Pedro Alexandre Martins *
Atualmente, existem diversos procedimentos estéticos, tanto para tratamento da face quanto para o contorno corporal, que são muito úteis para correção de pequenas alterações. Eles complementam e, em alguns casos, até substituem uma intervenção cirúrgica. Deve-se, no entanto, ter muito cuidado para que a sua indicação seja correta. Por serem passíveis de serem realizados no consultório, dispensarem anestesista, serem pouco agressivos e de menor custo, se comparados com as cirurgias, acabam sendo muito atraentes para quem anseia melhorar sua aparência e por algum motivo, até compreensível, tem receio de ser operado ou anestesiado.
Por essas razões o terapeuta precisa agir com honestidade, não iludindo o paciente. Este, por sua vez, deve tomar muito cuidado quando lhe são propostas essas terapias estéticas. Em outras palavras, é necessário compreender que procedimentos simples, em geral, obtêm resultados limitados, ou seja, não existem terapias milagrosas capazes de resolver casos complexos dispensando os métodos cirúrgicos. É aí que se encontra o perigo da tão combatida superindicação (quando um procedimento é insuficiente e ineficaz para solucionar o problema para o qual foi indicado).
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Veja-se, por exemplo, o caso da toxina botulínica (conhecida popularmente como “Botox”, nome da sua marca americana, a primeira a registrá-la para fins estéticos). Se aplicada com técnica adequada e com moderação, ela é muito eficaz no tratamento e eliminação temporária (seis meses) de rugas da testa, em torno dos olhos e dorso do nariz. Porém, se for aplicada em excesso, pode causar ptose (queda) dos supercílios ou elevação exagerada do canto das sobrancelhas, sem falar em supressão quase que total da mímica e expressão facial, por quebrar o equilíbrio dos músculos da face. Ao paralisar totalmente um grupo muscular, acaba fazendo predominar a ação dos seus antagonistas (que fazem o movimento contrário), provocando expressões grotescas, muitas vezes incondizentes com a emoção que o paciente desejaria expressar.
Os preenchimentos faciais temporários, por sua vez, em especial o ácido hialurônico, podem ser utilizados com sucesso no aumento dos lábios, atenuação de sulcos faciais muito profundos ou rugas que fazem a face “pesar” e parecer envelhecida. Um erro infelizmente comum, realizado por terapeutas sem formação em cirurgia plástica e mesmo médica, é tentar tratar a flacidez facial (que exigiria a retirada cirúrgica do excesso de pele e sua suspensão e tração corretas) com preenchimentos agressivos, volumosos, simplesmente distendendo a pele da face que se torna entumescida, com alteração do seu relevo natural, adquirindo um aspecto “inchado”,”artficial” e disforme.
A dermomicropigmentação feita adequadamente pode proporcionar ao paciente uma maquiagem permanente agradável, definir o contorno labial e palpebral. As aréolas com perda parcial ou total por câncer, infecções ou necrose das mamas podem ser pigmentadas com excelente resultado estético, muitas vezes, nesse caso, superando até a cirurgia reconstrutiva. Se forem utilizados, no entanto, técnicas e equipamentos inadequados ou pigmentos de baixa qualidade, as frustrações podem ser grandes e de difícil solução. São procedimentos feitos por técnicos micropigmentadores, mas que devem ser monitorados sempre pelo cirurgião assistente.
PublicidadeExistem ainda os peelings químicos e abrasivos, que são ótimos para manchas e cicatrizes superficiais. A carboxiterapia, que consiste em injeções de CO2 abaixo da pele, tem sua ação benéfica no tratamento de estrias e cicatrizes, pelo estímulo à oxigenação que ela promove nos tecidos. A laserterapia e a luz pulsada têm também suas indicações e podem trazer benefícios específicos.
O fundamental para orientação e segurança do paciente é consultar sempre um cirurgião plástico especialista para que ele oriente o tratamento mais adequado para o seu caso e indique, se necessário, outro(s) profissional(is) da sua confiança caso ele próprio não tenha experiência com o tipo de terapêutica mais indicada. O paciente precisa ter em mente que é muito arriscado inverter a sequência correta de qualquer tratamento médico, ou seja, em primeiro lugar consultar o especialista, expor a ele seus anseios, dúvidas e expectativas, e seguir o tratamento que este entender ser o melhor para o seu caso.
Infelizmente, por força da publicidade enganosa e má orientação, o que se vê é que as pessoas, muitas vezes, antes do médico, procuram o procedimento, caindo num esquema de “tratamento” em que o mais importante passa a ser o comércio do produto e o benefício atribuído a ele pelo comerciante e não a real necessidade do paciente. Isso acaba ocorrendo por que dessa forma a função do médico como orientador do diagnóstico e terapêutica está descaracterizada e enfraquecida. Nessa relação distorcida, o terapeuta assume o papel de mero objeto executor do procedimento eleito pelo paciente como o ideal baseado em informações próprias, obtidas geralmente através de propaganda, sites ou informações de outrem sem qualquer embasamento científico. Essa é a melhor receita do insucesso, portanto nada recomendável por quaisquer profissionais responsáveis.
* Pedro Alexandre Martins é médico cirurgião plástico em Porto Alegre. E-mail: drpedroalexandre@bol.com.br
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