Larissa Calixto *
O presidente Jair Bolsonaro questionou a veracidade dos documentos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade, órgão criado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff com o objetivo de investigar graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado na ditadura militar (de 1964 a 1985). “Você acredita em Comissão da Verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma [Rousseff]”, afirmou Bolsonaro quando questionado por jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada, nesta terça-feira (30).
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“Não existem documentos se matou ou não matou, isso é balela” respondeu quando questionado sobre a conclusão da comissão sobre a morte do então estudante de Direito Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
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“Você quer documento para isso, meu Deus do céu? Documento é quando você casa, você divorcia. Eles têm documentos dizendo o contrário?”, disse Bolsonaro.
Fernando Santa Cruz Oliveira era militante ligado à Ação Popular, movimento de esquerda e de resistência à ditadura militar. O estudante desapareceu em 1974, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade. Segundo o colegiado, ele foi “preso e morto por agentes do Estado brasileiro”. Em relatório final da comissão, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops-ES) Claudio Guerra afirmou em depoimento, em 2014, que o corpo do estudante foi incinerado na Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes (RJ).
PublicidadeBolsonaro recebeu uma enxurrada de críticas após provocar Felipe Santa Cruz. “Se o presidente da OAB quiser saber como o pai dele desapareceu no período da militar, eu conto para ele”, disse o presidente. Após essa declaração, Felipe Santa Cruz afirmou que acionará o Supremo Tribunal Federal para que Bolsonaro venha a esclarecer a sua afirmação. Para Santa Cruz, Bolsonaro agiu como um “amigo do porão da ditadura” e demonstra “traços de caráter graves em governante: a crueldade e a falta de empatia”.
Quando indagado se está disposto a fornecer as informações ao STF sobre as circunstâncias da morte de Fernando, o presidente afirmou que não possui registros e que a sua versão está baseada em “sentimento”. “O que eu sei é o que falei para vocês. Não tem nada escrito que foi isso, foi aquilo. Meu sentimento era esse”, respondeu Bolsonaro.
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* Estagiária sob a supervisão de Edson Sardinha