O mercado reagiu bem às declarações do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de que permanecerá no cargo até o fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de que não haverá mudanças na política econômica. A julgar pelos indicadores financeiros, os investidores se deram por satisfeitos com as explicações do ministro, que, no domingo, defendeu-se da acusação de que teria recebido propina enquanto esteve à frente da prefeitura de Ribeirão Preto (SP). Ao contrário de sexta-feira, quando as denúncias vieram à tona, o dólar fechou ontem em baixa, assim como o risco-Brasil, e a Bolsa fechou em alta.
Apesar disso, o clima é de cautela. Autor das denúncias que atingiram em cheio o mais influente dos ministros de Lula, o advogado Rogério Buratti vai depor amanhã, pela segunda vez, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos. A calmaria pode ser ameaçada conforme o grau de combustão do depoimento.
Mesmo dizendo-se satisfeitos com as explicações dadas por Palocci até o momento, membros da CPI admitem que o ministro poderá ser convocado, caso o ex-secretário de Governo de Ribeirão Preto apresente provas das acusações feitas semana passada. Segundo Buratti, Palocci recebeu mesada de R$ 50 mil da empreiteira Leão e Leão no período de 2001 e 2002. O dinheiro seria repassado ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
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O relator da comissão, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), admitiu que Palocci terá tratamento especial na CPI. “Há um cuidado muito maior, claro, principalmente por causa da preocupação com a estabilidade econômica. É preciso provas para convocá-lo. Até porque se ficar palavra contra palavra, vai ser difícil prevalecer a de Buratti”, disse.
O dólar registrou ontem a maior queda desde janeiro de 2003 (2,65%), caindo de R$ 2,45 para R$ 2,38. Índice que mostra a confiança dos investidores estrangeiros na capacidade do país em honrar seus pagamentos, o risco-Brasil caiu 2,63% ontem. Na sexta-feira, dia da denúncia, ele havia subido 3,45%. A Bolsa, que registrou queda de 0,95% no fim da semana passada, subiu ontem 2,32%.
O sucesso da intervenção de Palocci, no domingo, não só tranqüilizou o mercado financeiro como levou o presidente Lula a reavaliar a possibilidade de fazer novo pronunciamento à nação. Durante o seu programa quinzenal de rádio, Lula afirmou, nessa segunda-feira, que o ministro da Fazenda “mostrou a segurança de um inocente” e deu a “resposta que o Brasil precisava ouvir”.
As declarações do ministro, no entanto, não arrefeceram os ânimos da oposição. Pré-candidato à presidência da República, o prefeito do Rio, César Maia (PFL), acusou Palocci de ter omitido um contrato de R$ 41,6 milhões com a empreiteira, para manutenção do aterro sanitário do município, durante a entrevista coletiva concedida no último domingo. Ao se defender das acusações feitas por seu ex-assessor, o ministro citou apenas dois contratos: um herdado de seu antecessor, o tucano Luiz Roberto Jábali, e outro firmado em caráter emergencial, para coleta de galhos.
A denúncia do prefeito do Rio, reverberada na Câmara por seu filho, o líder do PFL na Casa, Rodrigo Maia (RJ), foi rebatida em nota pelo Ministério da Fazenda. De acordo com os assessores do ministro, o contrato não foi citado porque “não foi objeto de questionamento” durante a coletiva. Segundo César, Palocci fez 19 contratos com empresas do grupo Leão e Leão, no valor de R$ 53,9 milhões, entre os anos de 2001 e 2002. Em nove casos, não teria havido licitação.
Criticados pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, e pelo ministro da Fazenda, os promotores de Justiça de Ribeirão Preto que divulgaram o teor do depoimento de Buratti na sexta-feira anunciaram ontem que vão manter sigilo sobre as investigações relacionadas a supostas fraudes em licitações para serviços de limpeza pública em prefeituras do interior paulista.
“Isso decorre de uma estratégia de investigação. As diligências finais são de natureza sigilosa e a gente não pode divulgar sob pena de prejudicar as investigações”, disse o promotor Sebastião Sérgio da Silveira, do Grupo de Atenção Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaerco).