Cerca de 50 pessoas ocupavam as galerias e gritavam a cada manifestação de parlamentares da base. O problema começou quando a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) subiu à tribuna para discursar, defender a manutenção dos vetos e a aprovação do projeto que altera a meta de superávit primário. Com os gritos, ela passou a criticar a presença dos manifestantes, dizendo que estavam ali por terem sido pagos pela oposição. Sob vaias, deixou a tribuna.
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Na sequência, a líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), pediu que Renan determinasse a retirada dos manifestantes por supostamente terem xingado Vanessa de “vagabunda”. Manifestantes afirmaram, no entanto, que gritaram “vai para Cuba” enquanto a comunista discursava. “Ninguém disse isso que ela está dizendo. O que nós dissemos foi ‘vai pra Cuba’”, disse à reportagem o advogado paulista Mauro Scheer.
Apesar de intervenção da oposição, que era contra a retirada das pessoas das galerias, o peemedebista atendeu o pedido, e determinou que as polícias legislativas da Câmara e do Senado evacuassem as galerias. “Não é possível aceitar as galerias partidarizadas, se comportando desta forma”, disse.
Para Jandira, os presentes eram uma “claque paga pela oposição”. “Não representam nada nem ninguém”, disparou. De acordo com ela, os mesmos deputados que subiram para as galerias, especialmente de DEM e PSDB, eram os responsáveis pela presença dos manifestantes. “Vários deputados que pagaram essa claque estão lá em cima impedindo a segurança”, completou.
“Nós fomos até lá, conversamos para o pessoal que ele flexibilizem, respeitem os oradores”, disse o líder da minoria na Câmara, Domingos Sávio (PSDB-MG). No entanto, ele viu na atitude de Renan uma tentativa de “atropelar” a oposição. Rementendo às eleições de outubro e à votação do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno presidencial, disse não ter dúvida que hoje a oposição a Dilma Rousseff é “muito mais que 51 milhões”.
Como não foi possível retomar a calma nas galerias, Renan acabou suspendendo os trabalhos e convocando a reabertura da sessão para às 10h desta quarta-feira (3). “Esta obstrução é única em 190 anos do Parlamento. 26 pessoas presumidamente assalariadas impedindo os trabalhos do Congresso Nacional”, disparou.
A expectativa era que a votação do projeto que altera a meta fiscal de 2014 ocorresse logo na sequência da análise dos vetos. Mas Renan ainda não tinha se posicionado sobre uma questão de ordem apresentada pelo líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). O tucano pediu que a proposta só fosse analisada após a apuração das rejeições. Caso o peemedebista aceitasse a ponderação de Imbassahy, os trabalhos ficariam suspensos e poderiam ser retomados somente amanhã.
“Revólver”
Apesar de o plenário mais lotado, com mais de 500 deputados e senadores, foi nas galerias superiores reservadas à visitação pública que se deram as cenas de violência. Depois da ordem de Renan para que o local fosse evacuado, parlamentares de oposição subiram para impedir que a polícia legislativa retirasse os manifestantes à força. Os desentendimentos foram verificados até mesmo entre os agentes das duas Casas – os da Câmara acusando, reservadamente, os colegas do Senado pela truculência.
Depois de muitos empurrões e tumulto, permaneceram nas galerias deputados como Ronaldo Caiado (DEM-GO), Paulinho Pereira da Silva (SD-SP), Mendonça Filho (DEM-PE), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Fernando Francischini (SD-PR), Vanderlei Macris (PSDB-SP) e Izalci (PSDB-DF), entre outros, todos muito transtornados ante ao que classificaram como “truculência” e “absurdo”. A ideia, segundo eles, era que os agentes de segurança não detivessem os visitantes do Congresso. “Daqui a pouco eles podem ser presos”, disse Izalci ao Congresso em Foco.
Um dos manifestantes foi atingido por uma pistola de choque elétrico. Ele foi atendido e passa bem. Professor da rede pública de ensino de Goiânia, Alexandre Seltz – que dizia ser contra o socialismo, mas sem filiação partidária – relatou ter “apagado” durante o tumulto. “O segurança pediu para que eu saísse, e eu disse que não sairia. Nisso, ele desferiu um tiro de taser na minha mão”, disse, recorrendo à ironia. “Eu tenho 48 quilos. Devo ser muito difícil de ser imobilizado, então eles tiveram que disparar o taser!” Classificando a atitude de Renan com “ditatorial”, ele disse que falaria com Caiado para registrar o ocorrido na polícia.
“Lamentável que a gente tenha a polícia legislativa do Senado dando tiro de choque elétrico nos cidadãos”, disse Caiado à reportagem, com o rosto e o terno molhados de suor. Para ele, não havia mais condições de continuar a sessão para votar “um decreto de barganha”. “Renan, de maneira insensível, poderia pode provocar um desastre. Até revólver tinha aqui, e não era de choque. Era revólver! Isso aqui não é Venezuela, não é Alagoas!”, completou, referindo-se ao estado que Renan representa.
Enquanto Renan e a composição da Mesa do Congresso observavam, de braços cruzados, a confusão nas galerias, gritos de “covarde!” e “fora, PT” ecoavam entre os manifestantes – em coros puxados, por vezes, por alguns deputados. “Para você ver como as coisas estão viradas: o PCdoB, um partido que se diz socialista, foi que pediu para que tirassem as pessoas daqui”, disse Francischini, referindo-se à intervenção feita por Jandira.