Edson Sardinha
O presidente Lula disse hoje (12) que o Brasil não pode tratar o continente africano como se fosse “uma coisa secundária”. Em seu programa semanal de rádio, Lula afirmou que o país precisa intensificar as relações comerciais com toda a África por ter uma dívida histórica com os africanos. O petista fez um balanço positivo da viagem oficial a Cabo Verde, Guiné Equatorial, Quênia, Zâmbia, Tanzânia e África do Sul, realizada na semana passada. “Nós precisamos dar prioridade ao continente africano”, defendeu.
Na avaliação do presidente, o Brasil pode investir no setor de serviços desses países. “Por exemplo, construir linha de transmissão, construir hidrelétricas, construir ferrovia, construir rodovia, construir pontes. Ou seja, explorar mina de carvão, explorar minério de ferro, plantar cana-de-açúcar”, declarou. “Quando o Brasil financia uma empreiteira brasileira fazendo uma hidrelétrica na África, nós estamos exportando serviços estamos exportando engenharia, estamos ganhando dinheiro para o Brasil, e ajudando o país africano a se desenvolver”, acrescentou.
Veja a íntegra do Café com o Presidente:
“Apresentador: Presidente, o senhor percorreu seis países da África durante toda a semana passada, passou por uma grande parte do continente africano. Começando em Cabo Verde, seguiu para Guiné Equatorial e, depois, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul. Qual o balanço que o senhor faz dessa viagem, presidente?
Presidente: Olha, primeiro, Luciano, é importante lembrar que nós fomos participar em Cabo Verde do encontro da Cedeao (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) , que é uma organização que junta todos os países da África Ocidental, e tinham lá 13 países, os 13 Chefes de Estado, organizados pelo presidente de Cabo Verde. Foi uma boa reunião. E depois então nós seguimos para Guiné Equatorial, para o Quênia, para a Tanzânia, para Zâmbia e, depois, para a África do Sul. É muito importante para o Brasil fazer essas viagens, porque o Brasil, primeiro, tem compromissos históricos, compromissos políticos de ajudar o continente africano a se desenvolver. O Brasil é 2º país negro do mundo, só a Nigéria que tem mais população negra do que o Brasil. O Brasil tem dívida histórica com os africanos, e nós achamos como essa dívida não pode ser paga com dinheiro, ela é paga com solidariedade, com gestos políticos e com ajuda. Por exemplo, nós estamos com a Embrapa já há três anos trabalhando no continente africano, com sede na cidade de Acra, em Gana, pesquisando as perspectivas de produção do solo africano. E uma coisa nós já conseguimos detectar, ou seja, o solo africano, sobretudo, o solo da savana africana, na sua maioria, é muito parecido com o solo do cerrado brasileiro. Portanto, com um pouco de tratamento da terra, com um pouco de correção de solo, com um pouco do manejo, nós poderemos transformar uma parte da savana africana numa produção de alimento extraordinária como é a produção do cerrado brasileiro. A segunda coisa que nós achamos importante é que, também, a transferência de tecnologia, a venda de produtos brasileiros e a compra de produtos deles para o Brasil, para que tenha um comércio equilibrado. Só pra você ter ideia, de 2002 a 2010, nós tínhamos uma balança comercial de US$ 5 bilhões com a África, passamos a ter agora de US$ 26 bilhões. Cresceu muito e eu acho que pode crescer muito mais.
Apresentador: Presidente, em todos esses países o senhor foi acompanhado de uma delegação com vários empresários brasileiros. Qual a importância da participação de empresários nestes encontros?
Presidente: Olhe, é muito importante, porque nós fazemos a política, mas quem faz os acordos empresariais são os empresários. Daí porque nós costumamos convidar muitos empresários, muitas vezes os nossos ministros viajam e levam, no próprio avião da FAB empresários, sobretudo, nos setores que nós temos interesses de fazer investimento. O Brasil pode investir muito no setor de serviços desses países. Por exemplo, construir linha de transmissão, construir hidrelétricas, construir ferrovia, construir rodovia, construir pontes. Ou seja, explorar mina de carvão, explorar minério de ferro, plantar cana-de-açúcar. Ou seja, tudo isso o Brasil pode fazer, e tudo isso é importante que o Brasil tenha condições de ajudar a financiar. Porque, quando o Brasil financia uma empreiteira brasileira fazendo uma hidrelétrica na África, nós estamos exportando serviços estamos exportando engenharia, estamos ganhando dinheiro para o Brasil, e ajudando o país africano a se desenvolver. E eu acho que o Brasil não pode tratar o continente africano como se fosse uma coisa secundária, nós precisamos dar prioridade ao continente africano.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, o senhor tem dito que, mesmo deixando a presidência, quer continuar ajudando a África, passando a experiência brasileira na área social. O senhor já tem algo mais definido, mais concreto neste sentido?
Presidente: Não, o que eu tenho dito, na verdade, Luciano, é que quando eu deixar a presidência, eu tenho que aproveitar o acúmulo dos acertos que nós tivemos em política social no Brasil, e que são muitos, para que a gente possa trocar experiência com os países, por exemplo, da América Central, com os países da América do Sul, com os países do Caribe e com a África. Obviamente, que nós queremos é que as pessoas conheçam o que nós estamos fazendo para adaptar, em função da realidade deles, os programas do jeito que eles entenderem que deva colocar em prática, ou seja, eu não tô a fim de levar a cartilha pronta pra ninguém, eu tô a fim de dizer: “Olha, no Brasil nós fizemos assim e assado, deu certo”. Então, eu penso que o acúmulo de experiência que nós vamos ter, ao deixarmos a Presidência da República do Brasil, não pode ficar apenas pra nós brasileiros sabermos. É preciso que a gente faça com que o mundo saiba que é possível, sabe, a gente construir um outro mundo.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula, e até a próxima semana.”