empréstimo Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o presidente nacional do PT, José Genoino, garantiu que não conhecia o publicitário Marcos Valério Fernandes quando assinou o empréstimo feito junto ao BMG. Acusado de ser operador do mensalão, Valério teria sido indicado como avalista do negócio, segundo Genoino, pelo tesoureiro do partido, Delúbio Soares. “Nós temos uma relação coletiva de trabalho na Executiva Nacional. Assinamos todos os contratos em confiança aos responsáveis de cada área”, afirmou. “Como presidente do PT, sou responsável por todos os atos do PT e vou prestar contas à sociedade sobre isso”, disse, ao reconhecer sua responsabilidade no caso. De acordo com ele, o empréstimo foi legal e atendeu a uma necessidade do partido. “Mas nós tiramos uma lição disso: a de que, em contratos assim, temos que ter um exame mais criterioso, mais detalhado”, disse. O presidente do PT foi evasivo ao falar sobre os contratos de publicidade das agências de Valério com estatais e sobre o suposto pagamento de mensalão a deputados. “Não conhecia Valério na época. Essa relação (do publicitário com o PT) não produziu nenhum tipo de influência no governo. Isso é uma lição para se ter mais cuidado ao assinar documentos.” Ao fim da entrevista ao Roda Viva, Genoino se emocionou ao lembrar que foi torturado durante a ditadura militar. Ele negou as acusações feitas pelo militar da reserva Lício Augusto Ribeiro de que teria delatado os seus companheiros na guerrilha do Araguaia. “As pessoas que falam isso não sabem o que é pau-de-arara, choque elétrico, afogamento, cadeira-do-dragão. Até hoje tenho pesadelos e pressão alta por causa das torturas que sofri. Até hoje tenho marcas das queimaduras”, afirmou. |
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