A denúncia de que o Banco Safra dobrou a taxa de juros de empréstimos combinada com uma rede de lojas de Campinas (SP) chegou ao Banco Central. Uma representação foi aberta pela família Gobbo, dona da franquia de calçados Bootco, em setembro de 2011. Em entrevista ao Congresso em Foco, um dos sócios, Carlos Augusto Gobbo, disse que não obteve nenhum esclarecimento do Banco Central ou mesmo do Safra até o momento.
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Em nota, o BC disse ao Congresso em Foco que não se manifesta sobre denúncias feitas por clientes, mas garantiu que fiscaliza o mercado para evitar fraudes. “O Banco Central (…) monitora continuamente a atividade das instituições financeiras, adotando as medidas necessárias à correção de eventuais condutas irregulares por elas praticadas.” A assessoria do banco disse que é o próprio Safra que deveria esclarecer as denúncias.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) disse que não poderia comentar o assunto. Mas a assessoria de imprensa disse que eventuais fraudes cometidas pelo Safra não indicam uma prática comum entre os bancos. “De uma maneira geral, isso não é uma prática de mercado”, afirmou.
O Safra não quis responder às acusações. À Justiça, disse que os juros cobrados eram os de mercado, desqualificou a denúncia de sua ex-gerente, afirmou que a perita judicial fez apenas “exercícios matemáticos” ao considerar inexistente a dívida contra os empresários, e disse ser normal que os contratos fossem assinados em branco e as taxas de juros efetivas só fossem conhecidas depois do acerto com os consumidores.
Reclamações
O Banco Safra foi alvo de 75 reclamações fundamentadas de janeiro de 2011 até fevereiro passado, segundo levantamento do Congresso em Foco com base em dados do Banco Central. Entre as queixas, há três referentes à concessão de crédito sem título adequado com “documentação falsa”. Outra reclamação tem a ver com empréstimos feitos com ausência de documentos. Juntas, as quatro queixas ficam em quarto lugar no ranking de reclamações contra o Safra.
Como revelou ontem o Congresso em Foco, uma família de lojistas de Campinas trava uma batalha na Justiça contra o Safra. Empréstimos que antecipavam vendas feitas no cartão de crédito pela loja eram baseados em contratos assinados em branco. Depois, por ordem da Justiça, como depôs uma ex-gerente da instituição financeira, os documentos eram assinados com data retroativa. A surpresa vinha aí: as taxas cobradas eram o dobro do valor combinado com o cliente, segundo a acusação.