O Movimento Negro Unificado (MNU) reagiu às declarações do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) proferidas em palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, no início da semana. Ao anunciar pedido de abertura de inquérito criminal e de representação por quebra de decoro contra o “deputado racista” – termo utilizado na nota pelo grupo ativista – o movimento fez um resgate histórico da perseguição aos judeus pelo regime nazista e estabeleceu uma analogia com a situação vivida pelos negros brasileiros, principais vítimas da miséria e da violência urbana no país.
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“Os que bateram palmas e riram apoiaram a emergência do nazismo tupiniquim, do igualitarismo totalitário que vocifera: ‘Se você não é igual a mim, não tem direito a existir’. Que paradoxalmente prega a superioridade de um modo de ser sobre outros e termina nas tentativas de apagar pela força as diferenças de posição social e de estilos de vida”, afirma. “Os que bateram palmas e riram são cúmplices do discurso de ódio e racismo. Exigimos retratação pública”, acrescenta a entidade, criada há quase 39 anos. O texto também lembra de uma das passagens mais trágicas da história da humanidade, o holocausto.
“Achamos que não é preciso relembrá-los do Shoá (holocausto judeu) e suas consequências, mas caso tenham apagado da memória, quando as tropas aliadas entraram no complexo Auschwitz encontraram cerca de 7.500 sobreviventes, 350 mil roupas de homens, 837 mil vestidos de mulher e 7,7 toneladas de cabelo humano, mais de 1,1 milhão de judeus mortos, isso em apenas quatro anos de funcionamento (tempo do mandato de um presidente)”, destaca o movimento, em alusão às pretensões presidenciais de Bolsonaro.
“Os que bateram palmas e riram apoiaram ideias iguais a estas que trouxemos à lembrança, apoiaram o discurso de ódio, que alimenta o genocídio da juventude negra, no Brasil todo ano, 23.100 jovens negros, de 15 a 29 anos, são mortos, um jovem a cada 23 minutos. As ruas funcionam como as câmaras de gás, promovendo o genocídio da população negra”, diz o movimento.
Publicidade“Nem pra procriar serve”
Na palestra para representantes da comunidade judaica no Rio, o pré-candidato à Presidência da República disparou contra negros, indígenas, mulheres, homossexuais e refugiados e usou a deficiência física do ex-presidente Lula para chamá-lo de “energúmeno”.
“Quanto ao autor do discurso de ódio e racismo, já estão sendo propostas ações judiciais que o MNU apoia integralmente, exigimos que a Câmara dos Deputados abra um processo disciplinar que onde deverá ser processado para a perda o mandato”, defendeu o Movimento Negro Unificado.
Diante de cerca de 300 pessoas, Bolsonaro afirmou que, se for eleito, pretende acabar com todas as reservas de terra de indígenas e quilombolas (descendentes de escravos que vivem em quilombos). “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, discursou.
Sob protesto
Mesmo na presença de um público formado majoritariamente por refugiados e descendentes, o deputado defendeu que o Brasil feche as portas para quem foge hoje da barbárie em outros países: “Não podemos abrir as portas para todo mundo”. O parlamentar, que responde a processo no Supremo Tribunal Federal por incitação ao crime de estupro, foi aplaudido pela maior parte dos participantes do encontro.
Do lado de fora, mais de 100 pessoas protestavam contra sua presença na Hebraica. O anúncio da participação dele em um evento no clube da comunidade judaica em São Paulo, em fevereiro, provocou tanta polêmica que acabou sendo cancelado na véspera.
O deputado voltou a se referir a “raça” para atacar os manifestantes que o vaiavam. “Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Não, porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual a essa raça que tá aí embaixo, ou como uma minoria que tá ruminando aqui do lado”. “O pessoal aí embaixo (manifestantes), eu chamo de cérebro de ovo cozido. Não adianta botar a galinha, que não vai sair pinto nenhum. Não sai nada daquele pessoal.” Ele também fez comentário ironizando as mulheres. “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”, disse.
Leia a íntegra da nota do MNU:
“OS QUE BATERAM PALMAS E RIRAM
* Carta aberta ao Clube Hebraica Rio e ao deputado racista
Diante da veiculação de vídeos de uma palestra no Clube Hebraica Rio, nesta segunda (3), na qual em seu discurso, o deputado bolsonaro (a letra minúscula no nome próprio é proposital) falava das terras quilombolas quando afirmou que “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais”. Atacando ainda mulheres, gays e refugiados, e garantiu que não vai ter “um centímetro demarcado” para reservas indígenas ou quilombolas se eleito for presidente 2018. Numa total cumplicidade dos presentes este discurso de ódio foi muito aplaudido e ovacionado com gritos de apoio, sendo chamado de “mito” por parte da plateia.
O que denota total comprometimento deste Clube Hebraica, por convidar um racista, proporcionando o desagravo pela mobilização da comunidade judaica que levou ao cancelamento do mesmo evento com Bolsonaro na Hebraica de São Paulo.
O MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO, tendo o dever de se posicionar contra discurso racista, recheado de intolerância e ódio e o apoio efusivo dado pela plateia, se vê obrigado de trazer a memória destes QUE BATERAM PALMAS E RIRAM. que :
Em 1935 foi promulgada uma lei pelo regime nazista que prescrevia que era “digno de punição qualquer crime definido como tal pelo ‘saudável sentimento’ popular”. Uma ética estava predominando na sociedade alemã que acolhia e fomentava a prática do genocídio de judeus, eslavos e outros povos “inferiores”, e que durante esse regime nefasto foram apagados os valores da democracia e da tolerância e o respeito absoluto a todas as minorias.
Seguindo as Leis de Nuremberg, os judeus perderam seus direitos de cidadania, de ocupar cargos públicos, de praticar determinadas profissões, de casar-se com alemães ou de fazer uso da educação pública. Suas propriedades e negócios foram confiscados.
Achamos que não é preciso relembrá-los do Shoá (holocausto judeu) e suas consequências, mas caso tenham apagado da memória, quando as tropas aliadas entraram no complexo Auschwitz encontraram cerca de 7.500 sobreviventes, 350 mil roupas de homens, 837 mil vestidos de mulher e 7,7 toneladas de cabelo humano, mais de 1,1 milhão de judeus mortos, isso em apenas 4 anos de funcionamento (tempo do mandato de um presidente)
OS QUE BATERAM PALMAS E RIRAM, apoiaram ideias iguais a estas que trouxemos à lembrança, apoiaram o discurso de ódio, que alimenta o genocídio da juventude negra, no Brasil todo ano, 23.100 jovens negros, de 15 a 29 anos, são mortos, um jovem a cada 23 minutos. As ruas funcionam como as câmaras de gás, promovendo o genocídio da população negra.
OS QUE BATERAM PALMAS E RIRAM, apoiaram a emergência do nazismo tupiniquim, do igualitarismo totalitário que vocifera: “Se você não é igual a mim, não tem direito a existir”. Que paradoxalmente prega a superioridade de um modo de ser sobre outros e termina nas tentativas de apagar pela força as diferenças de posição social e de estilos de vida.
OS QUE BATERAM PALMAS E RIRAM, apoiaram os atos de horror do coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, idolatrado pelo deputado racista, que levaram à morte do judeu Wladimir Herzog e de Iara Iavelberg.
OS QUE BATERAM PALMAS E RIRAM são cúmplices do discurso de ódio e racismo.
EXIGIMOS A RETRATAÇÃO PÚBLICA.
Sugerimos um debate sobre as condições que os judeus negros e judias negras estão vivendo no Estado de Israel. E como o racismo institucional tem afetado a vida destes irmãos e irmãs, em especial a juventude israelita de origem etíope.
Quanto ao autor do discurso de ódio e racismo, já estão sendo propostas ações judiciais que o MNU apoia integralmente, exigimos que a Câmara dos Deputados abra um processo disciplinar que onde deverá ser processado para a perda o mandato.
O MNU reafirma seu compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, racistas não passarão.”