Em depoimento conjunto com Lea, o procurador da República responsável pela Operação Vegas, Daniel Rezende fez coro às declarações da colega. Ele disse que o Ministério Público Federal enfrentou diversas dificuldades para conduzir as investigações, desde a falta de estrutura do MPF e da Polícia Federal até a complexidade do esquema criminosa montado. “Nossa investigação precisou ser focada em um grupo criminoso ousado que cartelizou o mercado do jogo”, disse.
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Segundo Lea, as estratégias de atuação do grupo, como o código de silêncio nos depoimentos tanto à CPI como em audiências na Justiça Federal e as constantes ameaças a autoridades, assemelham-se às adotadas pelas máfias. “Quando Cachoeira pediu a mulher em casamento ou debochou em depoimentos, fica claro que ele não reconhece a autoridade do Estado”, disse Lea, que completou: “O silêncio é um direito de todos, mas o código de silêncio adotado nos depoimentos à CPI e à Justiça Federal é típico de organizações mafiosas, quando um membro de grupo, com seu silêncio, quer defender o grupo e ser leal ao chefe”.
A procuradora informou que as investigações começaram no município de Valparaíso (GO), no Entorno do Distrito Federal, a partir de denúncias anônimas. Com base nas buscas preliminares, a polícia confirmou a existência de casas de jogos ilegais no local e concluiu que o esquema só funcionava porque havia a conivência de agentes policiais. Essa parte da investigação foi realizada antes do monitoramento telefônico que flagrou, por exemplo, o ex-senador Demóstenes Torres conversando por diversas vezes com Carlinhos Cachoeira.
Ameaças
Lea relatou ainda que recebeu dois emails com ameaças a ela e sua família. As mensagens foram mandadas de Anápolis (GO), “reduto da família de Cachoeira” e local de exploração de jogos pelo seu grupo. “O certo é que a operação desvelou uma máfia, uma sociedade bem estruturada mais lucrativa que uma grande empresa. Um grupo profissionalizado, estável, permanente e habitual, montado para o cometimento de crimes de natureza grave. A sua existência por mais de uma década foi suficiente para montar uma estrutura estável e entranhada no seio do estado, inclusive com a participação e distribuição centralizada dos meios de comunicação para o desenvolvimento das atividades com o objetivo de inviabilizar a interferência das agências de persecução penal”, afirmou a procuradora.
Ela relatou ainda que uma mulher não identificada tentou invadir seu apartamento, sem sucesso, e seu carro, mesmo protegido por seguranças, foi abordado por PMs que o marcaram. Lea reforçou que ela e Daniel, além dos juízes do caso, tiveram de reforçar sua segurança pessoal, já que há indícios de que a quadrilha continua atuando.
Balanço da investigação
A representante do Ministério Público Federal apresentou, ainda, os resultados da operação que gerou oito decretos de prisão preventiva, oito decretos de prisões temporárias, 82 mandados de busca e apreensão e 45 mandados de condução coercitiva. Além disso, 45 agentes públicos foram afastados de suas funções. O Ministério Público Federal apresentou ainda, denúncia contra 80 pessoas, dentre elas dois delegados da Polícia Federal, um servidor administrativo da PF, um policial rodoviário federal, seis delegados e um agente da Policia Civil, dentre eles o então corregedor da entidade e 27 policiais militares de Goiás.
A procuradora informou que o processo está, atualmente, no prazo para que a defesa apresente as alegações finais. Na avaliação da procuradora, no entanto, a organização continua operando devido ao silêncio orquestrado por seus membros. “Enquanto não conseguirmos sufocar a organização ela continuará atuando, independente da prisão do chefe dela ou não”, afirmou.
Ela disse ainda, que as investigações esclareceram a estrutura “piramidal” do grupo criminoso que pretendia cartelizar o funcionamento dos jogos de azar em Goiás, com o apoio de agentes públicos das esferas estadual, municipal e federal. “Ficou clara a existência de uma estrutura central e hierarquizada com a distribuição da renda para os membros. E, para se perpetuar por anos a fio em locais conhecidos e modo mais ou menos explícito, a atividade criminosa conectou-se a agentes do Estado. […] Agentes públicos responsáveis pela persecução foram ainda utilizados para eliminar concorrentes e pessoas que não estavam cumprindo com as determinações do grupo, viabilizando o exercício do grupo de um claro controle territorial”, disse.
A procuradora classificou a organização como “criminosa, armada, complexa, altamente organizada e ousada”.
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