Ricardo Ramos |
Um relatório do Ministério Público de São Paulo que chegou ontem à tarde à CPI dos Bingos aponta que o advogado Rogério Buratti fez vários contatos, em 2004, para telefones da casa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de assessores que trabalham com ele no ministério e até para uma cafetina agenciadora de garotas de programa em Brasília. Os contatos contradizem a versão apresentada por Buratti, ex-secretário de governo de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, à CPI na terça-feira. Ele havia dito que perdera contatos freqüentes com o ministro da Fazenda desde 1994, quando deixara o cargo na prefeitura por suspeita de corrupção. De acordo com o relatório, Buratti fez ligações no momento em que estava sendo negociada a renovação do contrato de máquinas lotéricas entre a multinacional Gtech e a Caixa Econômica Federal. Buratti, segundo o documento ao qual o Congresso em Foco teve acesso, fora acusado de ter intermediado e pedido propina de R$ 6 milhões à Gtech durante a negociação. Leia também Numa referência a Buratti, o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que pretende reconvocar quem mentiu à comissão. Ele disse ainda que “se ficar comprovado uma série de contatos” com Palocci, “ele será convocado”. Cafetina A quebra do sigilo telefônico de Buratti revelou ainda que o advogado telefonara para Geane Mary Córner, famosa agenciadora de garotas de programa de Brasília. Ela aparece no topo da lista entre as principais chamadas discadas por ele no ano passado. Depois de Geane, a segunda pessoa para quem Buratti mais ligou foi Marcelo Franzine, diretor das empresas Aliança Assessoria Empresarial e Leão Leão, esta última onde Buratti já foi vice-presidente e que está sendo investigada pelo MP paulista por suspeita de participação num esquema de fraude em licitações públicas em 14 prefeituras paulistas. Em terceiro, Juscelino Antonio Dourado, chefe de gabinete de Palocci no ministério, e, em quarto lugar, Ralf Braquet Santos, consultor da presidência da Caixa escolhido para tratar da renovação do contrato com a Gtech que morreu em 2004. Informado do teor do documento, a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda informou que não iria se pronunciar ontem sobre o assunto. Segundo a quebra de sigilo, os telefones de Palocci estão em quinto lugar entre os mais discados por Buratti. Waldomiro Um dos depoimentos mais aguardados de ontem frustrou as expectativas da oposição, que havia escalado seus principais líderes. Waldomiro Diniz, ex-assessor de Assuntos Parlamentares da Casa Civil e ex-presidente da Loteria do Rio de Janeiro (Loterj), falou ontem à CPI dos Bingos na condição de investigado e negou a tentativa de extorsão de dinheiro ao bicheiro Carlos Cachoeira e a suposta intermediação de contrato entre a Gtech e a Caixa. Waldomiro negou que tenha pedido dinheiro a Cachoeirinha, de acordo com fita veiculada na imprensa em março do ano passado. Segundo ele, o encontro foi para defender interesses de Armando Dile junto ao empresário. Waldomiro confirmou que Cachoeira pediu-lhe para alterar um edital da Loterj. Foi aprovada ontem uma acareação entre os dois, contudo, não foi marcada a data. O ex-assessor da Casa Civil também isentou seu então chefe, o ministro José Dirceu, de qualquer responsabilidade dos seus atos. “A acusação que me fazem é ridícula”, afirmou Waldomiro à CPI, que repetiu várias vezes que Dirceu não tinha nada a ver com suas negociações. Waldomiro confirmou que fazia visitas diárias à Câmara dos Deputados. Contudo, negou que teve encontros com diretores da Gtech e da Caixa. Convocações A CPI dos Bingos aprovou ontem as convocações do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, dos ex-governadores do Rio Anthony Garotinho (PMDB) e Benedita da Silva (PT), da atual governadora, Rosinha Matheus, mulher de Garotinho, e do candidato derrotado ao governo do Distrito Federal Geraldo Magela (PT). Enquanto Dirceu terá de dar falar sobre a nomeação de Waldomiro, os demais convocados vão ter que explicar suspeitas de terem recebido irregular amealhada por Waldomiro. Uma transcrição da Polícia Federal das conversas entre Waldomiro e Cachoeira, ocorrida em maio de 2002 e divulgada ontem, reforça a tese de contribuição de caixa dois nessas campanhas. Ao menos para Magela, Waldomiro confirmou que doou R$ 100 mil por fora na campanha de 2002. O candidato derrotado ao governo do DF nega ter recebido esses recursos de Waldomiro. |