Lúcio Lambranho
Uma cadeira vazia esteve no centro do debate entre os presidenciáveis promovido na noite de ontem (quinta, 28) pela Rede Globo. O presidente Lula, candidato à reeleição pelo PT, foi duramente criticado pelos três outros candidatos presentes – Heloísa Helena (Psol), Geraldo Alckmin (PSDB) e Cristovam Buarque (PDT) – por ter evitado o debate, sob o argumento de fugir da "virulência" e do "desespero" dos demais concorrentes ao Palácio do Planalto.
O ataque mais duro ocorrido durante os 99 minutos do debate partiu de Heloísa Helena, que disse ter a mesma origem "pobre e nordestina" do presidente. HH acusou Lula, mais uma vez, de comandar uma "organização criminosa". "Ele deveria descer do trono da corrupção e da arrogância", disse Heloísa, após recordar ter sido perseguida pelo presidente. "E não está aqui por não ter autoridade moral para me enfrentar, pois eu não traí a minha classe de origem".
Cristovam Buarque dirigiu a primeira pergunta do programa à cadeira vazia de Lula, que preferiu participar de um comício no ABC paulista. O candidato do PDT lembrou as "fortes suspeitas" de uso de recursos públicos no processo eleitoral e questionou o candidato sobre o que faria, no caso de ser reeleito, se as denúncias viessem a se comprovar.
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"O senhor é candidato sob forte suspeita de uso de recursos públicos e de outros recursos que ninguém sabe a origem no processo eleitoral. Isso é um caso muito grave. Se o senhor for eleito, apesar disso, e se comprovarem todas as suspeitas, o senhor renunciará ao cargo? Diante disso, estamos votando no senhor ou no vice José Alencar?", questionou Cristovam, referindo-se ao pagamento de mais de R$ 1,7 milhão por documentos que incriminariam o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, no caso da máfia dos sanguessugas.
Heloísa x Alckmin
Segundo colocado na disputa presidencial, Alckmin também lamentou a ausência de Lula no debate, que considerou um "desrespeito ao eleitor". Mas preferiu gastar a maior parte do seu tempo repetindo propostas como as de realizar um choque de gestão, reduzir a carga tributária e retomar o crescimento econômico. O candidato do PSDB teve de se esquivar várias vezes dos ataques de Heloísa Helena, terceira colocada nas pesquisas, que insistiu em vincular Alckmin ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O tucano também dirigiu uma pergunta à cadeira vazia onde deveria estar sentado Lula. Mas, ao contrário do que se esperava, não fez nenhuma pergunta sobre os escândalos envolvendo o Palácio do Planalto. Questionou se a ausência do presidente estaria relacionada aos problemas do governo na área da saúde ou da educação.
Em seu maior momento de agressividade, Alckmin disse que o mensalão, "visão autoritária de um poder comprando e subjugando outro poder", foi "tramado no Palácio do Planalto, através da cúpula do PT".
Roubo da esperança
Cristovam insistiu na necessidade de o Brasil promover uma "revolução doce", baseada no estímulo à educação, à ciência e à tecnologia. Ele citou o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) como um exemplo de investimento no setor que deu certo. Esse investimento, lembrou, permitiu a construção dos aviões da Embraer, exportados para vários países do mundo. O candidato do PDT lamentou que o Bolsa Família, uma das principais bandeiras do governo Lula, tenha perdido sua característica educacional e se tornado "um programa de corrupção".
Dirigindo-se "carinhosamente" à militância do PT, Cristovam disse que imaginava o quanto ela deveria estar constrangida com a fuga de seu líder máximo do debate. "Vocês, militantes, devem estar se perguntando: por que Lula não veio ao debate? Porque não sabe explicar seu governo? Ou não sabe explicar a corrupção?" O senador também classificou a ausência de Lula no debate como uma forma de corrupção: "Não é roubo de dinheiro, mas é roubo de esperança".
Governo de 12 anos
Heloísa Helena manteve seu discurso socialista fazendo propostas que, segundo ela, devem reforçar o papel do Estado nas questões de infra-estrutura, educação, saúde e segurança pública. Bateu duramente nos dois candidatos que se encontram à sua frente nas pesquisas, Lula e Alckmin. A candidata disse que tinha coragem para fazer o ajuste fiscal necessário para o Brasil, "enfrentando banqueiros e especuladores" e para fazer o que "o governo do PSDB de Alckmin" – referindo-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – e de Lula não teriam feito durante 12 anos.
Em um dos momentos em que foi mais contundente, a candidata, disparou contra os candidatos do PSDB e do PT. "Não tenho Aerolula, não tenho jatinho, não tenho o dinheiro da corrupção dos mensaleiros e dos sanguessugas, dos banqueiros". Para a senadora alagoana, tanto Alckmin (que chegou de helicóptero na Globo para participar do debate) quanto Lula defendem os interesses do sistema financeiro, materializados na política econômica em vigor.
Dois pesos, duas medidas
O tucano acusou Lula de ter sido "duro com o jardineiro honesto [alusão ao caseiro Francenildo, cujo sigilo bancário foi violado pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci]", mas fraco com os criminosos de colarinho branco. No momento destinado às considerações finais, Alckmin pediu aos eleitores que respondam à altura à decisão do presidente Lula de não comparecer ao debate.
Para o candidato do PSDB, Lula mandou "um recado aos brasileiros e brasileiras", de que não estaria interessado na opinião dos eleitores e que não precisava prestar contas a ninguém. "No domingo, mande um recado para ele", recomendou Alckmin. "Mude de presidente."
O que eles disseram:
Cristovam Buarque
"O senhor (Lula) é candidato sob forte suspeita de uso de recursos públicos e de outros recursos que ninguém sabe a origem no processo eleitoral. Isso é um caso muito grave. Se o senhor for eleito, apesar disso, e se comprovarem todas as suspeitas, o senhor renunciará ao cargo? Diante disso, estamos votando no senhor ou no vice José Alencar?"
Geraldo Alckmin
"O governo Lula é duro com os fracos, como o caseiro Francenildo, mas é fraco diante dos criminosos de colarinho branco que jogam fora o dinheiro público."
Heloísa Helena
"Ele (Lula) tinha a obrigação de descer do seu trono de arrogância, de covardia política, e estar aqui para responder o povo brasileiro. Eu sei que ele não está aqui porque não tem autoridade moral para me enfrentar."