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Quando o presidente Lula vetou na semana passada o aumento de 15% para os servidores da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Tribunal de Contas da União (TCU), o mundo veio abaixo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se disse traído. Líderes oposicionistas entoaram em coro pesadas críticas ao veto. Na bancada governista, ninguém saiu em defesa da decisão do Palácio do Planalto. No último domingo, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), destoando da hipocrisia geral, demonstrou mais uma vez porque é um dos parlamentares mais respeitados do Congresso. Perguntado sobre o veto em entrevista publicada pelo Jornal do Brasil, respondeu: "Sou favorável. Sou um senador de oposição que vou aplaudir o governo e desgostar todos os funcionários do Senado. É impopular, é antipático, mas eu tenho coragem de assumir. O governo está certo em não dar o reajuste, porque impacta o orçamento e nào foi dado aos servidores da União, que tiveram apenas 0,1%. Que me desculpem os servidores do Senado, mas não faço demagogia". Leia também Jefferson Péres poderia dizer mais. Que, por exemplo, esse aumento de 15% representará uma elevação das despesas federais em quase R$ 600 milhões por ano. Ou que os servidores beneficiados pelo reajuste vetado já se encontram entre os mais bem pagos do país. Afinal, um jornalista em início de carreira no Senado recebe uma remuneração bruta próxima de R$ 10 mil para trabalhar 30 horas por semana. Sem falar que há dezenas de funcionários na Câmara, no Senado e no TCU que recebem acima de R$ 20 mil. Portanto, considerando tanto a escassez de recursos para atender às prioridades nacionais como a necessidade de tratar o funcionalismo de modo isonômico, a mera defesa do aumento soa indecente. O problema é que é da tradição do nosso Parlamento encampar os mais absurdos privilégios corporativistas defendidos por grupos sociais com poder de influenciar deputados e senadores. Foi assim que o Estado brasileiro se transformou em uma máquina dispendiosa e ineficaz. Bom encontrar um parlamentar com coragem para desafiar esse jogo tão lesivo ao conjunto da população. |