Renaro Cardozo
Se Bruno Mezenga Berdinazzi, personagem interpretado pelo ator global Antônio Fagundes, era o rei do gado, nas eleições de outubro, a população da região Centro-Oeste encontrará nas cabines de votação os verdadeiros reis da terra.
Somente um deles, o ex-governador Jayme Campos (PFL-MT), candidato favorito ao Senado em seu estado segundo as pesquisas de intenção de voto, declarou à Justiça eleitoral a propriedade de 25.500,4618 hectares. Isto, sem contar um avião particular e diversas fazendas cuja área não é discriminada na declaração. Com um patrimônio de R$ 14,1 milhões, é o segundo mais rico dentre os candidatos a governador e senador na região.
O primeiro lugar nesse quesito é o governador Blairo Maggi (PPS), candidato à reeleição. Seu patrimônio soma R$ 33,4 milhões. Blairo também não informa o tamanho de todas as propriedades arroladas em sua declaração de bens, além de não listar os imóveis pertencentes às empresas rurais de que é sócio. Mas apenas as terras com área discriminada totalizam 2.248,05 hectares, distribuídos no Mato Grosso e no Paraná.
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Dione de Araújo, que concorre ao Senado pelo PFL de Goiás, é outro proprietário de grandes extensões de terras rurais. Considerando apenas as que têm o tamanho identificado, elas somam 4.526,75 hectares. A declaração de bens, totalizando R$ 1,56 milhão, também chama atenção pelo baixo valor atribuído a diversos itens listados, como prédios comerciais e imóveis urbanos. O empresário é dono de 50% de três prédios comerciais e três residenciais em Minas Gerais e diz que quatro deles não chegam a valer nem R$ 6 mil!
O PT também tem um latifundiário na região, o senador Delcídio Amaral, ex-presidente da CPI dos Correios, que disputa o governo do Mato Grosso do Sul. Ele tem 4.147 hectares em imóveis rurais.
PublicidadeJuntos, esses quatro candidatos possuem nada menos que 36.422,2618 hectares, ou seja, o correspondente à área ocupada por nada menos que 37.936 campos de futebol.
Na terceira matéria da série sobre o patrimônio dos candidatos às eleições deste ano, o Congresso em Foco apresenta hoje os bens dos concorrentes a cargos majoritários do Centro-Oeste (leia lista completa). Na sexta-feira, foram divulgados os bens dos candidatos da região Sudeste (leia aqui) e, ontem, da região Sul (leia aqui).
Os mais ricos
Com 50 anos, Blairo Maggi tem um patrimônio que só perde, até agora na série, para os de Ronaldo Cezar Coelho, candidato pelo PSDB ao Senado do Rio (R$ 492 milhões), e Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo que tenta voltar ao Palácio dos Bandeirantes (R$ 111,5 milhões). Os bens declarados por Maggi totalizam R$ 33.444.394,07.
A fortuna desse gaúcho, nascido em Torres (RS), teve origem no ano de 1973, quando ele fundou em Mato Grosso a Sementes Maggi, que produzia e comercializava sementes de soja. A empresa deu certo e surgiu o Grupo Maggi, posteriormente chamado de Amaggi. Ele abrange as Sementes Maggi, Amaggi Exportação e Importação, Hermasa Navegação da Amazônia, Agropecuária Maggi e Maggi Energia.
O patrimônio do único governador do PPS inclui seis automóveis, entre os quais duas BMW, além de uma casa em Rondonópolis (MT) avaliada em R$ 4,25 milhões.
Maggi é seguido por outro político mato-grossense, Jayme Campos, cujos bens alcançam R$ 14.142.116,37. O valor real da fortuna do ex-governador pode, no entanto, ser ainda maior. Para citar apenas um exemplo, Jayme Campos atribui a uma área de 11.060,50 hectares, denominada Fazenda Santa Amália, apenas R$ 193,81. Seu patrimônio inclui, além de bens rurais, vários imóveis urbanos (em Mato Grosso e São Paulo) e veículos de luxo.
A terceira fortuna na região, a julgar pelos dados repassados à Justiça eleitoral, é do senador Maguito Vilela (PMDB), que, no meio do mandato, tenta trocar a cadeira do Congresso pela de governador de Goiás. Maguito declarou um patrimônio de R$ 4,67 milhões e a posse de 943,4 hectares de terra.
O político possui ainda 450 cabeças de gado, além de 50 caprinos e criações de aves. Mais de R$ 3,5 milhões dos seus bens provêm de suas riquezas rurais (fazendas, animais e equipamentos agrícolas).
O gado de Roriz
Maguito é seguido de perto pelo ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB), que disputa o Senado e tem patrimônio declarado de R$ 4.489.278,85. A maior parte desse valor vem da posse de 6.227 cabeças de gado bovino, avaliadas em R$ 2,85 milhões. Roriz também declara a propriedade de 662,7419 ha em imóveis rurais.
Outros grandes proprietários de terras na região são Alcides Rodrigues Filho (PP-GO), candidato a governador, com 962,12 hectares, e André Puccinelli (PMDB-MS), concorrente ao governo estadual, 634,2 ha. O último tem um patrimônio total de R$ 2.376.655,78. Já Alcides, considerando os valores declarados (que parecem estar bastante defasados), possui R$ 309,9 mil.
Em termos de patrimônio pessoal, Puccinelli é o quinto candidato majoritário mais rico do Centro-Oeste (considerando apenas os concorrentes ao Senado e ao governo). Em sexto lugar, vem a governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que tenta se manter no cargo. Na sua declaração, aparecem quatro apartamentos e diversas aplicações financeiras. Somente uma delas, no Banco do Brasil, chega a R$ 591,5 mil.
Os outros mais ricos são: Dione de Araújo (PFL-GO), R$ 1.561.636,01; o senador Delcídio, R$ 1.536.125,90; Laurence Raulindo (PDT-DF), candidato a senador, R$ 1,313 milhão; e o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que concorre ao governo estadual.
Em relação aos dois últimos, merecem registro as seguintes curiosidades. Antero tem R$ 507 mil em vacas. E Laurence, R$ 900 mil em direitos autorais.
O bloco dos sem-bens
O ex-governador goiano Marconi Perillo (PSDB), favorito segundo as pesquisas na disputa para o Senado em seu estado, também tem boa parte do seu patrimônio no campo. Mas as posses que declara são mais modestas que a de vários concorrentes. Ele informa ter a propriedade de 38 alqueires de terras rurais no município de Pirenópolis (GO), o correspondente a 190 hectares. Seu patrimônio total fica pouco acima de R$ 700 mil.
Se a região chama a atenção por ter muitos candidatos milionários, no outro lado da ponta, dez concorrentes declararam não possuir um único bem sequer. Esse bloco é composto por postulantes que se registraram para as eleições por legendas de esquerda, como o PCO, PCB e Psol, ou pouco conhecidas no cenário nacional, como PSC, PSDC e PHS.
Um deles é Gilson Vasconcelos Dobbin (DF), candidato do PCO ao Senado. Ele declarou ser proprietário de um apartamento na SQSW 304, quadra bastante valorizada do Setor Sudoeste, mas atribuiu valor zero ao imóvel.
A dupla dificuldade (partido pequeno e sem ter bens que, em tese, ajudariam a custear sua campanha) não impediu que quatro dos dez concorrentes desse seleto grupo jogaram lá para a casa dos milhões, de acordo com os dados informados à Justiça Eleitoral, o teto de gastos na disputa pelo voto. São eles: os candidatos ao governo de Mato Grosso Josmar Oliveira Alderete (R$ 2 milhões), pelo PSDC, e Roberto Aparecido Pereira, pelo PHS (R$ 1,3 milhão); e os concorrentes às cadeiras do Senado por Mato Grosso Janete Oliveira de Carvalho Dantas, pelo PcdoB (R$ 1,1 milhão), e por Mato Grosso do Sul Carlos Antonio Menezes Leite, pelo PV (R$ 10 milhões).
Embora os candidatos, com receio de ter que dar explicações para a Justiça Eleitoral, elevem às alturas seu teto para terem uma boa margem de arrecadação para trabalhar, o caso de Antonio Menezes Leite não deixa de ser curioso. Para um candidato sem patrimônio, seus R$ 10 milhões de teto superam a soma dos outros seis concorrentes – que chega a R$ 8,95 milhões.