Edson Sardinha
Em seu programa semanal de rádio, o presidente Lula condenou o golpe de Estado que depôs ontem (28) o presidente de Honduras, Manuel Zelaya. Segundo Lula, a única forma de o país continuar mantendo relações com o governo hondurenho é a volta ao poder do presidente eleito pelo povo.
“Não tem contemporização, não tem meio termo, nós temos que condenar este golpe. Nós não podemos aceitar ou reconhecer qualquer novo governo que não seja o presidente do Zelaya, porque ele foi eleito diretamente pelo voto, cumprindo as regras da democracia”, criticou o presidente. “Portanto, se Honduras não rever a posição, vai ficar totalmente ilhado no meio de um contingente enorme de países democráticos”, acrescentou Lula.
Zelaya foi detido ontem pela manhã em sua residência e retirado do país em um voo para a Costa Rica numa operação militar. O golpe ocorreu no dia em que estava prevista uma consulta popular em todo o país sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte, considerada ilegal pela Justiça hondurenha. O presidente do Congresso, Roberto Micheletti, foi empossado como novo presidente de Honduras.
Ainda no Café com o Presidente, Lula destacou quatro ações adotadas pelo governo na última semana: o cumprimento de uma meta de eletrificação rural, o lançamento do Plano Safra, a criação do Ministério da Pesca e a assinatura de um acordo nacional entre usineiros e trabalhadores, celebrado pelo petista como a mais importante das iniciativas.
Segundo o presidente, o acordo vai impulsionar as exportações do biodiesel porque vai melhorar a imagem do país lá fora. “Nós trabalhamos com os usineiros a idéia de que era preciso humanizar as relações de trabalho entre os trabalhadores e os usineiros. Eu estou convencido de que isso vai ser bom porque, quanto melhor for a imagem da produção de etanol, mais vantagem comparativa nós teremos na disputa comercial no mundo. Mas tinha um ranço com relação às condições dos trabalhadores. A imagem é sempre muito negativa, aqueles trabalhadores chamados de ‘bóia-fria’ comendo comida gelada, não tendo água gelada para beber, não tendo banheiro”, declarou o presidente.
Confira a íntegra do Café com o Presidente:
“Apresentador: Olá você em todo o Brasil. Eu sou Luciano Seixas e começa agora, o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Olá, presidente, como vai? Tudo bem?
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente, uma ação de destaque da semana passada, foi o acordo entre governo, trabalhadores e usineiros, para melhorar as condições de trabalho nos canaviais. Podemos dizer que essa foi uma conquista coletiva, não é, presidente?
Presidente: Luciano, antes de falar no acordo dos canavieiros com os usineiros, eu acho importante lembrar o que aconteceu a semana passada, para a agricultura brasileira que foram coisas extremamente importantes. Primeiro, nós fomos a Congoinhas, lá no estado do Paraná, comemorar a luz elétrica na casa número 2 milhões. Ou seja, isso foi uma coisa extraordinária, porque nós atingimos a meta do IBGE e conseguimos atender dez milhões de pessoas. Depois nós fomos a Londrina lançar o Plano Safra, que foi o plano, sabe, mais importante da agricultura, porque nós fizemos um investimento de R$ 107 bilhões e uma série de vantagens, ou seja, um aumento de mais de 37% no dinheiro que nós disponibilizamos para a agricultura, para que a gente possa garantir a agricultura brasileira, cada vez produzindo mais, cada vez vendendo mais e cada vez barateando mais o preço, aqui no Brasil. E a terceira coisa importante que aconteceu foi o Ministério da Pesca, ou seja, finalmente, nós conseguimos criar o Ministério da Pesca. Fizemos o lançamento do Ministério em Itajaí, lá em Santa Catarina. E a coisa mais importante, que para mim é histórica, foi o acordo nacional, feito entre os trabalhadores com os usineiros. Na verdade, é um acordo de adesão. E nós não tínhamos a expectativa de que tantos empresários iriam participar. O fato de terem assinado um acordo de adesão, mais de 300 empresários, no dia do lançamento, é uma coisa extremamente importante, porque o etanol passou a ser uma coisa importante na nova matriz energética, que nós queremos construir no mundo. Um combustível renovável, menos poluente e grande gerador de emprego. Mas nós tínhamos um problema internacional: os nossos adversários, que não querem utilizar biocombustíveis, acusavam que a cana-de-açúcar era trabalho penoso, que era trabalho escravo. Então, nós trabalhamos com os usineiros a idéia de que era preciso humanizar as relações de trabalho entre os trabalhadores e os usineiros. Eu estou convencido de que isso vai ser bom porque, quanto melhor for a imagem da produção de etanol, mais vantagem comparativa nós teremos na disputa comercial no mundo. Mas tinha um ranço com relação às condições dos trabalhadores. A imagem é sempre muito negativa, aqueles trabalhadores chamados de ‘bóia-fria’ comendo comida gelada, não tendo água gelada para beber, não tendo banheiro.
Apresentador: Presidente, quais são os principais pontos desse compromisso e o que ele vai dar a todos os envolvidos?
Presidente: No acordo nós previmos 18 itens que asseguram ao trabalhador cortador de cana o direito à cidadania. Por exemplo, uma coisa importante é que nós acabamos com o atravessador, que era chamado de ‘gato’, na contratação do cortador de cana. O cidadão sai de um estado para vir cortar cana na safra no outro estado e, muitas vezes, esse trabalhador não era bem tratado. Será assegurada maior transparência na aferição da cana cortada. Os trabalhadores terão conhecimento prévio sobre o preço a ser pago e a forma da medição. Havia muita queixa de que os trabalhadores cortavam cana e que eles não participavam da pesagem da cana. Portanto, eles se sentiam enganados. Os trabalhadores receberão equipamentos de proteção individual em toda a cadeia produtiva. Eu acho que, embora esteja apenas começando, é uma revolução que aconteceu no Brasil, porque convenceu os usineiros e convenceu os trabalhadores de que quanto mais a gente agir corretamente e cumprir a lei, tratar as coisas com carinho, cuidar do trabalhador com carinho, mais a gente vai ter respeitabilidade no exterior.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula. Presidente, a América Latina está chocada com o golpe de estado em Honduras. Como é que o senhor vê essa situação?
Presidente: Olhe, eu fiquei sabendo ontem, logo cedo quando levantei, do golpe. Conversei com o presidente de El Salvador, conversei com o presidente Lugo (do Paraguai), conversei com a presidenta Michelle Bachelet (do Chile), conversei com o ministro Celso Amorim, que comunicou ao nosso embaixador na OEA (Organização dos Estados Americanos), e nós achamos que não tem contemporização, não tem meio termo, nós temos que condenar este golpe. Nós não podemos aceitar ou reconhecer qualquer novo governo que não seja o presidente do Zelaya, porque ele foi eleito diretamente pelo voto, cumprindo as regras da democracia. E nós não podemos aceitar mais, na América Latina, alguém querer resolver o seu problema de poder pela via do golpe, porque nós não podemos aceitar que alguém veja alguma saída para o seu país fora da democracia, fora da eleição livre e direta. E o Zelaya ganhou as eleições. Portanto, ele deve retornar à presidência de Honduras. É a única condição para que a gente possa estabelecer relações com Honduras. E portanto, se Honduras não rever a posição, vai ficar totalmente ilhado no meio de um contingente enorme de países democráticos.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula e até a próxima semana.
Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até o próximo Café com o Presidente, que iremos fazer diretamente da França.”
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